Texto publicado na edição de 19 de dezembro de 2011 no jornal BOM DIA fala sobre como o Santos assistiu à final de dentro do campo
Geração videogame
De tudo o que vi e ouvi durante a transmissão da final do Mundial de Clubes, a informação que não saiu da minha cabeça foi a de que Neymar é fã do zagueiro Puyol. Não por sua qualidade como zagueiro no gramado, mas no videogame! E a partida entre Santos e Barcelona pareceu mesmo uma disputa virtual, no modo “hard” (difícil), quando você joga contra a máquina e não consegue tocar na bola… Pareceu também que os jogadores do Peixe estavam admirando, dentro de campo, aqueles que protagonizam sua diversão no quarto do hotel, os heróis do joystick. A verdade é que todos nós admiramos – e o menino Neymar mostrou maturidade ao reconhecer a aula de futebol que recebeu.
Assim que o Brasil perde uma partida de Copa do Mundo, começa o esforço coletivo para explicar a derrota. Para entender o vice santista, não é preciso tanto. O Barcelona é de outro planeta, de uma perfeição no trato com a bola jamais vista nas últimas décadas. Não vi a seleção holandesa de 1974, mas imagino que era algo próximo disso: uma dinâmica troca de posições e entrega em campo até o apito final. O Barça vence por 4 a 0 e continua marcando pressão, incomodando a saída do adversário. Messi é tão operário quanto o cascudo Mascherano, não para nunca.
Se faltou mais atitude ao Santos, foi nas poucas vezes em que esteve com a posse de bola. Porque roubá-la do Barcelona é mesmo missão quase impossível. A impressão é de que se fica zonzo com tamanha movimentação. Nada é previsível, não se sabe para onde correr, quem marcar. Os próprios jogadores alvinegros reconheceram em entrevistas pós-jogo o quanto se desdobraram em vão.
Há o que criticar? Claro que há. E não é na base da corneta, como muitos cronistas fizeram nas redes sociais. O Santos Futebol Clube, tricampeão da América, merece todo o respeito.
O equívoco do Muricy
O Santos entrou em campo com um esquema tático equivocado, com três zagueiros em linha. O segredo estava em pressionar lá na frente e não aguardar que o Barcelona chegasse, com toda sua qualidade, na cara do gol santista. Com isso, ficou com um meia a menos para tentar criar com a migalha de tempo de posse de bola que teve (29%). Quando Elano entro no lugar de Danilo, o esquema ficou torto e os zagueiros continuaram lá…
Vacilão
Durval foi de uma apatia irritante. Eu sempre defendi o zagueiro santista em conversas, pelo ótimo histórico no Sport Recife e pela temporada 2010 irretocável ao lado de Edu Dracena. Este ano, mesmo com alguns vacilos, fez uma honesta Libertadores. Ontem, entretanto, o camisa 6 santista parecia um poste. No primeiro gol, a bola desviou nele antes de chegar a Messi. Não houve reação, ele parou para admirar a conclusão do argentino. No segundo, o cruzamento de Daniel Alves passou por ele, que ficou caminhando enquanto Xavi concluía. Preferiu pedir impedimento (duas vezes!) no terceiro gol a tentar roubar a bola. O último golpe catalão também contou com a caminhada durvalina enquanto Messi arrancava sobre Rafael. Não que seja o vilão da derrota – há sim heróis grenás –, mas certamente foi o maior destaque negativo.
3-7-0
Sempre me irritaram as definições táticas fatiando o gramado em quatro setores, como o famoso 4-2-3-1 que a Espanha consagrou na última Copa do Mundo. Temos defesa, meio-campo e ataque, certo? Enquanto não inventarem um nomo para esse “quarto setor”, para mim a Fúria ganhou o Mundial no 4-5-1. Mas até na tática o Barcelona dá um nó nos analistas. Muricy falou em 3-7-0, mas como dizer que um time que faz quatro gols não tem atacantes? Na verdade, é uma espécie de 3-4-3, mas sem peças fixas. A cada ataque, são três jogadores diferentes na frente. E como botar no papel? Tem que escolher… Os que mais ficaram avançados foram Daniel Alves, Messi e Fàbregas.