São dois os feitos históricos do Sesi Vôlei Bauru nessa vitória por 3 sets a 1 (parciais de 26/24, 25/27, 23/25 e 19/25) sobre o Sesc Rio. Primeiro, e mais importante, a primeira semifinal de Superliga feminina da história da Cidade Sem Limites. Segundo, e mais fantástico: impor ao técnico Bernardinho sua primeira ausência entre os quatro melhores da competição desde que iniciou seu projeto.
Foram 21 temporadas ininterruptas como semifinalista, do Rexona (ainda em Curitiba) da temporada 1997/1998 ao Sesc Rio de 2017/2018. Doze títulos, cinco vice-campeonatos, três medalhas de bronze e um quarto lugar. Vinha de quatorze finais seguidas. Agora, controle remoto. É um feito e tanto das gigantes bauruenses. Quebrar uma hegemonia e, quem sabe, inaugurar uma nova história vitoriosa. Curiosamente — e preocupante —, duas belas equipes sob o incentivo do ameaçado Sistema S.
Assunto para outra hora. Por ora, apenas aplaudir as novas semifinalistas. Exaltar seu grande feito. E desejar que curtam cada gota desses playoffs. Pode haver gole de champanhe no final. Nada é impossível para quem destronou Bernardinho.
Fernando Beagá
Foto: Marcelo Ferrazoli/Assessoria Sesi Vôlei Bauru
Após a vitória de seu Rexona Sesc Rio sobre o Genter Vôlei Bauru, por 3 sets a 1, Bernardinho foi rapidinho para o vestiário. Sabia que não iria embora tão cedo, pelo volume de pessoas que iam pedir uma selfie com o técnico campeão olímpico, mundial, brasileiro, das galáxias. Eu e os colegas de imprensa ali, matutando. Abordei o supervisor do time que, gentilmente, levou-nos à porta do vestiário para sermos atendidos pelo treinador.
Simpático, solícito, mas agitado, naquela pilha já pensando no próximo compromisso profissional — uma viagem ao Paraná nesse sábado. E fiquei me perguntando: um cara que ganhou tudo, tem independência financeira, que fica dias fora de casa nessa incessante busca de vitórias, tem que ter uma grande motivação continuar na estrada. Perguntei a ele qual era e ele contou história:
“Vou dizer pra você uma coisa: ganhei esse trofeuzinho aqui dos pais de um menino que começou a jogar vôlei com a gente, nas nossas escolinhas. Os pais contaram que ele, antes de jogar vôlei, era muito agitado, tinha problemas, tomava medicamentos. Passou a jogar, a conviver com as pessoas e hoje ele é querido. No aniversário dele, ninguém ia; agora, todo mundo vai. E ele parou de tomar remédios. É um outro menino. Isso é o que conta, isso é o que a gente leva. O carinho das pessoas, o reconhecimento dos pais, poder fazer com que os jovens tenham oportunidade de praticar um esporte e viver os valores do esporte. Não tem preço. Se de alguma forma eu vou continuar por aí, tenho certeza que quero continuar ensinando. Não sei até quando vou continuar à beira da quadra, um dia vou ter que parar, mas poder de alguma forma transmitir isso para as pessoas é muito legal”, relatou Bernardinho.
AMULETO DE BAURU
Seguindo com seu relato, Bernardinho disse ter se emocionado com o abraço de uma senhora: “Acabou de vir uma senhora que tem problema de audição e que veio falar comigo do jeito dela, que torcia sempre por mim, chorou e me abraçou. Essa é a emoção que eu levo, o carinho das pessoas”.
O treinador ainda revelou que, na partida de novembro do ano passado entre Bauru e Rio, ele ganhou um objeto que se tornou um amuleto para a disputa da Olimpíada, quando conquistou o ouro com a Seleção masculina.“Ano passado, aqui, um senhor me deu um crucifixo e disse ‘Boa sorte na Olimpíada, leva com você’. Está aqui até hoje. Eu levei porque foi com tanto carinho, tanta sinceridade, tanta consideração, que levei comigo para a Olimpíada, estava na minha mochila. E fomos campeões olímpicos. Tenho certeza que lá no cantinho dele , ele pensou nisso. É esse carinho que nos faz seguir em frente”, contou, lamentando não ter reencontrado esse senhor nesse retorno.
Bernardinho nos cumprimentou e seguiu em frente, porque ainda tem muita gente pra abraçar por aí.
(Direto da Panela) É praticamente outro elenco, é outro treinador, mas não tinha jeito: a vitória do Vôlei Bauru sobre o Rio de Janeiro há um ano servia como combustível para acreditar em outro triunfo. Tanto que o próprio Bernardinho, na entrevista pós-jogo, reconheceu que havia em suas comandadas essa pulga atrás da orelha. Mas, dessa vez, não deu. O Rexona venceu por 3 sets a 1 (parciais de 25 a 18, 22 a 25, 25 a 19 e 25 a 17), mantendo a invencibilidade e chegando à liderança. Já as bauruenses agora somam duas derrotas em três jogos, permanecendo na metade de baixo da classificação. O próximo desafio do Genter será contra Valinhos, fora de casa, no próximo dia 18 (sexta), às 19h30.
Apostando na formação com Juma, Valquíria, Angélica, Rivera, Mari Cassimiro e Thaisinha, além da líbero Brenda Castillo, o técnico Marcos Kwieck viu suas comandadas manterem o equilíbrio no primeiro set até a metade da pontuação, quando as cariocas deslancharam.
O melhor momento das gigantes foi a segunda parcial, sabendo explorar os erros adversários, mas houve o susto de permitir a quebra de quatro set points antes de fechar em 25 a 22. Foi nesse segundo set que a ex-Bauru Camila Adão entrou em quadra e não foi poupada pela torcida local.
No terceiro set, o bloqueio carioca funcionou logo de cara, Kwieck trocou Lyara por Juma para tentar a reação — que aconteceu, encostando em 20 a 17 —, mas falhas seguidas de Rivera decidiram a parcial a favor do Rio. A camisa 14 acabou sendo vaiada pela torcida… Meio precoce essa cobrança, mas pagaram ingresso e a bronca é livre.
O último set da partida marcou a estreia da ponteira Mari, que por alguns minutos esteve em quadra para sentir o jogo, quebrar o gelo mesmo. Foi bastante aplaudida. Juma voltou para a partida, Dayse e Bruna Honório também tentaram ajudar, mas foi a fração mais tranquila para as cariocas.
ABRE ASPAS
Mari comentou como foi sua estreia e a importância de enfrentar adversárias do mais alto nível:
O técnico Marcos Kwieck analisou a partida:
FALA, BERNARDINHO
“Foi importante a vitória aqui hoje, diferentemente do ano passado, quando a gente sofreu mais. Com certeza a derrota do ano passado estava na cabeça das meninas, com receio de a torcida se inflamar e não conseguirem se recuperar. Soubemos controlar os nervos depois da derrota no segundo set e voltar bem no terceiro. Tenho certeza que três pontos aqui são muito importantes, porque Bauru, em casa, vai complicar a vida de muita gente grande”, disse o treinador do Rio, que ainda fez uma revelação, que você pode conferir aqui.
CASA CHEIA
A partida registrou bom público, claro que muita gente atraída pela força do Rio de Janeiro e o carisma de Bernardinho, mas desde que a bola subiu pela primeira vez o apoio para as gigantes bauruenses teve muito mais decibéis. Terminada a peleja, as atletas do Rexona atenderam o público com muito carinho e paciência, sobretudo a líbero e multicampeã Fabi, que demorou mais de meia hora para conseguir ir para o vestiário. Já o treinador, ciente da muvuca que provocaria, foi para os vestiários, de onde atendeu a imprensa antes de sair discretamente pelos fundos. Parou, entretanto, para atender aos sortudos que cruzaram seu caminho.
Pois é. Todo mundo já sabe do feito, aliás, este blogueiro está atrasado. Porque estava na festa da Nina — uma graça, aliás, temático dos Detetives do Prédio Azul, quem é pai sabe e deve assistir também — e foi dormir sem saber o resultado. No outro dia, assunto da manhã e eu: o quê??? Incredulidade natural, sem desmerecer as meninas. Estavam em sua segunda partida na história da Superliga, contra as atuais tricampeãs. A exemplo do que ocorreu contra Osasco, seria normal perder, mesmo na Panela. Mas ganharam. E como ganharam!!!
Mesmo com atraso, vale o registro. Uma vitória que já escreve um primeiro belo capítulo do Concilig Vôlei Bauru em sua trajetória no nacional. O primeiro triunfo na Superliga logo em cima das comandadas do multicampeão Bernardinho. Com garra, com alternância de placar, com viradas. Logo no primeiro set, um adverso 16 a 22 virou 26 a 24. Depois da resposta categórica do Rexona/Ades/Rio de Janeiro no segundo, por 25 a 17, as meninas controlaram todo o galope do placar na terceira parcial, fechando em 25 a 22. E fecharam num emocionante quarto set (27 a 25), salvando set point das cariocas. Foram 2h15 de muita vibração na Panela.
Triunfo para dar moral e que pode pesar na classificação final, pois não é todo dia que alguém bate as campeãs brasileiras, mesmo em casa. E principalmente para atrair mais torcedores. Nessas duas primeiras partidas, é inegável que muita gente foi ver Camila Brait, Ivna, Bernardinho, Natália… Mas que acabou se contagiando pela garra das gigantes e viu que outros grandes jogos vêm pela frente.
“Só quem convive em nosso dia a dia sabe da dedicação e empenho dessas meninas. Após o jogo contra Osasco, nós viemos treinar no domingo e todas estavam focadas em melhorar para esse jogo de hoje. Elas são muito merecedoras por essa vitória, pois estão ralando muito nos treinamentos para jogar em alto nível como nesta noite”, celebrou o técnico Chico dos Santos, via assessoria.
“Temos que saber que foi apenas o segundo jogo de uma longa jornada, não podemos nos empolgar demais com esse ótimo resultado. Que ele sirva de inspiração para muitos outros”, disse a ponteira Mari Cassemiro, maior pontuadora da partida (19 pontos) e eleita melhor em quadra.
O próximo desafio do Vôlei Bauru é neste sábado, às 19h30, de novo na Panela, contra Valinhos.