Coluna da semana fala diretamente com o presidente noroestino, cujo silêncio atrasa preparação do clube para a Série A-2
Texto publicado na edição de 21 de novembro de 2011, no jornal Bom Dia Bauru
Carta para Damião
Senhor Damião, vá descansar. Imagino como esses dias devem estar sendo difíceis. Cogitar romper um compromisso, ainda mais com seu querido Noroeste fora da elite. Mas, fique tranquilo. Ignore essa questão de honra de devolver o time à primeira divisão. O Norusca ainda vai cair e subir muitas vezes. Esse peso não está (só) nas suas costas. Se o senhor pensa que, saindo, fará mal ao Alvirrubro, saiba que seu silêncio é mais danoso. O clube está refém da sua palavra final, do cheque que assina – e que anda chegando cada vez mais atrasado…
Mesmo o mais ferrenho dos seus críticos há de ter sensibilidade com o momento que o senhor atravessa. Não soltará rojões quando se retirar, respeitando seu momento debilitado, desanimado, entristecido. Só o Conselho Deliberativo está fora da realidade, pois só faz rezar por sua permanência, imaginando que seja um garotão de 30 anos cheio de energia.
Os conselheiros se perguntam quem vai encarar o cargo. Mal acostumados com sua gestão mecenas, acham ser atribuição do presidente por a mão no bolso. Isso não está escrito no estatuto que aprovaram. O novo presidente tem que fazer o dinheiro chegar, com boa gestão, criatividade. Dinheiro inclusive seu, se quiser continuar patrocinando o clube com sua Kalunga.
Agora, se o dinheiro não vier, se o empresariado não apostar nesse clube glorioso e centenário, a culpa não é sua. Se o Noroeste acabar, será apenas um desfecho adiado por oito anos, graças à sua atuação. Que não foi brilhante, diga-se. A identidade do time com a cidade é menor, hoje, muito por conta dessa lacuna entre Bauru e São Paulo, por mais que seu helicóptero chegue rapidinho aqui; a Série B do Brasileiro foi só um sonho; a equipe se notabilizou nas últimas temporadas pela falta de garra e comprometimento, o que não deixa de ser reflexo do ambiente externo.
Ainda sobre o dinheiro, que move o futebol: são R$ 12,2 milhões registrados no demonstrativo financeiro do clube, até dezembro passado, devidos ao senhor. Que sempre disse que nunca vai cobrar um centavo de volta. Então, perdoe a dívida de forma oficial, para ela sair do balancete. Será sua última declaração de amor ao Norusca.
Enquanto isso, funcionários noroestinos manifestam insatisfação e preocupação nas redes sociais, porque o pagamento está atrasado. A torcida mais teme a Série A-3 do que sonha com a A-1, pois a menos de dois meses do início do campeonato, não há diretor, nem treinador, nem reforços. Estão todos esperando que o senhor se manifeste.
Se dedicir permanecer, imagino que já encontrou outro braço direito, como era Beto Souza, para ser seu homem de confiança por aqui, pois é sabido que o senhor não tem condições de tocar esse barco. Seus filhos começaram a atuar no clube para agradá-lo, vigiar seu dinheiro, não sei se vão querer seguir seus passos. Fernando virou agente de jogadores e é persona non grata em Bauru; o sonho de Paulo é presidir o Corinthians; resta saber se Beto Garcia encara, mas está muito ocupado com o plano de expansão da rede de varejo que o senhor fundou – ou com a venda dela, especula-se.
Damião, se vier a Bauru nos próximos dias para dizer que está tudo bem, que segue no clube, apresentando diretor, treinador, contratações e disser que está difícil, que ninguém apoia, será apenas mais do mesmo. O que todos querem saber é o que acontecerá no final de fevereiro de 2012, quando termina seu mandato. É exatamente nessa data que penso que o senhor tem que ir descansar. Veja que louvável: montar o elenco e preparar o clube para a transição.
A torcida do Noroeste, hoje, é pequena, mas fiel. Vai acompanhar o time em qualquer divisão. E, claro, agradecer pela sua contribuição, pelos acessos, pela Copinha de 2005 e sobretudo por aquele timaço de 2006. Só que essa gratidão está se desfazendo. Vá descansar logo, antes que ela acabe.