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Demétrius: “Vamos ganhando opções”

retranca-bauru-basketA vitória do Gocil Bauru Basket sobre Osasco, por 70 a 69, na Panela de Pressão, foi mais um passo importante para calejar a equipe até que os medalhões estejam aptos a estrear. Como a primeira fase do Campeonato Paulista (que classifica todo mundo!) permite experimentações, o técnico Demétrius tem  aproveitado bastante para ambientar o armador Anthony, dar confiança física a Isaac e, principalmente, testar variações táticas.

Dica de leitura: Demétrius ensina macetes dos fundamentos do basquete

Foi possível ver o norte-americano (19 pontos de média em dois jogos!) atuando ao mesmo tempo na quadra com Stefano e Gui Santos. O menino argentino, aliás, tem aproveitado a oportunidade e está ganhando confiança para merecer ser a sombra do gringo. Outra movimentação que vem acontecendo é o ala-pivô Gabriel Jaú explorar sua versatilidade, conduzindo a bola em algumas situações e flutuando para fora do garrafão como opção ofensiva. Dema, claro, explica melhor no áudio abaixo, em entrevista que fiz com ele na Panela após a peleja:

 

Fala, Anthony!

Anthony: 19 pontos de média até aqui. Foto: Victor Lira/Bauru Basket (foto Demétrius: João Pires/LNB)
Anthony: 19 pontos de média até aqui. Foto: Victor Lira/Bauru Basket (foto Demétrius: João Pires/LNB)

Conversei pela primeira ao vivo com o camisa 0 do Dragão — já havia o entrevistado remotamente. Para poupá-los da pronúncia macarrônica do meu inglês, segue em texto o que o armador respondeu sobre suas primeiras impressões do time, da Panela e do seu entusiasmo:

“A primeira impressão no ginásio foi boa. Gostei da torcida, gosto do meu time. Fiquei animado com a vitória e estamos crescendo. Eu treinei bastante nas férias e o treinador me colocou em boas situações de jogo. Tenho bons companheiros de time e estou orgulhoso de ser um deles. Tenho muito a aprender ainda, mas com o tempo vou melhorar”, disse Anthony. Com o tempo, ele vai deitar e rolar. Guardem o troféu de melhor armador do NBB pra ele.

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Demétrius: “Precisamos de um cara com a mão quente”

retranca-bauru-basketProcura-se um novo Robert Day. Esse é o perfil de ala, pontuador, que o Gocil Bauru ainda busca no mercado. Foi a pista que o técnico Demétrius Ferracciú deu após a estreia do Dragão no Campeonato Paulista — derrota para o Pinheiros por 67 a 58. Ao que tudo indica, será um gringo. Ao contrário de outras negociações, o nome ainda não vazou no campo das especulações — a não ser que Trey Gilder volte à baila.

Peguei carona na entrevista pós-jogo da Auri-Verde, conduzida pelo colega Lucas Rocha, na qual Dema falou, além dessa procura, sobre e a dinâmica do mercado basqueteiro. Emendei duas perguntas sobre o perfil do novo elenco, que aparenta trilhar o caminho de um jogo de mais intensidade.

O alvo

“Visando a temporada toda, precisamos de um jogador com característica parecida com a do Robert Day, um cara que tenha a mão quente. Mas são suposições. Não que não estejamos atrás desse jogador, mas temos que trabalhar com o que temos hoje e focar nesse entrosamento. Isso leva um tempo e o objetivo é alcançar esse padrão próximo aos playoffs [do Paulista].”

Mercado

“Havia jogadores que saíram que gostaria de contar. Mas foram situações de agentes, do mercado que deu uma inflacionada grande… O que temos que entender é que, às vezes, você tem a oportunidade, mas não tem a condição de fechar o negócio. Aí, a oportunidade passa. O mercado é muito rápido. Para nós, não é fácil essa situação de patrocínio e só temos que agradecer aos patrocinadores que estão investindo e acreditando no Bauru Basket. Só que a gente está um pouco limitado em relação a ter mais jogadores para ajudar a equipe.”

Elenco mais físico

“O objetivo é esse: ganhar em saúde, no sentido de ser um time físico para ter opções táticas com bastante variações, principalmente no setor defensivo, com trocas, sem corte, rebotes… Estamos estudando, analisando. Eu vou levar um tempo até fazer a equipe jogar do jeito que quero. Pode haver circunstâncias no meio do caminho que vou ter que mudar para adaptar os jogadores que vão chegar. Porque são jogadores diferentes, que não estão adaptados ao nosso estilo de jogo, mas ao mesmo tempo são de qualidade e isso pode facilitar.”

Primeira fase morna do Paulista

“Esse pode ser o lado bom, de ter uma tranquilidade para trabalhar o time e chegar a uma boa posição no campeonato. O Anthony chegou e pode nos ajudar bastante, desequilibrar. Vamos encaixando essas peças, que vão entrando no esquema para continuarmos brigando e mantendo o basquete de Bauru sempre em alto nível.”

 

Foto: Marcelo Zambrana/LNB

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Coluna

Neymar no PSG: transferência foi uma aula dos advogados envolvidos

De um lado, a notícia de que Neymar se transferiu para o Paris Saint-Germain por espantosos € 222 milhões, a transferência mais cara da história. De outro, a regra do “fair-play financeiro” estabelecida pela Uefa em 2011, visando evitar que um clube que disputa competições internacionais gaste mais do que ganha.

Diante desses dois cenários, como o PSG contratou Neymar?

Simples: o próprio Neymar comprou os seus direitos econômicos junto ao Barcelona, não havendo qualquer negociação direta entre os clubes. Isso mesmo. Neymar celebrou um contrato de prestação de serviços com um fundo de investimentos do Catar, vendendo seu direito de imagem como embaixador da Copa do Mundo de 2022 por € 222 milhões.

Com o dinheiro em mãos, foi até o Barcelona, depositou o valor da multa rescisória e se tornou um jogador livre. Nessa condição, assinou um novo contrato com o PSG, que apenas pagará as luvas e salários ao jogador (€ 30 milhões anuais), não efetuando qualquer pagamento ao Barcelona. Aliás, apenas a título de curiosidade, Neymar ainda não será o jogador de futebol mais bem pago do mundo, pois continua perdendo para Carlitos Tevez, que embolsa € 38 milhões por ano no Xangai Shenhua, da China.

A operação criada pelos advogados de Neymar e do clube francês foi digna de tirar o chapéu. Além de driblar o mecanismo do “far-play financeiro”, a não contratação direta pelo PSG reduziu drasticamente a carga tributária incidente na operação, que, segundo alguns jornais, poderia inclusive inviabilizar o negócio.

Além disso, com o pagamento da multa rescisória diretamente pelo jogador, em tese o Paris não teria que pagar ao Santos o percentual de clube formador (4% do negócio, quase R$ 33 milhões) pelo mecanismo de solidariedade da Fifa. Sabe-se, porém, que Neymar já teria solicitado ao PSG que arque com o valor devido ao clube paulista, que, inclusive, enviou notificação ao clube francês acerca do ocorrido.

Trata-se, portanto, de uma verdadeira tacada de mestre. Resta-nos saber se a Uefa, após a prometida investigação da operação, a manterá intacta, sem qualquer penalidade aos clubes e ao jogador. Enquanto isso não terminar, quem aprecia o Direito ligado ao esporte acompanha ansiosamente as próximas etapas do caso.

 

CARLOS ALBERTO MARTINS JÚNIOR é advogado, especialista em direito desportivo e atua no Freitas Martinho Advogados

 

Foto: C. Gavelle/PSG

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Bauru Basket

Vitinho Jacob: “Teríamos o mesmo êxito se Hettsheimeir tivesse ficado”

retranca-bauru-basketO Gocil Bauru Basket inicia hoje os trabalhos de seu elenco para a temporada 2017/2018. Com o status de campeão brasileiro, mas com uma realidade financeira enxuta. Não diria modesta, pois a estrutura da Associação tem resultado em pódios há pelo menos cinco temporadas. Como de costume, fiz uma longa entrevista com o gestor Vitinho Jacob. Aliás, ano passado não publiquei, porque a saída da Paschoalotto poucos dias depois da conversa desmanchou todo o cenário… Este ano deu certo, já faz algumas semanas do proveitoso papo de 40 minutos no escritório do clube. O que está transcrito abaixo é o diálogo na sua sequência original, da forma como o raciocínio foi construído e as perguntas foram surgindo. Vitinho fala com desenvoltura, no começo com a voz postada (pelo hábito das tantas entrevistas que concede), mas logo se solta, rimos juntos e a conversa fica no tom de uma boa resenha — bem que poderia ser chope, mas foi regada a café. A diferença de um ano para o outro, infelizmente: a mesa vazia do Biro (diretor da base, que faleceu dois dias após o título). E do Caio (Casagrande, ex-assessor de comunicação), que bateu asas, mas em seu lugar um reforço à altura, o colega Neto Del Hoyo, com quem botei o papo em dia. Aí chegaram o Joaquim (Figueiredo, ex-presidente), o Cassião (Cerimelli, vice do Conselho Gestor), mais café e prosa. O semblante deles ainda resignado pela perda, mas o entusiasmo de tocar o basquete, que o Biro tanto amava, brilhava nos olhos. Exposto o cenário, vamos lá. O texto é longo, mas muito relevante. Inclusive para quem não torce para o Dragão, pois Vitinho conhece como poucos a Liga Nacional e o produto NBB. Ele faz um balanço da última (e maluca) temporada, do planejamento da próxima e comenta o trabalho da LNB. Fala, Vitinho!

Vitinho Jacob
Fran, Biro, Vitinho e Caio: quarteto do escritório agora em ótimas lembranças. Foto: Reprodução Facebook

Foi uma temporada louca. Um ano atrás você não diria que seria campeão brasileiro…
Conscientemente, não. Mas eu sou um entusiasta de carteirinha e naquela discussão do Paulista, de colocar os adultos, eu disse ‘não, vamos segurá-los para o NBB.’ Eu fui questionado: ‘Se não vamos chegar a lugar algum no NBB, por que não colocar os adultos agora para tentar ganhar o Paulista?’ E eu falei: ‘Quem disse que não vamos chegar a lugar nenhum no NBB?’ Mas era mais um entusiasmo do que o racional. Obviamente, sempre acreditei no nosso time. Via os outros times, com Mogi e Brasília crescendo muito, montando times bons, o Flamengo mantendo a base e se reforçando e sabia que Vitória e Ceará viriam bem. Surpreendentemente, algumas coisas se inverteram, o Paulistano e o Pinheiros fizeram playoffs maravilhosos — nós também —, mas falar que contava com a final? Óbvio que não. Mas nunca deixei de acreditar no time.”

Houve algum momento em que realmente a equipe ficou em risco? Não digo em relação a deixar de existir, mas de manter um alto nível. Acabou mantendo Alex, Hett, Jefferson, Meindl, mas houve algum momento tenso de negociação, de dúvida mesmo?
Muito! Ali pelo final de junho, chegamos a ter praticamente certeza de que não haveria time. Aí, na composição da nova diretoria, a Paschoalotto assumiu algumas rescisões, os jogadores foram ficando em Bauru e nos dando coragem. Os patrocinadores que estão sempre com a gente, como Mezzani, Cral, Unimed, Zopone — a Sendi entrou… — foram nos dando força para acreditar, mas por um período o medo foi grande.”

E aí a Gocil entrou para complementar esse orçamento.
A Gocil entrou em setembro, aí sim nos deu uma segurança para continuar.”

Em que pé está o assunto Gocil e a promessa de renovação com aporte maior?
O contrato atual é até a primeira semana de setembro e ele [Washington Cinel, presidente da Gocil] nos pediu para conversar um pouco mais pra frente. Acreditamos na promessa dele, levamos isso em conta, mas não podemos garantir. Somente quando estiver assinado e majorado… Está fora do tempo e isso atrapalha um pouco, mas prefiro assim do que não tê-lo conosco. O certo é que entregamos muito mais em visibilidade e valor de marca do que a Gocil investiu.”

Entrevista Vitinho: Gocil
Washington Cinel, da Gocil, entre o presidente Fornazari e o capitão Alex: todos na expectativa do cumprimento da promessa de renovação. Foto: Caio Casagrande/Bauru Basket

Fora a Gocil, há alguma outra conversa para patrocínio máster?
A gente não para, né? Tenho conversado com várias empresas. O título brasileiro pode nos ter aberto outros caminhos, talvez com empresas maiores… Estamos correndo atrás.”

E disputar a Liga das Américas também é um reforço de visibilidade.
Sem dúvida! Começa em janeiro e dá uma visibilidade enorme, é a Libertadores do basquete. Eu já estava me preparando para jogar a Sul-Americana, quando ficamos em quinto na classificação da primeira fase. Eu avisei o time: ‘No limite, temos que manter o quinto pra jogar a Sul-Americana, que é atalho para a Liga das Américas.’ Mas conseguimos ir até a final e ao título, o que já nos deu vaga direta na LDA.”

Ao contrário de edições anteriores de competições internacionais, este não parece o momento de tentar sediar alguma chave em Bauru. O time vai voar por aí na competição…
Acho que sim. As definições de sedes serão em outubro, novembro, mas hoje a chance é zero. Quem sabe?… Não sabemos como vai estar a Prefeitura e nosso patrocinador, é questão para ver mais para o fim do ano.”

Falando em Prefeitura, houve um encontro recente do Bauru Basket com o prefeito Gazzeta e o deputado Pedro Tobias. O que saiu dessa reunião?
Foi mais uma aproximação. Pincelamos alguns assuntos, mas nada que a gente possa botar fé. Em outros momentos, conversando com o Gazzetta, com o Roger [Barude, vereador], com o Garrincha [secretário de esportes], existe sim a vontade de construir a arena. Está todo mundo se mobilizando, diferentemente de outros tempos. Antigamente, havia dinheiro, mas não havia projeto. Aí a Paschoalotto, através da Assenag, deu o projeto para a cidade. Aí não havia mais dinheiro! Quem sabe um dia haja vai haver dinheiro e projeto juntos.”

Você acha viável a hipótese de trazer alguma arena olímpica pré-moldada?
Eu acho que sim, totalmente viável. Mais barato, mais fácil e a readequação de local é simples. Se houver essa possibilidade, acho fantástico.”

Foi provisória lá na Olimpíada, aqui passaria a ser fixa!
Ah, a gente amarra, põe um guarda à noite. Daqui não sai mais!” [risos]

Voltando para a última temporada: a disputa do Paulista foi alvo de críticas. Aparentemente os adultos voltaram antes do planejado para garantir vaga nos playoffs… Valeu a pena colocar a molecada na fogueira? Vocês viram evolução dos meninos? Como foi lidar com aquela situação?
Dentro da diretoria, a avaliação é que o planejamento foi perfeito. Não mudamos nada e deu tudo certo. Conseguimos ir pra final, mas, independentemente disso, o planejamento foi correto, mostrou que chegamos inteiros no fim do NBB. Não foi só uma estratégia: não havia outra opção. Shilton e Valtinho se apresentaram em agosto, até por questões financeiras. Demétrius, Alex e Rafael [Hettsheimeir] na Seleção [Olimpíada], Jefferson e Léo voltando do Sul-Americano. Tanto para a evolução dos meninos quanto como pré-temporada foi perfeito. Claro que na final do Paulista, por não ter feito o campeonato inteiro, nos custou o título. Mas era o risco e Mogi estava num momento melhor, focado, pois precisava ganhar um título. Eu não mudaria nada, apesar das críticas injustas e pesadas. Como em toda temporada, aliás… Nossa imprensa é muito torcedora e não consegue entender que temos que pensar a longo prazo, de agosto a junho. Poderia confiar mais no nosso trabalho, estamos aí há nove anos, não somos aventureiros.”

Entrevista Vitinho: vice Paulista
O controverso vice estadual: passo atrás rendeu. Foto: Caio Casagrande/Bauru Basket

Naquela virada de dezembro para janeiro, alguns torcedores chegaram a pedir a cabeça do Demétrius. É um hábito mais futebolístico e é óbvio que nem passou pela cabeça de vocês. Mas como foi lidar com aquele turbilhão?
Foi bem difícil. Eu chamei o Demétrius, disse que é assim que funciona aqui, mas que confiava no trabalho dele. E a diretoria deu todo o respaldo. Ele disse ‘Estou acostumado com a pressão, já fui jogador, sou técnico, vamos continuar trabalhando.’ Em nenhum momento ele esteve sob risco. Ouvimos críticas até nos playoffs, mas faz parte.”

Como foi a reinvenção depois que o Rafael saiu?
Havia acabado o prazo de inscrições. Mesmo se tivéssemos dinheiro, não dava pra repor. Até a gente brinca que o time melhorou depois que o Rafael saiu, mas a grande virada do time foi antes. Depois da parada do fim do ano, perdemos para Mogi e fomos para Campo Mourão. Tivemos uma reunião do time que foi fantástica. Ali começou nossa virada — e o Rafael estava junto. O time começou a marcar melhor. Acho que teríamos o mesmo êxito, e até mais tranquilo, com o Rafael.”

Houve essa dedução de que a defesa melhorou sem ele, mas ele terminou o campeoanto como segundo melhor reboteiro…
Um dia, conversando com o Shilton, ele me alertou: ‘Vitinho, depois daquele jogo em Salvador, quando o Rafael fez duzentos pontos, nós não ganhamos mais nenhum jogo no ataque, só na defesa.’ Aí comecei a me lembrar, era verdade. Geralmente, quando o outro time não passava de 80, nós ganhávamos. Ganhar no ataque era um ou outro jogo, aí sim dependíamos muito do Rafael. Então, tem todo o mérito do Demétrius, mas essa mudança já vinha acontecendo e começou a dar certo no momento certo. O Bruninho [Camargo, preparador físico] tem um planejamento de picos de treinamento e sabe que em algum momento um jogador não vai render. Mas vai render na hora certa. Então, é tudo planejado pela comissão técnica e a diretoria aposta junto. Gostaria de frisar isso: o time não melhorou com a saída do Rafael, já estava melhorando. Se o Rafael continuasse, o Demétrius lidaria tranquilamente com esse balanço defesa-ataque.”

O intervalo do jogo 3 contra o Pinheiros foi o momento-chave da temporada. Doze pontos atrás, o clima no ginásio era de jogar a toalha, todo mundo de cabeça baixa. E de repente o time voltou atropelando. O que aconteceu no vestiário?
Normalmente, eu tenho o hábito de correr para o vestiário, entrar antes dos jogadores e ficar num lugar separado para eu perceber se tem alguma coisa. A comissão demora mais um pouco, primeiro pegam as estatísticas e conversam entre eles. O Demétrius dá aqueles minutos para os atletas. Então, eu vou antes e sinto: se eles querem conversar sozinhos, saio. Mas naquele momento eu faço mais parte dos jogadores do que da comissão técnica e às vezes até entramos em discussão. Naquele dia, como você disse, eu entrei de cabeça baixa, jogando a toalha. Aí vi uma conversa acalorada entre Alex, Jefferson, Shilton, todos falando o que estava errado, um olhando na cara do outro. Pensei: eles estão no jogo. Veio o Demétrius, corrigiu duas coisas taticamente, um acerto simples na defesa, outro no ataque. Todos concordaram, veio a mudança de atitude e aquela maravilha que vimos.”

Vitinho com a taça do NBB 9
Com a tão desejada taça: ele já tinha a de bronze e a de prata… Foto: João Pires/LNB

Sobre as polêmicas da decisão, das arbitragens, de suposta predileção da Liga pelo Paulistano, o famoso “mal podemos esperar”… Eu não caí nessa, pois a Liga é dos clubes. Pode ter havido equívocos, na forma de se expressar, na escalação de arbitragem, mas não consigo ver má intenção. E você que é integrante da diretoria da Liga pode dar uma noção dos bastidores, da organização, esclarecer isso. Pois não há como querer favorecer um se todos estão ali dentro…
Exatamente. Essa é uma opinião minha, do Vitinho pessoa física: tenho clara certeza de que não existe má-fé nem da arbitragem, muito menos da Liga Nacional. Claro que existem erros, mas se um dia entender que existem cartas marcadas, estou fora. Saio da Liga, saio do basquete. Então, acredito cem por cento que a Liga é idônea. E a arbitragem também. Claro que existe birra com um atleta, com um treinador, com um time, mas você viu: tivemos problemas com o Maranho aqui e depois ele apitou dois jogos serenamente. Não consigo enxergar nada de armação, apesar dos erros graves. A escalação do Chiconato [árbitro pivô da bola presa no jogo 3 da decisão do NBB 8] foi um erro gravíssimo. Quebrei o pau lá dentro da Liga. Lá é assim: nas reuniões o pau come! Saiu da reunião, somos unidos, fechados. O que está decidido é em prol dos clubes. No dia da escalação, tivemos discussão brava com o Bassul, a Flávia, o Sérgio, o Kouros, o Rossi, todo mundo! O erro não foi a escalação dele ali, mas não ter sido escalado [em jogos do Bauru] a temporada toda. Ele apitou apenas um jogo nosso em 38, aí apita a final? Se tivesse apitado cinco, seis jogos, estaria diluído, não teria problema. Ele apitou um jogo no Rio, contra o Vasco, todo mundo respeitou, apitou normalmente. Por que pouparam tanto? Deixei claro que não gostamos, que foi desnecessário. E depois eles concordaram. Sobre as redes sociais, foi uma besteira absurda, mas foi bom pra nós. Provavelmente quem escreveu quis dizer mal podemos esperar…”

… pelo jogo!
É óbvio! Eu entendi isso na hora. Mas como as pessoas não entenderam, pusemos lenha na fogueira, nos deu o combustível que a gente precisava. Aí na outra semana teve o #goCAP… Eles punham também #fogoneles! Mas se as pessoas só viam o #goCAP, deixa o pau torar! Enquanto foi combustível pra nós, valeu a pena.”

No que a Liga avançou em relação à organização do NBB e o que pode melhorar?
A Liga está crescendo passo a passo, muito bem. Agora que começou a ter independência financeira. Antes, dependia do Ministério do Esporte, depois da NBA. O próximo passo é aproximar a estrutura dos clubes da estrutura da Liga. Não acho que a Liga deva dar dinheiro para os clubes, mas tem que pagar transporte, alimentação, arbitragem, todas as despesas para jogar o campeonato — e os clubes ficam com suas folhas salariais. Esse é o intuito da Liga, quando tiver orçamento pra isso.”

A Avianca (parceira do NBB) dá passagens?
Deu cerca de 70 passagens para os clubes usarem durante a temporada. Com algumas particularidades, porque não temos Avianca em Bauru. Alguns times nem aproveitaram… Nós aproveitamos todas! Principalmente para os jogos no Nordeste. Usamos em Brasília também. O caminho é esse, aliviar as despesas dos clubes e deixá-los focados em sua estrutura interna. Esse é um sonho do Kouros [Monadjemi, primeiro presidente da LNB] desde o início: pagar as despesas dos clubes e ter dinheiro pra distribuir no fim da temporada, além das premiações. São coisas que ainda não aconteceram. Já está no momento de decidir. Se não houver dinheiro no orçamento para pagar arbitragem, temos que tirar de outro lugar. Mas a Liga tem que pagar a arbitragem. Teremos reunião de orçamento em agosto e os clubes estão fechados nisso. Tem que começar o orçamento a partir daí.”

Amistosos contra times da NBA é um assunto que está parado?
Não tem nada ainda, mas já comecei a cavucar. Vamos ver se a gente consegue alguma coisa.”

Há alguma regra? A vez de algum clube?
Não. Estão pensando em criar o critério, agora que estão criando uma nova empresa para a parceria NBA-NBB. Mas ainda não existe. Então, se conseguirmos alguma coisa para esta temporada, será por relacionamento. Existem ainda algumas conversas de fazer amistosos contra times da D-League [Liga de Desenvolvimento da NBA], contra times da Argentina e do Uruguai. Acho interessante aumentar esse intercâmbio com times fora do Brasil.”

Até porque aquele passeio na China não serve pra nada tecnicamente…
Tecnicamente, não. Fisicamente, não… É cansativo, há opções melhores.”

Vamos falar de futuro agora. Campeonato Paulista com molecada? Mesclado? A Seleção pode desfalcar o time…
Para as eliminatórias do Mundial serão ‘datas Fiba’ em novembro e fevereiro e o NBB vai parar nessas datas. Para o Paulista, temos o mesmo problema do ano passado. O time jogou até 17 de junho, teve compromissos até dia 20. Trinta dias de férias e agora precisam de pré-temporada. Anthony, Shilton e Alex só chegam em agosto, não dá para colocar os caras pra jogar! Eu vejo o time pronto no começo de setembro. Vamos ter um mês todo de Paulista até esse ponto. Um agravante é que nós não temos o número de jovens que tínhamos ano passado. Hoje temos cinco: Stefano, Gui Santos, Henrique, Jaú e Maikão. E só. Temos os meninos do sub-19, mas poucos têm condições de jogar um campeonato adulto. Estou com muito receio. Não há muito o que fazer.”

Como foi encarar a montagem do elenco depois do título?
Quando você fica para a final, já está fora do mercado. Eu tinha o costume de negociar em abril, maio, quando acabava o campeonato nosso time estava praticamente pronto. Nos últimos anos foi diferente. Agora, com o time campeão, tivemos o ônus do título, com a valorização dos jogadores e o assédio. Praticamente todos tiveram propostas de outros times e com valores bem acima. E a nossa receita não aumentou. Sinceramente, temos nossas prioridades. Não é possível renovar com todo o elenco. São os cinco meninos já garantidos e precisamos de sete adultos. Teremos todos no momento em que tivermos receita. As decisões passam por mim, pelo Demétrius, pelo Cássio e pelo Beto [Fornazari, presidente], que está à frente das negociações. Diferentemente de anos anteriores, este ano não estou negociando com atletas e agentes. Converso, tento ajudar, mas a parte financeira e a negociação dos contratos é o Beto quem cuida. Uma coisa é certa: não vamos fazer loucura, vamos trabalhar estritamente dentro do orçamento. O Anthony, por exemplo, foi uma oportunidade que o Beto teve de fechar antes, é um jogador diferenciado que vale a pena apostar.”

O título de alguma forma criou uma euforia fora da realidade financeira do clube? A ponto de o torcedor se surpreender de perder jogadores importantes…
Totalmente, cria sim essa euforia. Mas os jogadores se valorizaram, há times com apetite no mercado. O que temos a oferecer como diferencial é que jogaremos a Liga das Américas, temos uma estrutura boa, um grupo com relacionamento fantástico. Há dois pontos: o time melhorar a receita e os jogadores entenderem a realidade financeira.”

Entrevista Vitinho: Hettsheimeir
O cobiçado Hettsheimeir: predileção por Bauru. Foto: Caio Casagrande/Bauru Basket

Dos nomes que já circularam, o próprio Hettsheimeir faz campanha pra voltar, né?
O Hett é sempre bem-vindo! No momento que ele quiser. É da casa. O problema é que ele é caro, não temos orçamento para ele hoje, não conseguimos nem fazer proposta. No dia que tivermos, não tenha dúvidas: as portas estarão escancaradas pra ele. Existe o interesse eterno. Você viu como foi lá em Araraquara, a festa que ele fez com a gente.”

Em casos como o dele, há sempre aquela cláusula de não segurar o jogador quando há proposta do exterior?
Isso é caso a caso. Mas a minha opinião é que tem que vir e ficar. Não dá pra acontecer de novo o que aconteceu com o Rafael. Na época, foi uma condição para ele renovar e nós precisávamos dele. Mas não dá… É melhor já ter o time seguro, o treinador saber com quem vai contar. Claro que podemos começar o Paulista com um time e, com a renovação da Gocil e a entrada de outro máster, ir melhorando. Pode surgir uma opção estrangeira, uma questão de momento.”

O Jaú, depois de ter estourado, chegou a ser especulado fora. Está garantido?
Totalmente. Ele tem contrato até o final de 2018, com multa rescisória. E o Jaú é um moleque cabeça boa demais. Sabe que ainda não está pronto.”

Tomou muita bronca nos playoffs!
Você não imagina nos treinos!”

E assim aprendeu muito. Quem vê de fora pode ficar com dó do garoto, eram Shilton, Alex, Jefferson na orelha dele, depois o Dema…
Só porrada. [risos] Com todos eles. O Alex e o Shilton conversam com os meninos, dão dura. É uma escola pra eles. São privilegiados de treinar todos os dias com esses caras. Estão evoluindo muito.”

Depois do bom começo no Paulista, o Maikão não teve uma temporada tímida? Ou cada um tem o seu jeito de amadurecer?
Acho que cada um vai ter sua oportunidade no momento certo. Pensando friamente, com a saída do Rafael, o espaço era do Michael. Mas o Jaú aproveitou lá em Brasília e o treinador também observou nos treinos. Existem algumas dificuldades do Michael que estão sendo trabalhadas pontualmente e o Demétrius conta com ele. Ele jogou muito contra o Pinheiros no jogo 2, mas o Demétrius conhece o time, o dia a dia e sabe que tem que tirar depois para não queimar o garoto. Em playoffs não dá pra fazer experiência. Agora, esses meninos vão ter de novo um Paulista pra jogar e a Liga de Desenvolvimento sub-20.”

Falando em LDB, pra finalizar: em que pé está essa queda de braço da Liga com a CBB? Tudo o que não precisamos agora é de problema interno no basquete brasileiro…
A CBB fez várias solicitações à Liga, que abriu mão de campeonatos sub-15 e sub-17 que já estavam organizados. Ela pediu a última instância do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e a Liga cedeu. A Liga Ouro… Posso falar pela intenção da Liga: zero de conflito, temos que trabalhar de mãos dadas. A essência é a Liga realizar o campeonato nacional e a CBB cuidar de seleções e formação. Perfeito. Por que a Liga começou a fazer a base? Porque a CBB não fazia. Alguém tinha que fazer. A base não está no escopo da Liga, que foi criada pra fazer o campeonato adulto. Mas a LDB deu tão certo — e faz parte do adulto — que a Liga tem um pouco de receio sobre como vai ser conduzido. Minha opinião é que seja conduzida a quatro mãos nos dois primeiros anos e depois a CBB assumir, sem problema nenhum. A ideia dos clubes é trabalhar em prol do basquete, até porque, com a punição, os únicos prejudicados foram os clubes. Bauru, Flamengo e Mogi proibidos de disputar a Liga das Américas… E uma geração de ouro do sub-19, com Jaú, Michael, Yago e os meninos do Pinheiros, não pôde disputar o Mundial.”

 

Dias depois, Vitinho foi anunciado como diretor de patrimônio do Noroeste, uma estratégia de aproximação das principais modalidades do esporte bauruense. Pedi a ele, via Whatsapp, para comentar essa novidade e o como ele atuará:
É uma primeira aproximação das modalidades buscando o bem comum. Já existe um relacionamento muito bom, de longa data, somos todos amigos. Já conversamos e trocamos ideias toda semana. Agora vamos buscar caminhos que possam beneficiar todos. Óbvio que não é fácil, cada um tem seus interesses. Particularmente, meu tempo é cem por cento focado no Bauru Basket, mas vou participar do Noroeste em discussões de ideias, planejamentos. O Reinaldo [Mandaliti, vice de futebol] vai estar mais à frente, no dia a dia, e eu vou tentar colaborar no que puder.”

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Reinaldo Mandaliti: “Bauru é grande no esporte”

retranca-ECNO escudo que abre esta matéria é o do Noroeste, mas cabem os demais, como pensa o entrevistado. Reinaldo Mandaliti assumiu há poucos dias a vice-presidência de futebol do Noroeste, ao mesmo tempo em que segue sendo o homem-forte do Vôlei Bauru. É o elo mais forte, hoje, da união formalizada na diretoria do Norusca, que ainda tem Vitinho Jacob (diretor técnico do Bauru Basket) como diretor de patrimônio e Neto Ranieri (gestor da FIB Futsal) como diretor social.

A chegada da família Mandaliti ao cenário noroestino é na verdade um retorno. Valdomir Mandaliti, pai de Rodrigo e Reinaldo, foi presidente do Noroeste. E os irmãos têm ajudado financeiramente o clube desde 2015 — na última reunião do Conselho Deliberativo, inclusive, registraram como doação todos esses valores.

Fala, Reinaldo Mandaliti

A seguir, uma breve entrevista com o novo vice-presidente de futebol sobre essa união das modalidades que tanta esperança despertou nos bauruenses que gostam de esporte.

Essa união pode gerar um grande intercâmbio. Como o know-how de um pode ajudar o outro?
Não tem outro jeito de pensar o esporte se não for assim. Não pode ter a vaidade de não unir, de não economizar, de não criar um projeto maior, um valor na marca dessa união. Por que um patrocinador do basquete não pode aparecer nos três esportes e ter uma mídia maior? Por que não ter um sócio-torcedor único? Dividir a renda e melhorar, não prejudicando nenhuma das modalidades. Há várias coisas que dá pra criar. Temos que nos unir e diminuir despesas. Por que o Vanderlei [Mazzuchini, gestor do Vôlei Bauru] não pode administrar o Noroeste e o Vôlei Bauru? Por que não podemos unir as fisioterapias do Noroeste e do Bauru Basket? A máquina de gelo do vôlei faz 180kg por dia, pode ser dividida por todos. A preparação física pode ter um líder e vários estagiários. Temos que criar formas de baratear os projetos, aumentar a exposição para ficar acessível aos empresários.

Mas, a princípio, cada um com seu CNPJ?
Sempre será cada um com seu CNPJ. Mas eu já disse ao Estevan que vou ter uma reunião com a diretoria do vôlei: pretendo jogar, além do símbolo do Vôlei Bauru, com o símbolo do Noroeste. Acho que temos que unificar isso. E por que não ter o Dragão na camisa do Vôlei? Temos que pensar nisso, levar essa marca, dizer que Bauru é grande no esporte. Nenhuma cidade do interior do Brasil tem tantas modalidades fortes. Que venha o fustal também! [Veio! Entrevista antes do convite a Neto Ranieri] E na base podemos chamar a ABDA… Esses times têm mais exposição, a ABDA tem o lado social — como o Vôlei Bauru tem um projeto agora. Queremos conversar com a ABDA, falamos com o hipismo da Hípica, com o próprio Bauru Basket. Base temos que tratar todos juntos. O futsal pode ser trampolim para a base do Noroeste: Neymar e Robinho saíram do futsal… Temos que aproveitar essa integração e ter o esporte mais forte ainda.

Em 2015, eu entrevistei o Rodrigo Paschoalotto e ele falou desse desejo de unir os esportes e mencionou seu nome. Faço esse resgate para mostrar que é algo que já vinha sendo conversado e é um desejo de quem gosta do esporte em Bauru e tem condições de lutar por ele. O primeiro passo foi dado agora, certo?
Eu e meu irmão Rodrigo conversávamos com o Rodrigo Paschoalotto o tempo inteiro. Vamos baratear, acertar… Mas encontramos alguns obstáculos que agora, depois de um tempo, foram superados. Hoje o Brasil está em crise, há pouco dinheiro para o esporte, há times se deteriorando porque não há patrocínio. É necessidade versus possibilidade. Conversamos que era preciso nos unir, que não adianta ficar vivendo de mecenas, senão não haverá esporte. Uma hora eu vou me cansar, uma hora o Beto [Fornazari, presidente do Bauru Basket] vai se cansar, o seu Damião se cansou… Então, temos que fazer o esporte ter vida única, perene, um projeto com as próprias pernas.

E sua situação como dirigente? Continua firme no Vôlei Bauru? Vai concentrar forças no Noroeste?
Como o treino é na Panela, chego cedo no dia que marcar. Depois fico até nove, dez da noite no Noroeste para poder me dedicar. Quero ajudar o Noroeste, torná-lo forte, quero que suba. Vou dar o meu melhor. Quando entrei no vôlei com meu irmão, era para chegar na Superliga. Somos teimosos. Já falei para o Estevan que o Noroeste vai subir. Esse é o objetivo.

Houve burburinho nos últimos tempos, de ter que sair um para entrar o outro. E vocês conseguiram formatar uma diretoria com todos que querem ajudar o clube.
O Noroeste é mais importante do que o Reinaldo, o Estevan, o Beto, o Vitinho Jacob, qualquer pessoa. Acertamos os pontos, decidimos que as decisões têm que ser coletivas, está tudo certo.

 

Foto: Neide Carlos/Vôlei Bauru