(Direto do Ibirapuera) Era um misto de tristeza e resignação o semblante dos bauruenses após a vitória do Real Madrid que definiu o título dos merengues. Como Guerrinha falou, tristes pela derrota e felizes pelo desempenho. Entrevistei alguns dos personagens do Paschoalotto Bauru no final de semana e o interessante é que as falas acabam por resumir o que aconteceu. Day disse que “faltou perna”, o que evidencia a preparação complicada do time, admitida por Guerrinha na coletiva inicial do evento; Alex falou que o time tem que voltar a jogar coletivamente (eu estava atrás do banco e vi as broncas que deu em Hett pelos momentos individualistas do jogo 2); Ricardo sabe o tamanho da vitrine em que brilhou; e o camisa 30 falou de sua permanência na Sem Limites — mesmo que acompanhada de um sorriso maroto e começando a falar em espanhol… Falem, guerreiros:
(Direto do Ibirapuera) Assim que assumi meu posto, fui dar aquela circulada pelos bastidores. Vejo o estafe bauruense concentrado, sem euforia e pergunto ao gestor Vitinho Jacob como estava o time no vestiário. “Com os pés no chão”, resume. E assim jogaram. Depois de um início vacilante, logo os guerreiros entraram no jogo e não saíram mais, como evidenciaram as parciais dos últimos três períodos. Do outro lado, estava a maior equipe do mundo Fiba, mordida com a derrota de sexta-feira — quebraram o vestiário, soube-se. O abatimento ao fim dos 91 a 79 para o campeão Real Madrid era nítido nos rostos dos jogadores do Paschoalotto Bauru, exatamente porque perceberam que dava pra vencer. Que Golias virou Dragão faz tempo.
BOLA QUICANDO
O já esperado início mordido do Real Madrid se concretiza. Buscando o embate físico e dificultando o chute bauruense, os merengues abrem 12 a 0 na metade do primeiro quarto — o Dragão só pontua a 4min55, em lance livre de Alex. Léo Meindl e Rafael Mineiro entram para dar mais força e o jogo começa a fluir: bolas de fora do Ligeirinho e do Canela colocam os campeões da América, finalmente, no páreo. Mas, quanto mais franco é o jogo, mais o Madrid explora a transição, comandada por Carroll. Assim, os merengues fecham o primeiro quarto com boa vantagem, 24 a 15.
Quem esperava que a diferença seria ampliada, o Paschoalotto equilibra, empatando a exatos 5min do intervalo numa cravada de Rafael Mineiro que balança o Ibirapuera. A vantagem madrilenha virou fumaça a partir de uma boa defesa do Brabo que ele mesmo concluiu bandejando, depois Mineiro deu tapinha, Léo Monstro guardou de fora e, aí sim, a enterrada do camisa 15. Nervosos e cometendo muitas violações, os campeões europeus não param de reclamar da arbitragem, sobretudo o barbudo Sérgio Rodríguez, eliminado com duas faltas técnicas. Isso faz o time de Pablo Laso acordar, ser dominante nos rebotes e empatar a parcial (25 a 25), mantendo os nove pontos de vantagem (49 a 40).
A volta não poderia ser melhor, com bola de três de Alex. Ricardo aparece para o mundo do basquete conduzindo o time bem demais, ora infiltrando, ora encontrando o chute equilibrado, como o de Day a 4min do fim. Tudo empatado a 2min, a galera em êxtase, empurrando os guerreiros. E minha mão suando no teclado, pois basta bobear e os caras abrem seis pontos… (61 a 55). A bola que Hett perde embaixo da cesta é sintomática do mal momento no fim do período. Outra parcial igual (17 a 17) e o Madrid administra a dianteira (66 a 57).
Chegada a hora da verdade, aumenta a tensão, aumentam os choques. Hettsheimeir explora bem o semicírculo dentro do garrafão e atropela Nocioni. Alex fica mais Brabo e se impõe embaixo da cesta. E também guarda triplo! A 7min do fim, cinco pontos atrás e muito jogo pela frente. Mas… Thompkins e Llul acertam a mão de fora também e obrigam o Dragão a pedalar. Surgem chutes afoitos, Ayón segue absoluto nos rebotes. Ouve-se inclusive com mais volume a colônia espanhola na arquibancada. O Dragão tenta, Ligeirinho se entrega o quanto pode, o homem da tarde ao lado de Alex Garcia. Valorosos, os guerreiros são aplaudidos. O Real dá um sprint, fecha a fração em 25 a 22 e partida em 91 a 79.
NUMERALHA
Ricardo Fischer: 26 pontos, 5 rebotes, 6 assistências
Rafael Hettsheimeir: 17 pontos, 6 rebotes
Alex Garcia: 14 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola
Léo Meindl: 9 pontos
Rafael Mineiro: 8 pontos
Robert Day: 3 pontos, 2 rebotes
Paulinho Boracini: 2 pontos
O ginásio do Ibirapuera merecia receber muito mais gente nessa noite de sexta-feira. Mas, certamente, haverá mais no domingo, acreditando numa façanha que já foi realizada pela metade. Isso mesmo: o Paschoalotto Bauru derrotou o poderoso Real Madrid no jogo 1 da Copa Intercontinental! Milimétrico, um pontinho: 91 a 90.
Depois de vigiar o placar no primeiro tempo, o Dragão viu o adversário esticar a diferença no início do terceiro quarto, mas não se entregou e conseguiu bela reação. Difícil apontar um destaque individual, o segredo foi mesmo o conjunto, a minutagem bem distribuída. Mas Rafael Hettsheimeir sobrou, com 27 pontos (6/9 nas bolas de três) em 38 min em quadra! Seja lá onde estiver jogando daqui uma semana, sua cabeça estava no Ibirapuera e sua mão estava quente.
Bauru e Real voltam a se enfrentar no domingo, 27/set, ao meio-dia. Vale muito a pena acompanhar in loco. Pegue a Rondon, a Castello e vá. Bendito anjo da guarda que me convenceu a ficar e fugir da tempestade que me esperava na estrada. Mas, no jogo 2, o Canhota estará lá!
BOLA QUICANDO
Nada de nervosismo inicial contra os campeões europeus. Bauru propõe um jogo franco logo no início, apostando no trabalho interno de Hettsheimeir e nas bandejas de Alex, e o Real não deixa por menos, com Carroll e Ayón. As bolas de fora começam a cair, com Jefferson, Day e o Brabo; do lado merengue, Sergio Rodríguez guarda uma. Guerrinha roda bastante o elenco para manter a intensidade. Assim, o Madrid consegue abrir apenas três pontos no primeiro quarto, 19 a 22.
O segundo período começa com ótima sequência bauruense, numa parcial de 8 a 0 com Rafael Mineiro, Paulinho Boracini, bolaça de fora do Ligeirinho e um lance livre de Jefferson cobrado após falta técnica de Rodríguez. O argentino Nocioni entra pela primeira vez em quadra, os espanhóis voltam a liderar o placar e contêm o entusiasmo dos guerreiros, que só fazem mais três pontos até o final do quarto, que ficou pegado, incluindo reclamações com a arbitragem e estouro de faltas coletivas dos dois lados. O Real fecha uma parcial baixa (11 a 15) e leva vantagem para o vestiário: 30 a 37.
O jogo recomeça com o Madrid fulminante no jogo externo, com 12 pontos nos dois primeiros minutos, parcial de 12 a 2 e pela primeira vez vantagem em dois dígitos. Guerrinha pede tempo e avisa: tem que tirar a diferença na defesa e trabalhar o ataque com calma. Surte efeito: cinco pontos seguidos de Day, mais um triplo de Hett. Mas os comandados de Pablo Laso erram pouco… Léo Meindl entra bem, Gui Deodato finalmente pisa na quadra — bacana demais ver o Batman com essa camisa. Ricardo e Hett comandam a reação: diferença cai de 17 para três pontos, incluindo maravilhosa bola de três de Meindl no estouro do cronômetro. Parcial de 29 a 25 fecha o terceiro quarto em 59 a 62.
Com defesa forte e mão certeira, o Dragão segue cuspindo fogo, no ritmo de Léo Meindl e Gui. Quando o Paschoalotto finalmente vira, Thompkins recoloca os merengues no jogo, que só pareciam grogues. Alex volta à quadra, as bolas de três não param de cair com Jé e Canela, mas Rodríguez e Carroll não vacilam do outro lado. Faltando 1min, um pontinho separa as duas equipes… O Brabo desperdiça um lance livre precioso, na jogada seguinte Reyes guarda sozinho embaixo da cesta. O camisa 10 bauruense se redime em mais um ganchinho certeiro e tudo empatado a 22s do fim! O Real gasta o relógio e acha falta restando 7s… Reyes só converte um. Tempo de Guerrinha, jogada combinado e pito do Brabo: “Não muda! Faz o que ele está mandando!”. Ricardo foi para o canto que o treinador pediu e converteu linda bandeja. É a vez de Laso armar ataque, para 4s, mas desperdiça. Fração de 32 a 28 e que vitória do Dragão, fechando com um ponto na frente!
ABRE ASPAS
Entrevistas ao repórter Arthur Sales, da Auri-Verde 760AM/Jornada Esportiva:
“Foi uma grande vitória. Começamos bem e isso deu confiança para o time. A gente manteve o foco no jogo e deu tudo certo. Nosso time estava se enturmando no Paulista, contra Mogi já estávamos mais completos e tiramos boas lições desses dois jogos. Agora esse jogo acabou, temos que descansar, porque tenho certeza que eles virão mais fortes no domingo”, disse o ala Alex Garcia.
“Tenho que agradecer por estar aqui hoje. Joguei ontem contra o Pinheiros, mas cheguei aqui focado e confiante que poderia ajudar, sobretudo com a minha defesa, que é minha principal característica”, comemorou Gui Deodato.
(agora, aspas reproduzidas da transmissão do Sportv)
“As duas equipes estão num início de temporada e é normal essa alternância no placar. Nós tivemos solidez de continuar acreditando no jogo. Não pode desistir nunca. Fomos bem na defesa, revezamos e fomos resolvendo os problemas durante a partida”, explicou o técnico Guerrinha.
“Foi emocionante finalizar o jogo! Foi um trabalho em equipe. A entrada do Gui e do Mineiro foi fundamental. Tivemos paciência e tranquilidade para trabalhar pouco a pouco, manter o jogo parelho e decidir no final”, resumiu Ricardo Fischer, o maestro da noite.
“A equipe fez um grande trabalho nesta noite, jogou com muita raça. Eles abriram 17 pontos, mas não baixamos os braços, jogamos com raça e coração. Foi um jogo perfeito, todo mundo que entrou ajudou o time. Para domingo, tem que ser outro jogo perfeito”, disse Hettsheimeir, em noite perfeita.
Nesta sexta-feira, dia 25 de setembro, às 21h, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, começa a decisão da Copa Intercontinental de Clubes de basquete masculino. De um lado, o todo-poderoso Real Madrid, campeão da Euroliga. Do outro, o campeão das Américas, o Paschoalotto Bauru. Um momento único, um sonho até outro dia inimaginável diante dos olhos dos torcedores do Dragão. Antes de qualquer coisa, uma festa do esporte. A coroação de uma caminhada que recomeçou do zero há cerca de oito anos.
Como escrevi no último post, que o time se divirta, curta o momento — incluindo a agenda na pré-temporada na NBA, no início de outubro. Claro que dará seu melhor, a bola laranja vai virar um prato de comida, mas talvez o melhor não seja o suficiente para superar os espanhóis, favoritíssimos. Ainda porque o potencial dos guerreiros neste exato momento é um grande ponto de interrogação.
E aqui aproveito para raciocinar a partir do que diz o técnico Guerrinha, que criticar na derrota é oportunismo. Portanto, vamos falar antes das partidas: é interrogação porque, além dos contratempos no início da temporada (atletas na Seleção e a fatalidade com Murilo), os trabalhos começaram tarde. Murilo teve 44 dias de férias (mesmo tempo da molecada sub-22), Alex, 53, Day, 58. Ricardo e Hettsheimeir são exceção, descansaram apenas 14 dias antes de se apresentarem à Seleção. Enfim, vale considerar que a temporada 2014/2015 foi muito desgastante e que mereciam descanso, mas não dá para negar que alguns dias fizeram falta na preparação para este Mundial.
O que foi programado a partir do início dos trabalhos tem sido cumprido à risca, com a comissão técnica tentando obedecer o tempo de quadra que o preparador físico Bruno Camargo pede, com algumas exceções — Alex se excedeu em seu retorno, dia 20/ago, contra Osasco, quando sentiu dores no joelho, e Paulinho talvez tenha jogado mais minutos do que deveria no primeiro turno. Tudo isso foi feito não visando o Real Madrid, mas um fôlego extra na reta final da temporada, em 2016, com pico na Liga das Américas sem cair o ritmo até terminar o NBB 8, a grande obsessão.
Não há nada de errado nisso (priorizar o médio prazo, o NBB), apenas será fácil creditar uma possível derrota para o Real Madrid apenas à força do adversário — que chega após menos de uma semana de elenco reunido, pois as feras estavam disputando Eurobasket e Copa América por seus países.
Mas eu prefiro mesmo é que surpreendam, deem aquelas entrevistas de que superaram as desconfianças e retornem a Bauru com o troféu. E quem sabe essa aura fantástica resolva os problemas que estão por vir, a partir da iminente saída de Rafael Hettsheimeir (foto acima, com os ex-colegas merengues). Se o camisa 30 ficar, sobrecarrega o orçamento, isto é, problema do mesmo jeito.
Problema pra depois. Como disse, hora de curtir essa merecida festa construída com muito trabalho e dedicação desde 2007. Pra cima dos merengues, guerreiros. Divirtam-se!
Aviso importante: resolvi não me arriscar a sair de Bauru no fim da tarde desta sexta e o imprevisível trânsito paulistano não me deixar chegar no Ibirapuera. Por isso, crônica in loco do Canhota 10, apenas no jogo de domingo. Mas estarei grudado na telinha pra repercutir o jogo 1.
Depois de repatriar temporariamente Gui Deodato e anunciar Rafael Mineiro (entrevista com o pivô aqui) como reforços pontuais para o Intercontinental,, o Paschoalotto Bauru PODE anunciar um terceiro e último nome para a disputa contra o Real Madrid. Trata-se do pivô Ronald, de 23 anos, do UniCeub/BRB/Brasília.
O próprio jogador admitiu ao Canhota 10 a possibilidade. E, hoje, o jornal Correio Braziliense traz matéria sobre o assunto, incluindo aspas de Vitinho Jacob. “Houve interesse das duas partes, nosso e do time de Brasília. Estamos vendo as condições reais, a parte legal. Estamos esperando respostas de seguradoras”, disse o gestor do Dragão ao repórter Vítor de Moraes.
Ronald está na Argentina disputando amistosos de pré-temporada com o time candango e aguarda o desfecho da negociação.
REPERCUSSÃO
Blogueiros da imprensa basqueteira têm refletido sobre esse expediente de reforços pontuais — leia Fábio Balassiano, Luís Araújo e Marcius Azevedo. Uma discussão superválida. Não creio que os reforços tirariam legitimidade ou merecimento do time de Bauru, mas de fato descaracteriza um pouco — não no caso de Gui, prata-da-casa. O que mais importa, entretanto, é que esses reforços sejam acolhidos sem melindres pelos atletas. Pelo que conheço do elenco, creio que serão. Resta conferir como será na prática.