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Argentina 4, Brasil 1, fora o tango

(Primeira página, edição 2) Parecia jogo de campeonato estadual. O time interiorano acuado, zonzo, assistindo de dentro de campo o time grande trocar passes. Mas era o maior clássico da América do Sul. O time pequeno em campo tinha cinco estrelas sobre o escudo, tomando olé da atual campeã mundial, que fez valer, por 90 minutos, essa credencial.

O técnico vencedor, Scaloni, foi muito elegante em valorizar a história brasileira. Não tripudiou. O mais próximo do deboche foram as embaixadinhas do goleiro Martínez e alguns diálogos provocando Raphinha — que pediu por isso, na entrevista a Romário que já está tatuada em seu currículo, ao falar de “porrada”.

O camisa 11 brasileiro poderia falar em jogar bola, coisa que só os hermanos fizeram, de um jeito muito desconcertante. A ponto de me fazer adiar buscar o copo d´água na cozinha, receoso de perder o próximo gol.

A Argentina jogou bola. Muita bola. O Brasil está perdido. Quis Ancelotti, tapou com Diniz, esperou em Dorival o arroz e feijão que não veio. Nem o básico se vê em campo. A receita desandou.

Se o 7 a 1 foi estonteante, naquele “virou passeio” em poucos minutos de agonia, este 4 a 1 foi consistente, revelador, um dolorido diagnóstico: a um ano da Copa, o hexa parece um delírio.

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Qual a posição de Danilo na seleção?

A lista de Dorival Júnior para as partidas contra Argentina e Colômbia pelas eliminatórias, como de costume, não trouxe muitas surpresas. O novato, o lateral-direito Wesley, do Flamengo, era o óbvio ululante. Paquetá fora, por contusão, evita o constrangimento de estar na lista com julgamento marcado na Inglaterra, que pode bani-lo do futebol. Neymar dentro, pois ninguém ousaria ignorá-lo, estando saudável.

Surpresa, talvez, a ausência de um centroavante de ofício, considerando que Matheus Cunha agora é meia e teve a boa fase premiada. João Pedro é o mais próximo do que ainda costumamos chamar de “camisa 9” em tempos de numeração fixa. Endrick poderia estar na lista. Ser reserva de MBappé no Real Madrid não diminui sua qualidade – e o moleque tem estrela.

Mas a boa discussão da convocação é a presença de Danilo. Entre os jogadores mais criticados nos últimos jogos da seleção, por não ter o mesmo vigor físico de outrora como lateral, o jogador reapareceu bem como reforço do Flamengo, atuando como zagueiro (função que já vinha exercendo na Juventus).

Dorival fez uma pegadinha. Anunciou a lista com “defensores”, unindo laterais e zagueiros. Na real, tem Wesley e Vanderson como laterais-direitos e apenas Arana para a lateral-esquerda. Danilo é o coringa (já jogou na esquerda até na última Copa do Mundo) e o treinador sugeriu aos jornalistas que fizessem o exercício criativo de imaginar o que ele fará com seus “jogadores versáteis”.

Verdade seja dita: Danilo está na lista porque começou bem no Flamengo, isto é, manteve-se em evidência e, principalmente, porque ele é o capitão de Dorival até aqui. Se haverá uma transição, se Neymar assumirá a braçadeira, saberemos mais tarde. Mas, como é de costume com treinadores brasileiros (Tite, Felipão e cia.), confiança e gratidão são tão importantes quanto desempenho.

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Dança, Tite: Brasil 4, Coreia do Sul 1

A vitória do Brasil por 4 a 1 sobre a Coreia do Sul foi a famosa goleada “fora o baile”. Daqueles bem dançantes. Tanto que até Tite entrou na dança, com seu pombo desajeitado, mas felizão. Deixe digam, que pensem, que falem, Tite. Não houve deboche. Só alegria mesmo.

Como não ficar feliz um treinador que viu 45 minutos de puro entretenimento? Ok, a Coreia do Sul escolheu um jogo franco e concedeu os espaços. O mérito está em aproveitá-los de forma tão categórica — com velocidade e plasticidade.

No terceiro gol, o Pombo virou foca, entregou para a dupla de zaga (ou de ataque) que fez linda tabela para devolver ao camisa 9. Na comemoração, a já citada festa do professor.

No quarto gol, mais um deleite: a colherada de Vini Jr (autor do primeiro) que encontrou Paquetá. Merecido gol do camisa 7, tão operário, que tem corrido dobrado para fazer o quarteto ofensivo brilhar.

Vale ainda registrar que o goleiro sul-coreano gingou o quanto pôde para realizar a façanha de defender um pênalti de Neymar. Terminou de joelhos, inerte. O segundo tento brasileiro marcou o retorno de seu craque, que se poupou das divididas, mas ainda assim deu outro ritmo ao time. Não fez a prometida comemoração, que iria destoar das coreografias.

No fim, ele e Danilo (que fez bom papel na lateral-esquerda), duas crias da Vila Belmiro, puxaram a homenagem ao Rei Pelé, cuja internação mantém o mundo da bola em alerta.

Contra a Croácia, na próxima sexta, os minutos poupados na terceira rodada poderão ter efeito. Os vice-campeões mundiais vêm de uma prorrogação. O Brasil, de um baile.

 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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Bem amargo: Brasil 0, Camarões 1

Nem o clichê de que perdeu na hora certa — pois a derrota para Camarões por 1 a 0 não tirou a liderança do Brasil no grupo G — tira o gosto amargo de ser derrotado em uma Copa do Mundo. Nem o fato de França, Espanha e Portugal também terem perdido nesta terceira rodada consolam. Afinal, a partir de agora a seleção joga contra um tabu: sempre foi campeão invicta.

Não condeno a escolha de Tite — e a mencionei no último post. Os problemas físicos que se acumulam (Alex Telles e Gabriel Jesus são as novas preocupações) justificam a cautela. O espanto foi ver o qualificado time reserva desperdiçar uma excelente oportunidade de impressionar o treinador. Sejamos justos: Ederson, Fabinho e Martinelli foram muito bem. Alguns medianos, como Dani Alves (sim!, ofensivamente, mas vulnerável na defesa), Militão e Rodrygo. Mas Bruno Guimarães e Antony, que alguns clamam por titularidade, foram mal. E Jesus segue zerado em mundiais.

Houve volume ofensivo, chances desperdiçadas, defesas difíceis do goleiro camaronês. Tudo isso é verdade. Mas merecer ganhar não garante uma Copa do Mundo.

Para as oitavas, contra a Coreia do Sul, anuncia-se o retorno de Danilo — sem Alex Sandro e Alex Telles, talvez seja improvisado na lateral-esquerda, onde já jogou nos tempos de Manchester City; e Militão voltaria a atuar na direita. Fica a dúvida no meio (se Paquetá ao lado de Casemiro, com Rodrygo na frente, ou adiantado, com Fred e Guimarães disputando vaga).

Provável escalação: Alisson; Militão, Thiago Silva, Marquinhos e Danilo; Casemiro, Paquetá e Rodrygo (Bruno G. ou Fred); Raphinha, Richarlison e Vini Jr.

Não se deveria temer a Coreia do Sul, goleada recentemente pelos brasileiros em amistoso. Mas a pulga está instalada. E quem festejou a ausência de Neymar não deve estar a fim de ganhar o hexa.

 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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O rumo do hexa: Brasil 1, Suíça 0

É Casemiro, o autor do gol da vitória sobre a Suíça (que garantiu ao Brasil vaga antecipada nas oitavas da Copa do Mundo de 2022), a referência do time canarinho. Ou, metaforizando a partir de sua posição, volante, é quem dá o rumo. O rumo do hexa.

Não pelo gol de hoje, que apenas enriquece a história. O camisa 5 é onipresente. Está nos desarmes, nas coberturas, na construção das jogadas e… na conclusão delas. Da bola na trave da estreia ao belo tento, suas investidas têm sido cruciais como alternativa contra defesas vigilantes como a da Suíça — que impôs mais dificuldade ainda do que a Sérvia.

Foi um jogo de paciência, resolvido apenas aos 38 minutos do segundo tempo. O termo sufoco, entretanto, só cabe na percepção de que o ataque brasileiro finalizou menos do que deveria e um eventual empate poderia ser traiçoeiro para a definição do grupo G. Defensivamente, não houve susto algum. O goleiro Alisson não sujou o uniforme.

Não sofrer gols — e é difícil vazar a equipe de Tite, que teve Militão muito bem na lateral-direita — é quesito fundamental para, no mínimo, levar um mata-mata para a disputa de pênaltis. Para evitá-la, porém, é preciso balançar a rede. A apresentação desta segunda preocupou nesse sentido. Apenas nove finalizações, com Richarlison desta vez apagado, Raphinha discreto e Vini Jr., apesar de criativo mais uma vez, fominha além da conta. Neymar? Fez falta, sim.

A opção inicial de Tite por Fred, adiantando Paquetá, não funcionou. Apesar de a Sérvia ter defendido com linha de cinco, a Suíça parecia muito mais compactada e recuada (com suas duas linhas de quatro) e ofereceu pouco perigo para justificar dois volantes brasileiros. Mas o treinador não desfez a ideia no intervalo, apenas trocou Paquetá por Rodrygo, mais inventivo — como foi, de fato, com sua assistência. Já a troca seis-por-meia-dúzia de Fred por Bruno Guimarães valeu para o camisa 17 passar na frente na fila de oportunidades.

Apesar de ainda não ter garantido a primeira posição do grupo, é provável que Tite poupe boa parte da equipe contra Camarões. Afinal, as oitavas já serão 72 horas depois. Arrisco até a escalação:

Ederson; Dani Alves, Militão, Marquinhos e Alex Telles; Fabinho, Bruno Guimarães e Rodrygo; Antony, Richarlison e Vini Jr.

Manterá os mais saudáveis e fominhas. Descansará gente fundamental como Thiago Silva e Casemiro. Everton Ribeiro e Pedro ainda aguardam suas oportunidades. Talvez no segundo tempo.

A exemplo de 2002 e 2006 (quando goleou Costa Rica e Japão, respectivamente, na terceira rodada), possibilidade de um jogo divertido, cheio de gols. Ainda que protagonizado por reservas, uma oportunidade para destravar o ataque brasileiro.

 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF