Jefferson William está de volta ao Bauru Basket. Finalmente anunciado, o ala-pivô retorna à Cidade Sem Limites depois de uma temporada discreta pelo Sesi/Franca, cuja negociação, à época, foi bastante controversa. Dessa vez, foi conduzida de forma “supertranquila”, segundo o jogador. O contrato é de uma temporada.
Curtindo férias com a família nos Estados Unidos, Jé falou brevemente (e com exclusividade) com o CANHOTA 10:
A identificação com Bauru “Bauru é um time onde conquistei amigos, títulos, a cidade onde meu filho nasceu… Sempre tive e vou ter um carinho e, na hora de decidir, isso pesou demais! Fui muito feliz aqui e tenho certeza que vou continuar sendo nessa minha volta.”
A decisão do retorno “Conversei com o Demétrius. Tudo pesou na decisão: o Dema, o elenco, a cidade, a torcida, a diretoria…”
Novo colega de garrafão “Estou animado para jogar com o Lucas Mariano, um excelente e experiente pivô. Vamos fazer uma bela dupla, tenho certeza.”
Gabriel Jaú “Gosto muito do Jaú. Era um garoto quando começou com a gente e agora já adquiriu uma grande maturidade. Fico feliz de fazer parte da formação de um excelente jogador. Vamos fazer uma grande dupla também, será um prazer jogar com ele novamente.”
Quando entrevistei o presidente Beto Fornazari, no dia 21 de maio, perguntei sobre o interesse por Larry Taylor. O Alienígena, entretanto, estava em disputa das #finaisNBB por Mogi (derrotado neste sábado pelo Paulistano, campeão) e guardei as aspas. Terminado o NBB, segue a resposta do dirigente sobre o eterno camisa 4 bauruense:
“Larry é um sonho de todos, meu também. O Larry é para mim a prioridade zero. Se perguntarem quem eu quero contratar, quero o Larry. Não vou esconder isso de ninguém. Sempre foi, não queria que ele fosse embora. Ele foi porque pediu. Eu vejo o Larry jogar por Mogi e fico feliz e triste ao mesmo tempo. Está feliz lá, Mogi renovou com o patrocinador, acho difícil o Guerrinha liberar. Não fazemos plano pelo Larry, mas pode ter certeza de que, se ele der uma brecha e houver uma situação que a gente consiga viabilizar a volta, vamos fazer. Daí a falar que o Beto está assediando, não… É que para ele a porta está aberta. Gostaríamos muito que ele voltasse. A torcida de Mogi deve idolatrá-lo também e a gente entende isso.”
Como prometido, após a proveitosa entrevista com o presidente Beto Fornazari, chegou a vez do papo com o diretor técnico Vitinho Jacob. Já há algumas temporadas acompanhando a rotina dentro da quadra, o dirigente traz um relevante olhar sobre o desempenho do time, elucida questões da Liga Nacional (onde também é diretor) e revela algumas curiosidades — pedi a ele para elucidar especulações de anos anteriores. E ainda revelou alguns desejos para o novo elenco, enfatizando que não necessariamente estão em conversas. Enfim, boa leitura garantida!
Como de costume, começamos com o balanço da temporada. “A temporada foi planejada para ser construída aos poucos. Fizemos um primeiro turno muito bom. Da Liga das Américas saímos precocemente, poderíamos estar no Final Four. Ainda mais da maneira que foi: vencemos o Guaros, melhor time do grupo, e acabamos perdendo dois jogos ‘ganháveis’ contra os times argentinos. O primeiro contra os donos da casa, mais empolgados, mas não eram tudo isso; e contra o Estudiantes, estávamos com o controle do jogo e acabamos perdendo. Essa eliminação foi muito dolorida, sentimos muito. Provavelmente, até arrastamos isso um pouquinho pra cá, nosso segundo turno no NBB foi muito abaixo da expectativa, a mudança de calendário foi ruim, as lesões… O sexto lugar [na fase de classificação] foi abaixo das nossas expectativas.”
Aí o trabalho do Demétrius foi de novo contestado. E de novo ele deu a virada nos playoffs e se tornou unanimidade. “As mídias sociais são ingratas. Quando a gente ganha, tudo certo; quando perde, tudo errado. Sempre disse isso, ‘vamos esperar o fim da temporada.’ São três finais consecutivas de NBB e um quase, na última bola. Temos que aprender a absorver as críticas, afinal, os torcedores querem o melhor do time. Mas quando durante os jogos reclamam de uma substituição, por exemplo, não entendem que existe uma estratégia que o treinador monta. Não dá para cinco jogadores atuarem quarenta minutos sem descansar nem fazer faltas. Mas paixão é isso aí. Temos que ouvir o que é bom para ser melhorado e não deixar os elogios subirem à cabeça.”
Você é de dentro do vestiário, viaja junto. O que pode falar do perfil desse grupo? “A saída do patrocinador máster [Gocil] atrapalhou muito a montagem do time. Alguns acabaram saindo e houve uma reformulação maior do que normalmente se faz num time campeão. Mas a equipe foi bem montada, dentro das circunstâncias. No início, não ganhou nenhum jogo-chave, mas sabíamos que ia encaixar, mas demorou um pouquinho e gerou certa desconfiança. O grupo se fechou e, com o trabalho da comissão técnica, muita conversa, muito treinamento, as coisas foram se engrenando. Perdemos o Alex…”
Houve situações que o plano de jogo foi alterado em cima da hora… “Num jogo contra Franca, aqui, ficamos sem o Rafal [Hettsheimeir] e o Alex no treino da manhã. Depois jogamos Liga das Américas sem eles. Fomos castigados por isso. Mas o perfil do grupo é vencedor e mostraram isso quando foi preciso. O playoff contra o Vasco foi muito difícil, eles queriam reverter a situação da temporada ruim. Conseguimos nos impor. Contra Franca, tivemos a felicidade de ir bem nos três jogos. E contra o Paulistano, conseguimos jogar no nosso limite, passando dele, até.”
Minha percepção é que o Rafa assumiu a liderança técnica do time, o Duda assumiu riscos (errando ou acertando, não se omitiu) e o Jaú já é uma realidade. Foi por aí? “O Rafa e o Jaú foram bem consistentes mesmo. O Kendall [Anthony] teve mais volume nos playoffs — e assim ele rende mais —, e o Duda e o Isaac fizeram bons jogos alternadamente. A defesa encaixou bem a zona. O Stefano ajudou bem quando entrava. O Shiltão, quando entrava embaixo, resolvia nosso problema na defesa. Ele pontua nos playoffs, é uma característica dele chamar o jogo. O Matulionis é que acabou não rendendo muito.”
Essa ‘experiência lituana’ foi pioneira não só em Bauru, mas na Liga. Mas foi uma adaptação difícil. Europeu nunca mais? “Pelo contrário.”
Pergunto porque já não havia funcionado o Jason Detrick… “A adaptação ao jogo é realmente um problema. Na Europa, é mais cadenciado, cinco contra cinco. Mas nunca mais, não, só temos que ter mais cautela nas próximas escolhas.”
Em relação à Liga, onde você é diretor técnico: qual a tendência para NBB 11, em relação a quantidade de times? “Eram quinze clubes, caíram dois, sobe o campeão da Liga Ouro. Então, a princípio serão quatorze. A Liga vai ter um período, normalmente até o final de julho, para os clubes apresentarem as garantias financeiras. Quando há duas divisões, não pode mais haver convites.”
E como o Caxias, rebaixado no NBB 9, pôde disputar? “Isso aconteceu naquele momento em que a CBB [Confederação Brasileira de Basketball] havia pedido para organizar a segunda divisão. A Liga cedeu, mas a CBB acabou não organizando. Foi uma sorte tremenda do Caxias nesse meio tempo. Como a Liga iria deixar um filiado disputar um campeonato que era um incógnita?”
Então, não haverá convites no NBB 11? “Convite não pode. Veja bem: a Liga pode decidir que o campeonato terá vinte times, por exemplo. Mas existe um critério: a classificação da Liga Ouro, do primeiro ao nono, depois Campo Mourão e Liga Sorocabana [os rebaixados do NBB 10]. Tem que seguir essa ordem. Como entrar outro clube? Comprar uma franquia que está no NBB.”
Então a Universo (que estava com o Vitória) é a bola da vez? “Exatamente! Tem a vaga e vive uma indefinição. Se eu tivesse um time e quisesse disputar o NBB, procuraria a Universo.”
Alguma chance de mudança em relação a ajuda de custo da Liga para os clubes? “A Liga foi criada há dez anos já com o intuito de dar subsistência aos clubes, pagar todas as despesas operacionais e os clubes só arcarem com a folha de pagamento. Isso é um sonho e um objetivo da Liga que até hoje não foi possível. A cada ano aumenta a receita, mas não é suficiente. Se a Liga fosse dar um milhão de reais para cada um dos quinze clubes, o que dá menos de cem mil por mês, daria quinze milhões de orçamento só para isso. Mas num futuro próximo isso poderá acontecer e poderemos evitar que clubes acabem. Esse é o objetivo.”
Voltando ao Bauru Basket. A final, se chegasse, seria em Araraquara. Por pelo menos mais um NBB o Gigantão continua na manga? “Araraquara nos acolheu muito bem, assim como Marília. A vantagem lá é que não é preciso transportar piso, o ginásio está pronto. Para as próximas oportunidades, sempre temos que conversar, enviar nova solicitação.”
Sobre o ginásio do Sesi em Bauru, há mais alguma história de bastidores? Como você soube da novidade? “Fiquei sabendo na apresentação do Skaf [presidente do Sesi], lá na sede da OAB. É fantástico ter um ginásio de alto nível, até mesmo para receber seleção brasileira, jogos internacionais, até amistosos da NBA… E finais nossas, finalmente!”
Demétrius deve ter balançado com a proposta do Flamengo, certo? Mas o mais importante disso foi mostrar o tamanho do Bauru Basket. O Dema já estava em um time grande. “Exato. O Flamengo está no Rio de Janeiro, tem torcida gigante e tem poder financeiro monstruoso. Deve ter seduzido muito, financeiramente e pela proposta de trabalho, envolvendo categorias de base. Mas nos alegra muito saber da credibilidade que conquistamos, a evolução ao longo dos anos.”
E o Dema dialoga com a base aqui também, através do Germano. Lançou Jaú, Maikão… O que esperar dos meninos na próxima temporada? “Normalmente montamos o time com oito a dez adultos e completamos com o sub-19. Temos uma molecada boa subindo, Pará, André, João Marcos, que já estão no principal, o Emanuel, o Rafael e o Malaquias…”
Mais uma vez começará o Paulista com a molecada? Ou a Sul-Americana em setembro muda esse planejamento? “Como saímos precocemente do NBB, podemos começar os trabalhos antes e iniciar o Paulista com o time principal. Mas seremos novamente ‘atrapalhados’ pela seleção: o Jaú, o Maikão e o Samuel foram convocados para a sub-21 para o Sul-Americano, que acaba no meio de julho. E na seleção principal, seguramente jogadores do nosso elenco serão convocados.”
Você mencionou o Maikão. Em que pé está essa relação? “Houve contratempos, imaturidade dele e falha de comunicação de ambos os lados. Ela agora está na Itália, no camp em Treviso, mas quando voltar vamos sentar e conversar. Eu acredito que o Maikão vai ficar por aqui. É um feeling meu, não posso cravar porque não depende só de mim. Confio muito que fique e tem tudo para fazer uma temporada exemplar.”
Você ainda participa das negociações com os jogadores? “Eu, Beto e Demétrius conversamos sobre as opções para o time, planos A, B, C… Agora, as negociações financeiras são somente com o Beto. ”
Para esclarecer para o público que gosta de acompanhar o mercado: qual a diferença entre sondagem e proposta? “É bem diferente. Fale um jogador aí…”
Betinho e Renato Carbonari. “Betinho não existiu nem sondagem. Já o Renato estava em Bauru. Perguntei ‘Qual sua intenção para o próximo campeonato? Interessaria jogar em Bauru?’ Ele disse que sim, eu disse que ia conversar internamente e fazer uma proposta. Mas não deu tempo [nota do editor: Renato deve ser anunciado no Pinheiros quando seu contrato com o Vasco acabar]. Essa é a diferença de sondagem e proposta. Você pergunta para o jogador quais os planos dele, se ele pretende mudar, se não tem mais contrato. Temos por costume aqui não abordar jogador que tem contrato em andamento.”
É nessa hora que entra a sondagem? Tipo, quando acabar o contrato a gente conversa… “Isso. O primeiro contato do Flamengo com o Demétrius foi perguntar quando acaba o contrato com o Bauru. Ele respondeu ‘Está acabando agora’ e o Flamengo: ‘Podemos conversar?’. Assim que funciona. Eu sondo o jogador e passo o contato do agente para o Beto, que começa a negociação financeira.”
Topa matar a curiosidade de especulações do passado, se Bauru realmente negociou ou não? “Tá.”
Fúlvio. “Sempre!”
Danilo Siqueira, ano passado. “Esteve muito próximo. Esse menino tem um talento muito grande.”
Aquela história curiosa do Laprovittola, para inflacionar o mercado… “Foi uma sondagem.”
O trio do fim de Limeira: David Jackson, Ronald Ramon e Deryk. “Nunca houve conversa. O Deryk foi uma vontade, mas não houve nada, nenhuma negociação. Daquele time, o Rafael Mineiro, sim, tivemos a intenção de trazer.”
E sempre se falava de gringos famosos de times da América Latina. Trey Gilder, Marcos Mata, Justin Keenan… “Esses estrangeiros sempre foram tiro n’água. Nunca houve conversas.”
É outra realidade salarial? “Tem de tudo. Alguns dentro da realidade, mas em dólar não dá nem pra conversar.”
Shamell: sempre houve o fator Larry. Verdade que ele já se ofereceu para o Bauru? “Via Larry. Mas faz tempo. O Larry dizia ‘Vamos trazer o Shamell, quero jogar com ele.’ Aconteceu mais de uma vez. Eu conversei uma vez com o Shamell, acho que estava no Pinheiros. Ele perguntou quanto eu ia pagar, eu disse que não ia falar de dinheiro com ele naquele momento. ‘Então não vamos conversar’, ele disse. Levantei e saí. Mas hoje ele é um grande amigo, até brincamos sobre isso. Foi questão de montagem de equipe na época, não tenho nada contra. Mas eu não imaginava que ele ia roubar o Larry!”
Robert Day tentaram todo ano, até conseguir? “Foram vários anos seguidos. Boracini também, Valtinho, vários…”
O Day cativou demais, né? Ainda mantém contato? “Está no grupo de WhatsApp do time ainda! Converso bastante com ele. Dia desses ele jogou um campeonato de veteranos, deu show. Os filhos estão competindo, são esportistas natos.”
Se o Corinthians subir, essa conversa de seduzir os jogadores corintianos faz sentido? “Pode ser um critério de desempate entre propostas boas financeiramente e de qualidade das equipes. A camisa, jogar para a fiel, essas coisas… Mas não acredito que isso seja critério para jogador abrir mão de salário ou de qualidade de equipe. Pelo contrário, é segundo plano.”
Todo ano o Hettsheimeir fica em evidência, vira novela, mas o fator Bauru pesa. Será que dessa vez vai ser diferente? “É uma opção dele. Obviamente temos muito interesse, mas é uma questão de sobrevivência da equipe. Mais uma vez ele vai ter que avaliar a comodidade de estar instalado por aqui. O time vai fazer o máximo que estiver ao alcance para que ele permaneça.”
Ricardo Fischer e Jefferson William têm portas abertas no Bauru Basket ou ficou alguma rusga? “Os dois têm portas escancaradas. Nenhum jogador saiu de Bauru com as portas fechadas. O caso do Ricardo foi imaturidade na época. Mas é um moleque bom, esforçado. E craque de bola! Tanto com ele quanto com o Jé temos bom relacionamento, muita resenha. Teriam espaço no time sem sombra de dúvidas. Aí seria questão técnica e financeira. De resto, portas abertas.”
O Beto admitiu (ao Basquete 360) interesse no Lucas Mariano. E o ala francano Pedro, que também tem sido comentado? “Ambos são jogadores que têm espaço no Bauru, sim. Não vou falar sobre proposta, mas sem dúvida eu gostaria de ter no elenco.”
Mais uma vez o calcanhar de Aquiles da montagem do time será o ala 3 pontuador? “Não tem, né?”
O caminho será novamente um gringo? “Depende da montagem, das características do time. Mas o Jaú está se desenvolvendo para ser um pontuador. Se pudermos trazer um arremessador nato, ok, mas não é sangria desatada.”
O Gui Santos teve contrato renovado durante a recuperação, para se recuperar com tranquilidade? “Sim, está tudo certo.”
A história dele lembra a do Felipe Vezaro. Um enorme potencial atrapalhado por lesões. “Foram situações diferentes, mas infelicidade enorme de ambos. O Felipe também é um menino muito bom, esforçadíssimo. O Gui também. Ele é muito forte, um cavalo. Um mini Alex! Ele ainda vai jogar e muito bem pra gente. Ouvimos muita besteira, de que machucou de novo porque é fraco ou por cirurgia malfeita. Os exames estavam perfeitos, musculatura equilibrada. Foi uma fatalidade, levou uma pancada e estourou o ligamento. A expectativa é que possa voltar em alto nível, porque é um moleque talentosíssimo e muito forte fisicamente. ”
Por falar em moleque talentoso, eu torço muito pelo Stefano. Não há possibilidade de ele se naturalizar e assim abrir uma vaga de estrangeiro? “O pai dele trabalha nisso faz tempo. Existe uma regra do Mercosul de Residência Permanente que pode ajudar. Mas, independentemente disso, ele tem espaço no nosso time ainda. Depende da montagem do elenco. Se trouxermos dois armadores, nem ele vai querer ficar. Pela idade dele, precisa jogar. Mas é um menino em quem investimos faz tempo e já começou a dar resultado. E que tem um potencial muito grande. Está em desenvolvimento, um armador amadurece com 24 anos. Sem dúvida será um jogador de ponta.”
Mas uma saída não seria mais empréstimo? “Hoje ele é profissional. Já passou o momento da transição da base para o adulto. Vai depender da composição do elenco. Eu gostaria de contar com ele.”
A comissão técnica pensa no Gui Santos na posição 1 ou 2? “Dois-um. Segundo lateral ou terceiro armador, algo assim. Na formação do elenco, conta como um dos três armadores.”
Diante disso, tanto Anthony quanto Stefano ainda não dá para cravar a permanência. “Qualquer situação. A espinha dorsal do time ainda é pequena, três atletas. Esperamos ter novidades logo, fechar com alguns jogadores, justamente para ter tranquilidade nesse planejamento.”
A intenção é ir colando as figurinhas? Nada de anunciar pacotão e matar a torcida de ansiedade… “Isso. Ir completando o álbum o quanto antes!”
Todo período entre temporadas faço uma entrevista de balanço e perspectivas do Bauru Basket. Habitualmente, com o diretor técnico Vitinho Jacob — que virá em breve —, mas decidi iniciar com o presidente Beto Fornazari. Afinal, ele cuida pessoalmente de assuntos cruciais como orçamento e contratações. Esses e outros assuntos são tratados francamente nesta que, provavelmente, é a entrevista mais densa que o dirigente já concedeu a um veículo bauruense. Beto fala sobre as finanças, revela bastidores de negociações, opina sobre a Liga Nacional e, claro, sobre a expectativa pela resposta do técnico Demétrius (sondado pelo Flamengo), prometida para esta quinta-feira (a entrevista foi gravada na segunda, dia 21). Papo longo e relevante, não somente para torcedores bauruenses, mas para todos os basqueteiros.
Dentro e fora da quadra, a partir do que foi planejado — passando pelas intercorrências —, os resultados foram satisfatórios? “Quando planejamos a temporada, sempre esperamos que o Bauru Basket faça uma boa campanha, pois se consolidou nos últimos anos entre as quatro forças do Brasil. Isso já é fato. Então, sempre montamos time esperando chegar entre os quatro. Foram muitas intercorrências ao longo dessa temporada. Foi uma temporada difícil, bem mais do que a anterior, que teve outra conotação. Na anterior, pegamos uma estrutura devastada depois da saída da Paschoalotto, mas herdamos um time bom, por conta dos acordos que o Rodrigo [Paschoalotto] fez, o que nos permitiu pagar menos. Fomos chegando e fomos campeões. Nesta temporada, tivemos mais tempo pra planejar — não muito em relação a jogadores, porque fomos campeões e os últimos a entrar no mercado; não havia mais o bom e barato, havia apostas e fomos buscar fora. Tentamos montar um time com uma característica um pouco diferente da do ano passado e nosso desejo era complementar com alguma peça de fora. Guardamos essa bala para o lituano [Osvaldas Matulionis]. Nossa expectativa foi maior do que o que ele poderia contribuir.”
Paco Garcia trabalhou com ele e passou algumas informações, certo? “Falou bem dele, que ia nos ajudar bastante. Isso reforçou a nossa segurança, na época. Disse que não teríamos problemas no grupo e realmente não tivemos. É um cara aplicado, disciplinado. Um europeu legítimo. Mas, pela nossa expectativa — e já tivemos um Robert Day —, esperávamos um cara mais matador. Ao longo do campeonato, ele se mostrou muito mais útil na defesa, aplicado taticamente. Esse foi o ponto que não conseguimos completar. O time foi montado com várias peças novas, praticamente novo. E não se junta todos e sai jogando, demora a engrenar. Isso aconteceu praticamente nos playoffs. Disseram que fizemos uma campanha acima do esperado. Eu não diria que foi acima, porque sempre esperamos estar entre os quatro, o que vinha falando para eles a cada passo. A tragédia para nós foi ter ficado em sexto [na fase de classificação]. Foi dolorosa aquela colocação porque naquele momento perdemos a vaga na Sul-Americana. E mudamos de pegar o Mogi para pegar Franca. Achávamos que Franca seria um adversário bastante difícil de bater e foi completamente ao contrário. Mogi começou a jogar muito bem e Franca, muito mal. O basquete tem disso. Conseguimos pelo menos completar nossa missão de chegar entre os quatro e por muito pouco não chegamos à final. Então, de uma temporada em que planejamos o time e ele conseguiu jogar, muito da mão do Demétrius, acho que completamos nosso papel. Nunca vou me satisfazer de ficar entre os quatro, a gente queria ir para a final. Não fomos pelo detalhe, nosso time ficou fisicamente prejudicado, perdemos peças. Foram várias intercorrências durante o campeonato. Muitas que muita gente nem sabe e seguramos dentro do próprio grupo. Mas realmente no final faltaram peças para fazer a reposição ideal e chegamos ao nosso limite.”
A mudança do elenco de uma temporada para a outra foi significativa. Algumas saídas por questões financeiras, mas houve também opções técnicas. “O Valtinho entrou aqui nesta sala e eu perguntei ‘O que você vai fazer da vida?’ Ele falou ‘Beto, não sei. É difícil parar, mas é difícil pensar que eu tenho que me apresentar para uma nova pré-temporada.’ E o Valtinho jogou as finais à base de injeção. Já sabendo disso, havia apalavrado um contrato com o Kendall [Anthony]. Não mantivemos um bom diálogo por causa daquele anúncio [após o Canhota 10 publicar o reforço em primeira mão] porque eu estava preocupado com o Valtinho. Ele ficou chateado. Mas, no fundo, aconteceu o que ele queria: parou de jogar. Sobre o Jé: eu sempre disse, embora alguns meios de comunicação insistiam em dizer o contrário: ele não ficou em Bauru por conta dele e do agente, que o colocaram num patamar financeiro inexistente. Não dava para pagar. Tanto que demorou, demorou… e Franca conseguiu um patrocinador máster e contratou o Jefferson, que estava sobrando. Pagaram o que ele pedia para Bauru pagar e não tínhamos condições. E falaram que ele foi para lá para ganhar a mesma coisa. Mentira. Foi para lá ganhando quase o dobro do que ganhava aqui.”
Em entrevistas, o Jefferson disse que o Bauru ofereceu salário menor do que ele ganhava antes. Houve uma tentativa de aproximar o valor que ele pedia? “Lógico. Eu propus um aumento de 30%. Ele estava valorizado, fez um bom campeonato. Não era o valor que ele esperava? Também acho. Assim como no caso agora do Rafa [Hettsheimeir]. Fez um excelente campeonato, o que vou falar para ele? Posso propor um pequeno aumento, já que o salário dele já é alto e sofremos para pagar. Tem coisa que a gente não consegue. Na época, o Jefferson estava vivendo o momento dele. Eu perguntei o valor ao agente antes de começarem as semifinais, durante as semifinais e na final. Foi sempre o mesmo. Depois da final, o mesmo. Nunca mudou o valor. Tentamos, tentamos, até que não conseguimos. Eu não tinha a confirmação da Gocil [então patrocinadora máster, que declinou], depois houve a negativa da Gocil e piorou mais ainda. No final, houve a situação de um apartamento que uma construtora ofereceu para manter o Jefferson. Eu fui falar com o agente, ele disse ‘Não queremos apartamento, queremos salário.’ Mas nesse momento ele já estava fechado com Franca. Então, o Jefferson não ficou, o Valtinho parou, o Gui foi ganhar o dobro no Vasco.”
E o Gegê? “Foi o único cara que eu me arrependi. Na verdade, eu não o segurei com dor no coração. Sempre foi. Mas eu tinha uma situação em que tínhamos Gui Santos voando fisicamente, o Stefano subindo e contratamos o Anthony para jogar 35 minutos, é a característica dele. Sobrariam poucos minutos para dois garotos em quem apostamos. Com o Gegê, qual dos dois eu iria ‘matar’? Talvez até os dois. Foi uma decisão conjunta com o Dema, os dois com o coração partido, porque é um cara fantástico, que colabora e joga bem. Está bem no Minas, renovou, antes de resolvermos alguma coisa. Eu já tinha na minha cabeça: ‘Vou ligar para o Gegê este ano’. Mas graças a Deus ele está bem lá, num clube fantástico, com estrutura ótima, cidade boa. E o Léo Meindl, quando acabou aqui, ele já voltou para Franca, avisou que não voltaria e foi para ganhar o dobro. Ainda bem que os jogadores saem de Bauru para ganhar mais, significa que nosso trabalho está bom e eles estão valorizados. Coincidência ou não, todos que saíram, fora o Gegê, não fizeram uma boa temporada. Infelizmente.”
Sócio-torcedor e preço dos ingressos foram assuntos controversos na temporada. O quanto essas rendas são significativas a ponto de ser difícil recuar? “Naquele jogo em que houve protesto, com faixas [contra Franca, dia 6 de fevereiro], eu fui à rádio [Jovem Pan News] depois. O ingresso não era 40 reais. Era 40 a inteira e 20 a meia, nesse jogo especificamente e em alguns outros. Só que não limitamos a meia-entrada. Peguei o borderô do jogo e tivemos mais meia-entrada do que inteira [497 contra 202, segundo o boletim financeiro da partida]. Ou seja: a meia-entrada prevalece. Tenho quatrocentas cortesias para patrocinadores, cortesias para jogadores são quase cem. Conseguimos vender na Panela algo em torno de 1.400 ingressos, não muito mais do que isso. Aí você pega cadeiras e outras situações… E temos as despesas do jogo. Quando eu cobro 15 reais, é prejuízo. Vinte reais, empata. Quando cobro 50/25 e todo mundo paga 25, e vai bastante gente, é quando tem algum lucro.”
Qual o custo médio de um jogo na Panela? “Algo em torno de 12 mil reais. Segurança, todo o pessoal que trabalha… Arbitragem, quase 6 mil reais. Tenho que ter eletricista, internet, dar lanche…”
Gerador em jogo de TV? “Não, a própria TV traz. Então, é um custo de 12 mil reais e muitas vezes temos prejuízo. Agora, conseguimos implantar o sócio-torcedor nosso, próprio. E estamos vendendo ingressos pela internet. Nesse último jogo contra o Paulistano, foi interessante ver muita gente comprar pela internet. Eu falava isso nas entrevistas: não posso pôr ingresso somente a 15 reais porque eu tiro das pessoas que tem um pouquinho mais de poder aquisitivo a oportunidade de assistir ao jogo. Porque quando coloco a 15 reais na bilheteria, a nossa torcida acostumada esgota. E essa pessoa que não tem esse hábito de comprar o ingresso não assiste. Não estou dizendo que vou subir o preço para trazer essas pessoas, mas preciso ter um preço razoável para não esgotar os ingressos em duas horas. E as pessoas precisam entender isso. Porque a nossa torcida é cativa, mas precisamos de outros torcedores.”
Ter público entrante. “Ter público entrante! Sabe para quê? Às vezes, um cara olha aquilo e diz ‘Eu quero patrocinar isso aqui, minha empresa pode dar alguma coisa.’ Temos que ter esse fluxo de pessoas lá dentro. Minha grande preocupação sempre foi a gente não se tornar um grupo fechado, de ao longo dos anos olharmos para as arquibancadas e estarem sempre as mesmas pessoas. Com a entrada da venda pela internet, democratizou. Vi várias vezes as pessoas comprando cadeira superior, cativa, cadeira de quadra… Vendemos vários ingressos pela internet e eram pessoas novas, que não precisaram pegar filas e acham que vale. E vale pagar 25, 30 reais para assistir a um jogo do Bauru Basket! Acho justo o protesto, o manifesto. Só que tem um contraponto que tem que ser analisado também, que é o custo do espetáculo. Não combina ingresso barato com um time de ponta. Então, é preciso dosar. Quer time bom? Custa caro.”
E o sócio-torcedor? “Eu imaginava vender todas as cadeiras superiores. Acabamos com os camarotes, achei que fosse vender tudo rápido. Chegamos a cobrar 89 reais por mês de cadeira superior e não vendeu tudo. Tem um monte de cadeira lá ainda. Eu entendi que não quiseram. Nós temos um público cativo, que sempre renova, mas estou entendendo que as pessoas preferem comprar o avulso do que manter o sócio-torcedor. De repente porque não consegue ir a todos os jogos. E isso vai ser uma tendência com a venda de ingressos pela internet. E esse jogo [o último em casa contra o Paulistano] mostrou isso. Vendemos todas as cadeiras superiores. Ah, era uma semifinal… mas acredito que isso só vá acontecer mesmo nos grandes jogos. Então, estamos bem cientes disso. Mas é uma renda importante que temos priorizado. Não vamos subir, nossa ideia é manter os valores. Até porque já subimos do que havia sendo feito e agora estamos num valor razoável.”
Como está o relacionamento com o Noroeste em relação à Panela? Com o Vôlei Bauru (com que divide o espaço)? A chegada do Vanderlei facilitou as coisas? “O Reinaldo [Mandaliti, vice do Noroeste e presidente do Vôlei Bauru] é amigo meu. O Vanderlei [Mazzuchini, novo secretário de esportes] é amigo meu. Com a entrada do Vanderlei, tende só a melhorar. É um cara que sempre foi do basquete, viveu o basquete, torce, ajuda. É muito amigo do Demétrius. Então, melhorou o relacionamento. A gente divide espaço e o Reinaldo, assim como eu, tem temperamento forte. Então, de vez em quando não concordamos com alguma coisa, mas é sempre eu brigando pelo basquete e ele pelo vôlei. Mas nunca tivemos problemas. Eu fui talvez a primeira pessoa do meio esportivo a saber do patrocínio do vôlei. Para você ver o respeito que temos um pelo outro. Ele me chamou e disse ‘Fechei com o Sesi e achei direito que você deveria ser a primeira pessoa a saber.'”
No último Jogo das Estrelas do NBB, o Paulo Skaf (presidente do Sesi) estava lá e eu o abordei. Ele deixou escapar que “não deu certo com o basquete”. O que foi essa possibilidade que sempre foi falada nos bastidores? “Tem um grupo aqui, que inclui um diretor nosso, que conhece o pessoal da Fiesp daqui, que articulou um movimento de tentar trazer o Sesi pra cá. Mas o Sesi já estava com escolinha de basquete em Franca, assim como tem o judô aqui. Eles foram conversando, tentando, mas a decisão de o Sesi apoiar o basquete em Franca causou um certo desconforto aqui. Politicamente falando, Bauru talvez fosse mais interessante, pela região… Acho que talvez ele [Skaf] tenha ficado com esse sentimento de estar apoiando lá e aqui não. E o Reinaldo também já vinha conversando com ele. Todo mundo estava atrás do Skaf. E quando o Reinaldo sentou com ele, numa situação de política, partido, ele disse que ia acabar com o vôlei do Sesi em São Paulo. O Reinaldo falou ‘Não acabe, traga para Bauru!’ E o Reinaldo me contou. Eu falei ‘Cara, eu torço por Bauru. Nosso basquete não vai acabar, fico feliz por você, que precisa parar de pôr dinheiro. Tranquilo. Vou lá prestigiá-lo [no dia do anúncio]. Só que falar que a torcida não vai pegar no pé do Skaf, por causa de Franca, não consigo garantir.’ Aí ele disse ‘E se a gente trouxer o ginásio? Tem um papo que ele quer trazer o teatro’…”
Pega o ginásio! “Matou. ‘Você matou, cara, é isso. Convence o cara’. Isso foi numa terça. Na sexta-feira, anunciou. Fizeram um misancene e anunciaram o ginásio. Eu estado do lado de lá, fiz um sinal para o Reinaldo e saí. Agora ele não pode voltar atrás. Foi excelente para todo mundo.”
Quando houver o ginásio e o Bauru Basket estiver numa final, vai ser tranquilo usá-lo? Isso já está definido? “Não tem nada escrito. Mas esperamos que seja. Não tem por quê. Com o Reinaldo tenho um acordo [informal] de usar. Ele vai usar mais, nós menos. Mas havendo um ginásio em Bauru, não vejo a menor possibilidade de falarem que somos rivais. Isso não existe.”
Como estão os projetos sociais, Corrente da Vida e o que envolve a Hípica? “O Corrente da Vida precisa ser ajustado. É um projeto meu e do Reinaldo que precisamos reestruturar após a saída do Vanderlei. Ele era o cabeça do projeto. Mas vai andar, é bom e já está dando frutos. A parceria com o CBC [Comitê Brasileiro de Clubes] está num momento muito difícil. O CBC tem clubes filiados e credenciados. Nós somos credenciados. Quando nos venderam a ideia, disseram que poderíamos participar de campeonatos e também nos cadastrar em projetos para pedir dinheiro para estruturas. Isso nos interessou muito. A ideia era que a Hípica se tornasse um clube filiado. Politicamente falando, os clubes que estão lá não querem que ninguém mais entre, porque eles ficam mordendo. Campeonatos feitos por Paulistano, Flamengo, Tijuca, Fluminense… O Paulistano, quando organiza um campeonato, cobra 20% pela organização. Tem campeonato aí que custa 3 milhões! É dinheiro… Tem uma briga: o CBC tem a chancela da CBB. O Fluminense fez um campeonato sub-21, que paga passagem aérea, estadia, estrutura maravilhosa. Teve time da Liga [Nacional de Basquete, LNB] que foi disputar esse campeonato e aí gerou ciúme na Liga, que falou ‘Gente, temos que estar juntos aqui’…”
E a Liga de Desenvolvimento (LDB, organizada pela LNB) é onerosa para os clubes… “Então, já tem um barulho aqui no meio. Ano passado, nosso sub-16 foi jogar em Belo Horizonte, num campeonato da CBC. Espetacular, meu filho foi jogar. Este ano, o sub-16 do Bauru vai jogar de novo esse campeonato, organizado pelo Mackenzie. E o sub-19 vai disputar um no Rio, no Tijuca. Aí vou parar, vou sair fora dessa história.”
Então, no CBC, Bauru pode disputar, mas não pode organizar nada? “Isso. Mas aí fica caro pagar mensalidade para disputar dois campeonatos por ano. O CBC é uma situação política complicada. Pode ser que o vôlei fique junto com a Hípica, com a ABDA[Associação Bauruense de Desportos Aquáticos], a tendência é ficarem. O Reinaldo tem o Sesi agora… Mas para mim não compensa. Eu gasto quase 15 mil reais por ano para disputar dois campeonatos.
Vamos para 2018/2019. Dema valorizado, no olho do furacão, e uma concorrência financeira desleal com o Flamengo. Como está essa situação? “O Demétrius conquistou essa situação por méritos. Foi campeão ano passado e fez uma excelente temporada agora. O que ele conquistou foi por méritos dele. Ele merece essa valorização e esse clamor da torcida toda. O que é muito bom, se ele ficar, para ter tranquilidade na montagem e para trabalhar. Não dá para falar hoje que ele é bom e amanhã falar que não é mais… Foi o aconteceu ano passado. Fomos campeões e muita gente o criticou duramente na fase de classificação. E agora ele é bom de novo… Isso mostra o profissional que ele é. Um cara dedicado, um cara de playoff, que gosta desse tipo de jogo. Ele inventa e se reinventa e conseguiu tirar o máximo do time. Já fizemos a proposta de renovação, ele teve a sondagem do Flamengo e me pediu alguns dias. Acho justo ele ter esses dias. Mas me prometeu uma definição até quinta-feira.”
Imagino que você não chega no valor do Flamengo, mas tem outros fatores a seu favor, como a cidade… “Quando as pessoas vêm pra cá, e foi assim com o Demétrius, o Alex, o Rafael e com o próprio Jefferson, que se adaptou muito bem, todos gostam muito da nossa cidade. Estou apostando muito que seja um fator decisivo. A família dele está adaptada aqui, é um fator do nosso lado. O contrário é o fator financeiro, que não temos a menor chance de competir. Ano passado, o Rafael teve uma proposta cerca de 30% maior do Flamengo. Todos davam como certa a ida dele, que não foi.”
Teve mesmo a proposta de Franca pelo Alex ano passado? “Teve. Não sei até onde foi, mas teve. O que a fizemos [voltando ao assunto Demétrius] foi isso: uma proposta com alguma majoração, alguns benefícios, mas dentro da nossa realidade financeira. Não vamos fazer leilão. Se ele tiver uma proposta bem melhor, que valha muito a pena, não tem nada. Somos amigos e vou continuar apoiando. É assim que tem que ser. Mas confio bastante que ele possa ficar.”
Independentemente disso, você já está monitorando o mercado. “Já tenho um norte. Antes de o Demétrius receber essa sondagem, já tínhamos conversado sobre algumas situações, algumas peças. Só que agora estamos ajustando a parte financeira. Há alguns contratos que vão até julho que temos que honrar. Alguns pagamentos para acertar. Hoje, estou muito preocupando com essa situação financeira, deixar tudo em ordem, fazer um cronograma de pagamentos para todos. Ainda estamos fechando todos os patrocinadores, as renovações, fazendo as reuniões agora.”
E o máster? “Já tivemos reuniões com a Sendi. Caminhou muito bem, faltando detalhes. Devemos ter a notícia ainda esta semana.”
Mas aquela cota intermediária que era da Sendi ainda é uma lacuna? “Ainda. Precisamos dessa cota. É o que está faltando no nosso orçamento. Temos feito contatos, algumas oportunidades podem surgir.”
Anthony e Osvaldas agradeceram nas redes sociais, mas não disseram adeus. São jogadores que ainda interessam? “O Osvaldas foi um consenso de que não vamos continuar com ele. Ele também estava ciente de que não deveria voltar. Com todos os demais jogadores, ainda estamos conversando. Qualquer desligamento que fizermos, já precisaremos ter a certeza de alguma peça que vai repor. Como o mercado ainda está muito lento, por incrível que pareça, estamos acompanhando. E eu preciso esperar a definição do Demétrius. O Anthony é uma situação que estamos analisando. Taticamente, poderíamos buscar outra solução para a característica de jogo dele, que só subiu de produção depois que o Alex se machucou. Essa é a característica dele, definição, reter mais a bola. Então, precisamos achar um meio termo. Hoje, ele não está nem dentro nem fora. Precisamos definir nosso time para ver se ele vai se encaixar. Já soube que ele recebeu sondagens e é um cara que se recoloca facilmente. Mas hoje eu não posso falar nem sim, nem não.”
Alex tem mais um ano de contrato. Se houver alguma procura, o Bauru está protegido por multa? “Tem multa. Ainda não sentamos para conversar, ele está se recuperando. Creio que agora seja a hora de batermos um papo. Mas acredito que ele queira ficar, temos contrato. O único fator que poderia atrapalhar é financeiro. Não acho que vamos ter problemas, mas uma vez eu disse algo para ele que vou honrar até o final. Nunca vou brigar com o Alex. Se amanhã ou depois aparecer uma proposta muito vantajosa, jamais vou brigar… O que o Alex fez por Bauru é impagável. Então, estou absolutamente tranquilo. Não quero e não posso mandá-lo embora, se ele resolver sair. Como aconteceu com o Larry. Ele tinha contrato e nós o liberamos porque ele pediu para sair, jogar em outra cidade. Liberamos sem multa alguma. Tem que ser assim com jogadores que fizeram o que fizeram por Bauru, não podemos entrar num litígio.”
Qual o seu balanço sobre os dez primeiros anos da Liga? “A Liga melhorou, cresceu. O Jogo das Estrelas é uma realidade muito boa. Crescemos em todos os números. Mas precisamos crescer juntos. A Liga só crescer não vale, os clubes têm que crescer também. Parte da nossa situação financeira, que atrapalhou nosso caixa, é que lá atrás houve um consenso de que seriam pagas as despesas de arbitragem e estadia. Eu montei o orçamento em cima disso, sem esses custos, que são altos. Isso não aconteceu e foi pesado pra gente. Eu sou um dos que brigam lá na Liga, falo que os clubes precisam de ajuda. No começo da temporada passada, eu falei, como atual campeão do NBB, que o nosso time esteve à beira de fechar as portas. Somos campeões, mas temos um monte de contas pra pagar. Os clubes estão sangrando. Não é fácil ouvir isso do time campeão em uma reunião. Nós fazemos basquete por amor e com milagres. Nós, como Liga, precisamos ter uma saúde financeira melhor. Não dá para ter telhado bacana e chão batido. Outra coisa que vai ser um divisor de águas é o fim contrato com a Globo. Precisamos negociar um contrato maior, melhor, para realmente dar um salto. O basquete vem patinando nesse sentido das transmissões. Não dá para ser como é hoje. Praticamente imploramos para o SporTV transmitir. A desculpa é que não cobram nada. Não pagam nem cobram. Antigamente, a RedeTV! cobrava para transmitir jogos. Agora, a Band não. Eu creio que agora podemos ter um novo contrato com a TV para começarmos a receber pelo produto basquete. Esse é o grande desafio da Liga, dar esse salto. E a NBA nos ajudar a negociar um contrato melhor, é o que está faltando, para os clubes terem um pouco mais de tranquilidade financeira. Esse bom contrato de TV é o que vai nos ajudar a virar o segundo esporte do Brasil bem rapidamente. Hoje ainda perdemos para o vôlei. Mas esse ano houve alguns absurdos. Mogi disputar uma final de Liga das Américas e o SporTV ter o direito e não transmitir o jogo [passou somente na internet] é um absurdo. É isso aí: em resumo, o problema da Liga é grana para os clubes, para não acabarem mais todo ano; e ter um bom contrato de TV. “
Depois de aliviar a torcida anunciando a renovação de Alex Garcia, o Gocil Bauru Basket oficializou mais um movimento no mercado: o ala Isaac, 27 anos recém-completados, chega para reeditar sua parceria com o Brabo, construída nos tempos do Brasília. O reforço foi uma indicação do próprio Alex, como o capitão admitiu ao repórter Gabriel Pelosi, da 94FM.
O ala de 1,95m vem de duas temporadas no Franca. No último NBB, um edema ósseo no pé direito o afastou das quadras por três meses. Voltou bem e fechou sua participação com médias de 8,5 pontos, 2,2 rebotes e 1 roubo de bola em 21min em quadra. Um dado interessante de Isaac é o bom aproveitamento dos chutes de fora: acerta um a cada três tentativas, mas não tenta mais do que essas três vezes.
É um bom nome para a rotação bauruense, considerando seu poderio defensivo sob a tutela de Alex. O entrosamento passa também por Demétrius, assistente técnico de Limeira quando o jogador surgiu por lá.
Dúvidas na ala
O anúncio de Isaac surgiu como uma primeira resposta num momento de grande interrogação em sua posição no elenco bauruense. Gui Deodatojá se despediu, a caminho do Vasco. Léo Meindl está voltando para Franca — será o primeiro reforço de peso anunciado por lá. E o nome de Danilo Siqueira (ex-Minas), dado como certo nos bastidores, surgiu no radar do Paulistano, segundo o Bala na Cesta. Sobre Danilo, cabe enfatizar sua preferência por conquistar um espaço no basquete europeu. Enquanto a janela do Velho Mundo não fechar, ele estará espiando.
Por fim, o time pode ir atrás de um gringo da posição 3. O técnico Demétrius havia programado ir a Las Vegas acompanhar a Summer League, mas houve um imprevisto de ordem particular. Danilo Siqueira está lá, na capital da jogatina. É que, além da Summer League, há eventos paralelos, treinamentos (os famosos camps). OBS: o texto foi atualizado às 14h19, corrigindo a informação de Dema em Vegas.
Fala, Isaac!
A exemplo de Kendall Anthony, o Canhota 10 conseguiu falar de forma breve e exclusiva com mais um reforço bauruense. “Tenho grandes expectativas de voltar a jogar ao lado do Alex. E também com vários jogadores do Bauru. Que seja um ótimo ano para todos!”, disse Isaac.
A proximidade de Bauru com Lençóis Paulista, a cidade em que se estabeleceu (ele nasceu em São Paulo), ajudou muito no acerto. E o sonho antigo (de ambas as partes, como admitiu o diretor Vitinho Jacob no material do time) se concretizou. “Jogar ao lado de Lençóis foi um dos pesos na minha decisão. Tudo tem um tempo certo e esse era o tempo de eu estar em Bauru”, comemorou.