“Na quarta-feira anunciamos o novo treinador. E a torcida vai gostar”, disse o vice-presidente do futebol do Noroeste, Reinaldo Mandaliti, ao ENTREVISTA 10 da última segunda-feira. Feito. O clube anunciou hoje pela manhã Betão Alcântara como novo técnico. E todos gostaram mesmo. Era sonho antigo, é um rei de acessos.
A contratação mostra que a diretoria alvirrubra segue firme no propósito de tirar o Norusca desse patamar de terceirona. Pelo segundo ano seguido, contrata o treinador atual campeão da Série A3. Betão acabou de ganhar o título pelo Atibaia, um time de torcida diminuta e que atuava em outra cidade. Que ignorou camisas pesadas como a do próprio Noroeste (nas quartas) e da Portuguesa Santista (na final), que tinha melhor campanha.
Com 56 anos, vinte de carreira, Betão poderia dar um salto, disputar a Série A2 — pelo próprio Atibaia ou pelo Rio Claro, onde foi sondado —, mas acreditou no projeto noroestino. E sua chegada, agora, a mais de seis meses da próxima temporada, indica que o trabalho para a Copa Paulista ambiciona o cenário nacional — o título dá vaga à Série D.
O homem entende de acesso: em 2015, levou o Fernandópolis da Bezinha à Série A3; em 2016, subiu o Rio Preto da terceirona para a A2; e agora esse título com o Atibaia. O negócio é depositar confiança em Betão e deixá-lo trabalhar. Isso vale para todos: diretoria, imprensa e torcida. A paciência não é hábito na comunidade alvirrubra. Que tudo dê certo dessa vez.
Confira como foi a conversa com o vice de futebol, Reinaldo Mandaliti, ao ENTREVISTA 10:
Uma chuvarada acompanhou a coletiva de apresentação do novo técnico do Noroeste, Marcelo Sangaletti. Vinda pra mandar embora aquele calorão e, tomara, irrigar uma colheita de vitórias. O ex-jogador, que estava bem à vontade dentro de seu blazer bem cortado, mostrou entrosamento com seu novo chefe, o agora diretor de futebol Emerson Carvalho — não à toa, ambos foram zagueiros em suas carreiras —, enquanto esperavam a chegada do presidente Estevan Pegoraro, vindo de outro compromisso.
Feitas as honras da casa, Sangaletti agradeceu a confiança em seu nome e foi categórico: a tradição do Noroeste pesou na sua decisão. Topou na hora e o fator salarial não foi quesito fundamental. Ele buscava uma oportunidade para começar sua carreira de treinador, mas não estava disposto a submeter-se a esses times artificiais que fazem a alegria dos empresários. Precisa que seus primeiros passos sejam notados, um plano de carreira cuja vitrine o Norusca pode oferecer.
A seguir, trechos da entrevista coletiva concedida por Sangaletti (45 anos, casado, pais de três filhos), dono de uma fala articulada e acentuada pela pronúncia inconfundível das consoantes T e D — no caso dele, nativa de Dois Córregos.
NOROESTE É TRADIÇÃO
“O Emerson foi meu primeiro contato. Agradeço por ele confiar naquilo que eu plantei, desde que saí criança de Dois Córregos: dignidade e honestidade. Aquilo que eu conquistei ficou pra trás e agora é um novo trajeto que tenho que percorrer. Fico feliz de o Estevan ter aceitado minha vida pra cá e lisonjeado de estar aqui, no Noroeste, uma equipe de tradição, da região onde nasci. 106 anos é uma história e tanto. Por isso que eu vim, pelo nome do Noroeste. As dificuldades existem, mas estou pronto para encarar o que vem pela frente e, quem sabe, montar uma bela equipe e sair campeão da Série A3 2017.”
COMO SERÁ O SANGALETTI TREINADOR
“O novo treinador de futebol tem que ter conhecimento da atualidade e noção de como lidar com pessoas. A gestão é superimportante. Não só conhecimento dentro de campo, mas de pessoas também. Fiz vários cursos de gestão esportiva, de desenvolvimento pessoal. Ainda jogador, eu me qualifiquei para voltar ao futebol como treinador ou gestor. Eu me atualizei, o futebol é bem diferente hoje do que era antes. Não adianta só trazer a bagagem dos tempos em que eu jogava, não vai dar certo. Eu estava preparado para aceitar. Avisei ao Emerson que estava tranquilo e pronto para começar. Topei o desafio. Já fiz reunião com a comissão, quero fazer uma gestão contemporânea e não centralizadora. Ninguém consegue nada sozinho. A gente vai buscar o quanto antes alinhar os profissionais que estão chegando para conseguirmos os resultados.”
DESCONFIANÇA POR SER NOVATO
“Vivenciei o futebol por 20 anos dentro do campo. Eu passei por várias etapas, de jogador da base a gestor. Pulei a etapa de treinador, mas lidei com o outro lado. Aprendi a parte política, de organização. Estudei e compartilhei o que aprendi com os amigos no curso [da CBF] e apliquei treinamento lá, na prática. Junto com Micale [treinador campeão olímpico], o Chamusca… Não tenho medo de errar, todo mundo erra. Eu posso ser campeão ou sair derrotado e tenho a tranquilidade para poder aplicar o que eu acredito. É difícil, eu vou ter que avaliar muito rápido quem vai chegar. Mostrei para a comissão que nós vamos montar o treinamento, não eu. Vamos mostrar os treinamentos bem antes, vamos planejar, vai ser bem feito. Na hora de aplicar, como vai ser? Eu vivi lá dentro, fui líder. Tenho noção, mas ainda não estive desse lado. Vai ser uma surpresa e espero que positiva, pra vocês e pra mim também.”
MONTAGEM DO ELENCO
“O perfil é de atletas que assimilem rápido o que você exige. O futebol não é mais lento, ocioso. A partir de hoje, vão começar a chegar vídeos de atletas, informações de treinadores… Se você tem uma equipe montada, você avalia e coloca algumas peças. No nosso caso, temos que montar um elenco, colocar em campo, ver no que vai dar e as peças que faltam.”
QUAL ESTILO DE JOGO?
“Para ter um estilo de jogo, tem que ter os atletas, encaixar o perfil. Todo mundo gosta de jogar como o Barcelona, se tiver jogador de qualidade, transição, com toque de bola perfeito… Mas a Série A3 é velocidade, transição rápida e vou procurar dentro desse perfil trabalhar um pouco mais a parte técnica. Pedi para o Emerson ver com carinho a bola parada, que muda um jogo truncado. Vou ter que olhar atleta por atleta, e guardar uma cinco ou seis vagas para, dentro de uma necessidade, buscar um atleta com perfil para somar na equipe pronta. Eu adoro jogar pelos lados e com muita velocidade, mas se eu não tiver esse atleta, vou ter que adaptar de outra maneira.”
TÉCNICOS INSPIRADORES
“Eu trabalhei com uns 60 treinadores, estou ficando velho… O Ricardo Gomes é um exemplo de caráter, de postura correta. Carlos Alberto Silva, que foi campeão [brasileiro em 1978] no Guarani , era um baita treinador de sua época. Trabalhei com o Parreira no Santos, o Nelsinho Baptista no Corinthians. O Celso Roth trabalha muito a bola parada. Tenho que pegar a característica boa de cada um. Mas do Muricy fui muito próximo, eu era um cara de confiança dele e discutia a tática. Brincavam que eu ia tomar o lugar do Tata, o auxiliar dele. O Muricy, naquela época, estava muito acima dos demais. Hoje, eu vejo no Tite a excelência como treinador no Brasil.”
COMISSÃO TÉCNICA
“Estou conversando com o Emerson sobre as carências e exigências. Temos que ter um preparador físico capacitado, com noção de fisiologia. Algumas peças precisamos, mas vou contar com todos os profissionais que já estão aqui.”
Acabou a procura: treinador de 62 já assume o time no sábado, contra o Mogi Mirim
O Noroeste tentou Comelli, Toninho Cecílio, mas recuou diante do alto salário pedido. Por fim, ficou com o experiente treinador Lori Sandri, 62 anos, inativo há um ano, quando deixou o comando do Santa Cruz-PE. Assim que soube da demissão de Luciano Dias, Lori enviou um representante para falar com a diretoria noroestina. Uma coisa é certa: o homem está com vontade de trabalhar.
Volante nos tempos de jogador, fez carreira no futebol paranaense – atuou, entre outros, no Atlético e no Pinheiros (atual Paraná Clube). E foi no Pinheiros que iniciou sua carreira como treinador, em 1976.
Lori Sandri coleciona títulos importantes, mas vale aqui uma ressalva. O título de Taça de Prata de 1983 (e não 1982) que contabiliza no currículo (de acordo com a nota da assessoria de imprensa do Noroeste) é, na verdade, a vitória do Botafogo-SP no Grupo J daquela competição. O triunfo, na verdade, é que vencer essa etapa significava disputar o Brasileirão Série A no mesmo ano. O campeão da segunda divisão do Brasileiro em 1983 foi o Juventus-SP.
Enfim, há boas conquistas no currículo de Lori. Naquele mesmo ano de 1983, assumiu o Atlético Paranaense com elenco desfigurado – com o terceiro lugar no Brasileirão, as estrelas foram negociadas, como o goleiro Roberto Costa e o casal 20 Washington e Assis – e conseguiu ganhar o Estadual, batendo o rival Coritiba nas finais.
Comandando zebras, destaque para o Campeonato Gaúcho de 1998 pelo Juventude e o vice estadual de 2001 pelo Botafogo. Há ainda bons momentos no mundo árabe e um vice-campeonato da Série B de 1995, com o Coritiba – que valeu acesso à Série A, numa época em que só dois subiam. Seu último título de expressão foi o Gauchão de 2004, com o Internacional, mas durou pouco no cargo depois disso, com a queda do Colorado na Copa do Brasil.
Opinião do Canhota 10: é o famoso “professor”. Tem currículo e é calejado o suficiente para dominar o ambiente no vestiário. E, fuçando aqui e ali, encontram-se muitas notícias de frases polêmicas, processos e discussões via imprensa com jogadores, o que significa que, pacífico, Lori Sandri não é. Que chacoalhe o elenco noroestino.