Terminada a temporada 2017/2018 para as equipes do Sesi/Santo André e do Vôlei Bauru, a manhã desta sexta-feira marcou oficialmente o início do projeto Sesi/Vôlei Bauru. Um evento com muita pompa, concorrido, com toda a sorte de personalidades e correntes políticas — vale lembrar que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é pré-candidato ao governo paulista.
Palanque à parte, o esporte bauruense tem muito a comemorar. Foram apresentados detalhes do novo ginásio, que será erguido na unidade Sesi do Horto Florestal — onde fica a escola, aliás, que hoje recebeu o nome do professor Duda Trevizani, outro momento do evento.
Com capacidade para cinco mil espectadores, o ginásio terá projeto pronto até julho, início das obras no final de outubro deste ano e previsão de inauguração em setembro de 2019. O custo estimado é de quinze milhões de reais. Terá também salas de fisioterapia, musculação, enfermaria, lanchonete e área externa para food trucks, além de espaços destinados à imprensa.
Novo treinador
Durante a cerimônia, foi apresentada a comissão técnica do Sesi/Vôlei Bauru, encabeçada por Anderson Rodrigues. Quando jogador, o campeão olímpico foi o primeiro capitão da primeira equipe apoiada pelo Sesi, em 2009. Ao CANHOTA 10, o novo treinador afirmou que o objetivo para a próxima temporada é brigar pelo título paulista e chegar, no mínimo, às semifinais da Superliga. E enalteceu que uma equipe que aposta em categorias de base pensa em continuidade. Até 30 de junho o novo elenco profissional será apresentado.
A permanência de Tifanny
Presente ao evento, a oposta Tifanny não chegou a ter sua presença anunciada, tampouco falou-se oficialmente sobre sua renovação. Muito requisitada pelos presentes, teve um momento reservado com Skaf, quando tiraram fotos. Ao repórter Luiz Lanzoni, da TVC Bauru, o vice-presidente do Vôlei Bauru, Adriano Pucinelli, confirmou a renovação.
Terminou a sequência dos cinco jogos dificílimos do Vôlei Bauru contra os times da ponta da classificação da Superliga feminina 2017/2018. Cinco derrotas, mas com três pontinhos preciosos em partidas decididas no tie-break. A última, contra o Barueri (25/20, 22/25, 25/15, 19/25, 13/15), na noite desta sexta, a mais doída, pois a equipe jogou bem, abriu 2 a 1, mas permitiu a virada. E segue sem vencer um tie-break…
Como diagnosticou o próprio técnico Fernando Bonatto ao microfone do repórter Chico José (Jovem Pan News), a equipe vem se comportando bem taticamente, mas não está sabendo decidir as jogadas cruciais e, consequentemente, fechar as partidas. No quinto set, foram três contra-ataque desperdiçados quando o placar marcava 13 a 13.
Mais uma vez, Tifanny foi muito acionada: 53 vezes, o dobro de Palacio (26). Isso, evidentemente, aumenta a chance de erros e a camisa 10 falhou nos lances decisivos da última parcial — momento em que, é sabido, está mais desgastada. Nada que desabone sua atuação, afinal, foram 36 pontos (e aproveitamento de 62% no ataque)! Parece mais uma questão tática, de depender menos dela e ter mais variedade ofensiva. Pelo lado do Barueri, a polonesa Skowronska anotou 24 pontos (acionada 41 vezes, aproveitamento de 59%). Vale destacar o retorno da central Thaísa, após dez meses de recuperação.
Agora, o Vôlei Bauru soma 26 pontos, podendo chegar no máximo a 31, mesma pontuação do Fluminense. Isto é: esqueçam o sexto lugar, pois o time carioca também tem dois jogos a disputar, um deles contra o lanterna Sesi Santo André… O São Caetano, com 22, está em nono, ameaça a classificação bauruense e haverá confronto direto na última rodada. Portanto, é bom as gigantes resolverem a parada antes, vencendo Valinhos na penúltima rodada.
Nesta segunda, dia 19/fev, às 21h, estreia o programa ENTREVISTA 10. Começo entrevistando Paula Pequeno! Você pode acompanhar em live na fanpage do CANHOTA 10 ou pelo Canal Universitário (canal 14 da NET). A atração é uma parceria com a TV FIB.
Dois dias após a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) ratificar que continuará seguindo a determinação do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre a participação de atletas transgêneros no vôlei feminino — o que mantém a oposta Tifanny apta para atuar —, o Vôlei Bauru encara a primeira de uma série de cinco partidas cruciais na Superliga 2017/2018.
A sequência contra as equipes líderes começa nesta sexta contra o Minas (terceiro colocado), às 20h, em Belo Horizonte. No dia 30 (terça), as gigantes recebem o líder Praia Clube, às 19h30. Dia 2, visitam o Osasco (hoje quarto lugar) e dia 7 mandam jogo em Marília contra o vice-líder Sesc Rio. Tem mais: dia 16, confronto direto com o Barueri por um importante sexto lugar, como expliquei dia desses que deve ser a meta bauruense.
Além de determinante para os anseios bauruenses, essa sequência de jogos coloca Tifanny à prova. Afinal, a hoje melhor pontuadora da competição (5,2 pontos por set) só havia enfrentado um oponente acima do Vôlei Bauru na tabela (Fluminense). A tendência é que essa média, que tanto tem assustado os que se opõem a sua participação — apesar de estar apenas três décimos acima da média de Tandara — diminua após os difíceis confrontos. Mas, se a oposta for ainda mais acionada e tiver bom aproveitamento, pode aumentar essa média e manter viva a polêmica ao seu redor.
O curioso dessa situação é que chego a torcer para os números de Tifanny baixarem um pouco para a poeira baixar também. A pressão sobre a camisa 10 está muito grande, tanto que adotou o silêncio nas últimas semanas diante dos inúmeros pedidos de entrevista que têm chegado à assessoria do time.
A participação de Tifanny, oposta do Vôlei Bauru, na Superliga feminina de vôlei, segue rendendo debates. Primeira transexual a atuar na elite do vôlei brasileiro, ela está no olho do furacão de uma discussão que só iria mesmo acontecer quando a liberação pela FIVB tivesse uma situação concreta como exemplo. Portanto, Tifanny é pioneira, mas é vidraça também. Igualmente o presidente de seu time, o advogado e empresário Reinaldo Mandaliti, que falou ao CANHOTA 10 sobre a polêmica e contou detalhes, como o fato de ceder amostras de sangue da jogadora com muito mais frequência do que aCBV (Confederacão Brasileira de Vôlei) exige. Abaixo, em tópicos:
POLÊMICA “Esse assunto já está passando um pouco dos limites. Ver técnico de voleibol que xinga atleta adversária dentro de quadra, falar que ela é diferente… Se ela estivesse fazendo dez pontos, ninguém estaria reclamando. Veja quantas bolas a Tifanny recebeu e quantos pontos fez [nota do editor: ela tem aproveitamento de 46%, não figura entre as principais neste quesito]. A Tifanny tem aspecto físico maior, mas ela tem dificuldade motora numa largada, sofreu um ponto de saque em que foi passar por trás e não viu a bola… Ela fica no bloqueio várias vezes, no terceiro set cai de produção. Esse é o efeito da saída da testosterona do corpo. Ela tem 33 anos e o efeito da redução de testosterona cada vez a prejudica mais. É isso que as pessoas têm que entender.”
COMPARAÇÕES “Quando a Tifanny diz que é só uma mulher forte, eu tenho essa certeza também. Ela não é mais jogadora do que a Tandara, do que a Natália, a Gabi. Na China, há uma menina de 17 anos [Yingying Li] fazendo mais de quarenta pontos. Hoje, a segunda melhor atacante da Superliga é a Bruna Honório, que jogava aqui ano passado. Fez 25 pontos em um jogo. Eu quero mais é que a Bruna faça quarenta pontos, é uma atleta exemplar. Eu não estou preocupado se vou ser campeão ou não com a Tifanny. Há muitos times mais fortes do que o meu, mesmo com Tifanny e Paula Pequeno. Por que ninguém fala de limitar o orçamento do Praia Clube? Para sermos justos, vamos começar pelo dinheiro, não pelo ser humano. O dinheiro é fácil, um bem material. Mas e o ser humano? Vamos parar de demagogia e permitir que as pessoas circulem no meio da responsabilidade social. Não ficar procurando picuinha para justificar por que perdeu para Bauru. Gente, nós quase perdemos para o Sesi [lanterna da competição]. Perdemos para o São Caetano, em casa, com a Tifanny em quadra.”
DENTRO DA LEI “Falam sobre ela ter feito sua construção óssea à base de testosterona e só ter feito redução aos 28 anos. As pessoas não conhecem a lei, porque aos 18 ninguém pode mudar nada em seu corpo [somente a partir dos 21]. A não ser que seja emancipada pelos pais. E com 18 anos o corpo humano está formado! As pessoas ficam dizendo muita besteira em vez de pensar no ser humano. Têm que parar com homofobia. Esse discurso da vantagem física mascara o preconceito.”
EXAMES FREQUENTES “Porque o médico da Conamev [Comissão Nacional de Médicos do Voleibol], que foi macho para falar no Esporte Espetacular, não tirou a bunda da cadeira e veio aqui entrevistar a Tifanny? Quem levou todos os exames para a CBV fui eu. Mando fazer exames a cada quinze dias. A Tifanny não tem evolução de testosterona, só diminui o nanomol por litro [unidade de medida da testosterona no corpo; o limite é 10, ela tem menos de 1]. Só que ninguém vem a Bauru, nós é que estamos informando.”
DIÁLOGO “Em vez de as pessoas falarem besteira, que venham olhar, acompanhar, fazer um estudo. Minha grande preocupação é a desinformação e a forma como estão levando essa história. Não é assim que se discute. Se a CBV quer discutir, que convoque uma reunião, com médicos, treinadores, jogadoras. Vamos discutir, olhar estatísticas. Se for injusto, ok, vamos limitar ou excluir, não há problema nenhum para Bauru.”
NOVOS TEMPOS “Estamos vivendo num mundo diferente, as pessoas são livres para tomar suas decisões. Mas como tirar um direito, se hoje no mundo discutimos identidade de gênero? A discussão hoje é outra. Discutimos a evolução do ser humano. Ninguém vai voltar no tempo. Esquece, isso não vai acontecer. As pessoas não toleram mais esse tipo de coisa.”
POSSÍVEL PROIBIÇÃO “Eu não tenho temor nenhum. Acho que vai haver mudanças, mas não acho que o caso Tifanny vai mudar. Porque havia uma regra que tinha que fazer a cirurgia de adequação sexual. Agora, aumentou a possibilidade, não precisa mais fazer a cirurgia, apenas estar dentro do limite de nanomol por litro. O que pode acontecer é retroagir, voltar a ter que fazer a cirurgia [que Tifanny fez]. Não me sinto preocupado, até porque ela tem o direito adquirido de disputar a temporada. Qualquer mudança não vem para agora, qualquer juiz dá uma liminar, ela tem o direito de exercer a profissão que permitiram por uma lei. Como se dá um direito depois tira?”
OPORTUNIDADE “Quando o Vôlei Bauru abriu as portas para ela treinar, primeiro eu estava fazendo algo por um ser humano. Lógico, a partir do momento que ela estava dentro de uma lei que disciplina. O primeiro princípio, antes de ser esportista, é preocupar-se com o próximo. Só que algumas pessoas do esporte não se preocupam com isso. A Tifanny ficou sem clube na Itália por causa de uma contusão, veio aqui para se recuperar. Vou deixar de dar uma condição a uma atleta, que já passou por todo o preconceito na vida? Ficar excluída? Desculpe, eu sou ser humano.”
O Vôlei Bauru faz sua primeira partida de 2018 em casa, na Panela de Pressão, nesta terça (9/jan), às 18h30, contra o Brasília. O objetivo é manter-se no G-8 da Superliga feminina — ocupa hoje exatamente a oitava posição. Mas é possível sonhar melhor: com a sexta posição.
Explico. Terminar em oitavo significa pegar de cara o praticamente imbatível Praia Clube nas quartas — tchau, sonho da semifinal. Em sétimo, o também fortíssimo Sesc Rio. Para sonhar com uma inédita (e histórica) semifinal de Superliga, o sexto lugar colocaria as gigantes no caminho de Osasco ou Minas nos playoffs, duas equipes contra quem tiveram jogos mais parelhos nesta temporada. No popular: dá jogo.
Por que o sexto lugar é possível? Vejamos. O Vôlei Bauru tem 17 pontos. Barueri (sexto) e Pinheiros (sétimo) têm um pontinho a mais. E ainda haverá confronto direto com o Barueri. Na caminhada até o fim do returno, além desta partida contra o ex-time de Paula Pequeno (vencer ou ganhar!), faltam Sesi Santo André (3 a 0 obrigatório), depois aquela sequência complicada que, convenhamos, perder no tie-break para arrancar um pontinho já será lucro — Minas (fora), Praia (casa), Osasco (fora), Rio (casa) e Barueri (fora) —; por fim, mostrar força de quem aspira algo mais se impondo contra Valinhos e São Caetano, mesmo ambas longe de Bauru.
Nessa sequência, certamente Tifanny estará ainda mais entrosada e poderá manter a condição de maior pontuadora da Superliga — o que, obviamente, levanta mais questionamentos sobre sua presença no vôlei feminino. Mas ela está apta diante das regras estabelecidas. Ponto. Podem questionar CBV, FIVB, COI, critérios adotados para a inclusão de transexuais, mas não a jogadora — sobre sua trajetória, sugiro a leitura da entrevista que fiz para o site de Veja, que teve repercussão nacional.