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Reflexão de cabeça fria

Kaká teve bons momentos. Seu único erro foi omitir que jogou no sacrifício durante e contar depois, como desculpa

Ainda durante a partida contra a Holanda, pelas quartas desta Copa 2010, quando o Brasil dava nítidos sinais de que não conseguiria reagir, os cronistas, pela TV ou pelo Twitter, começaram a enumerar os erros de Dunga. Erros que haviam sido apontados antes de a Copa do Mundo começar, ok, mas que foram sumindo dos argumentos durante a disputa, sobretudo após as vitórias sobre Costa do Marfim e Chile. No futebol é assim: o resultado pauta a opinião. Afinal, se jornalista esportivo relatasse a verdade – o Brasil perdeu porque a Holanda jogou melhor e fez mais gols – morreria de fome. Precisa especular, esmiuçar, fantasiar até.

Mas, passados alguns dias da eliminação, a cabeça está mais fresca, as ideias mais organizadas, descontaminadas da frustração. No dia do jogo, por exemplo, Felipe Melo recebeu o rótulo de vilão por protagonizar todos os lances capitais. Revendo a partida, percebi a expulsão foi sua única falha – suficiente para ter atrapalhado a equipe, é verdade, e merecer o rótulo. Mas, no primeiro gol holandês, é Julio Cesar quem comete o equívoco de não gritar ‘Minha!’ e sair soberano na bola. No segundo, vendo o lance desde o início, percebe-se que é Gilberto Silva quem está marcando Sneijder. Ele cochila, olha para a bola ao invés do adversário.

Foi simples assim: Sneijder desequilibrou – como Zidane em 1998 e 2006 -, a Holanda jogou melhor e venceu. Se fosse melhor de três, o Brasil venceria as outras duas. Era melhor time, prova disso foi o soberbo primeiro tempo, de encher os olhos, com lampejos da tão sonhada arte que os ranzinzas pedem. Mas o futebol é maravilhoso exatamente porque escreve a sua história de forma tortuosa.

É claro que Dunga poderia ter convocado melhor. Mas os reservas em potencial de Kaká – Ronaldinho e Diego – foram mal com a Amarelinha, quando chamados por ele. Ganso? Seria maravilhoso. Seria? Uma pergunta que já nasceu sem resposta. Difícil imaginar como o garoto se comportaria na Copa do Mundo. Eu arrisco que teria sucesso. Mas arriscar não foi um verbo muito usado no mandato de Dunga na Seleção.

Mesmo que Dunga tivesse apenas acertado - o que não foi o caso - não sairia ileso de sua experiência como treinador da Seleção

Não concordo com o coro de que o treinador aplicou a filosofia do antifutebol, sem raízes brasileiras, nem acho que o quartel que montou na concentração foi de todo ruim. Foi uma postura paternal, de proteger os jogadores, que aparentemente ganhou a aprovação deles – talvez exceção feita a Robinho, que teve problemas ao conceder entrevista fora de hora e viu sua esposa reivindicar uma visita.

Dunga montou um time equilibrado, aplicado taticamente, veloz no contra-ataque. Muito parecido com o que a Alemanha tem feito. Os germânicos estão encantando o mundo com um futebol sem firulas – que a parcela mal humorada da imprensa brasileira diz que é arte, só para cutucar.

Enfim, o Brasil perdeu. Sexto lugar é pouco para o tamanho de sua história. Mas não se pode jogar quatro anos de trabalho no lixo, malhar um ex-capitão, campeão do mundo. Era bem intencionado. Queria acertar. Por aqui, a impaciência com ele não foi por causa de sua postura um tanto arrogante, sua falta de tato com a imprensa. Afinal, o rabugento Muricy Ramalho é cult. O problema é que técnico da Seleção não pode errar…

Ah! Antes que você dê sequências àquelas ridículas correntes conspiratórias de que o o Brasil vendeu-se em 1998 – e que, agora, trocou a taça de 2014 para entregar nessa, por favor – reveja as entrevistas de Julio Cesar aos prantos. Uma Copa do Mundo não tem preço.

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Vida após 11 de julho

por Danilo Dias Gatto

Até que eu tentei pensar em outro tema para este artigo. Sei lá, talvez a nova fornecedora de pneus da Fórmula 1, os bastidores dos grandes clubes brasileiros, os próximos confrontos do time de Bernardinho na Liga Mundial de vôlei… Mas não dá! Até o dia 11 de julho, data da grande finalíssima da Copa do Mundo, não há como escapar dos acontecimentos lá da África do Sul.

Muitos reclamam, especialmente aqueles que não apreciam tanto o futebol, da incessante cobertura midiática deste que é considerado o segundo maior evento esportivo do planeta, senão o primeiro, já que envolve apenas um esporte. Os Jogos Olímpicos, soberanos na proposta de unir povos em torno de modalidades praticadas nos cinco continentes, continuam a envolver o maior número de atletas, o maior número de nações participantes, o maior número de espectadores ao redor do planeta. Mas é a Copa que para o nosso país, que coloca os brasileiros em evidência na rede social que mais cresce globalmente – o Twitter – e que nos faz os melhores do mundo em algo considerado nobre.

Como acontece apenas em quadriênios, eu não poderia deixar de externar as minhas impressões desta edição do Mundial de futebol, a primeira em terras africanas: a primeira do Brasil sem o Ronaldo Fenômeno; a primeira da França, já eliminada, sem Zidane, nosso algoz; a primeira em que um anfitrião não se classifica para a segunda fase; a primeira em que a nossa Seleção se destaca mais pela defesa do que pelo ataque… Ah, a Copa do Mundo… O que será de nós, amantes do futebol, depois do seu término?

Acostumamos a ver três partidas por dia… Depois duas… O mata-mata… A decisão por pênaltis… E depois… Depois teremos que voltar a esperar incessantemente pelas quartas e domingos para ver o nosso time do coração entrar em campo em busca do topo da tabela do Brasileirão, que só revelará seu vencedor no final do ano…

Mas e a emblemática camisa canarinho? E os jogadores do nosso selecionado que nos parecem velhos conhecidos? E a saída mais cedo do trabalho? E as comemorações coletivas? O sonho do hexa? A música da Shakira? É… A eliminação do Brasil nas quartas não nos salvou da forte ressaca pós-Copa, a qual já nos acostumamos a enfrentar várias vezes! Mas vejamos pelo lado bom: o assunto Copa do Mundo não vai sair tão fácil dos holofotes, já que a próxima edição será realizada por aqui. Portanto, se você não gosta de futebol, prepare-se… A Copa do Mundo de 2014 já está aí!!!

Danilo Dias Gatto é estudante de Jornalismo da Unesp/Bauru e atualmente estagia na redação da Editora Alto Astral

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Assim que a Copa acabar…

O recesso da Copa foi fundamental para Ronaldo se recondicionar: de seus gols depende o penta corintiano

Com pontos corridos não tem jeito: no final, os torcedores lamentam pontos perdidos aqui e ali. Aquela derrota em casa, o empate cedido nos minutos finais… Por isso o corintiano pode comemorar: o Timão soube aproveitar as sete rodadas pré-Copa do Mundo. Terminou na liderança mesmo com um futebol longe da eficiência mostrada no primeiro semestre de 2009, quando Ronaldo estava no seu auge com a camisa corintiana. Agora, com o melhor entrosamento e uma nova obsessão – sai a Libertadores, entra o título no ano do centenário – o Corinthians, pode apostar, vai mesmo brigar pelo título. Com quem? Anote aí:

São Paulo ou Internacional: quem for à final da Libertadores viverá aquele período de ressaca no Nacional. Quem cair na semifinal, sacode a poeira e entra na briga. O Tricolor ainda com Washington (será útil ainda, pode apostar) e o Colorado bem reforçado com Rafael Sóbis.

Atlético Mineiro: Diego Souza não é nenhum fora-de-série. Mas ao lado de Ricardinho e com Diego Tardelli à sua frente, ajudará o Galo a se reerguer na classificação. E acredito que, em algum momento, Luxemburgo calará os críticos que decretaram um caminho seu volta para decadência do treinador – isto é, voltará a ganhar um Brasileirão, se não em 2010, em breve.

Fluminense: Muricy Ramalho encontrou o caminho. Inspirado pelo Mestre Telê, que nasceu nas Laranjeiras, e finalmente contando com Conca, seu sonho de consumo, poderá fazer barulho, desde que Fred continue no clube.

O Cruzeiro rumava favorito, até Adilson Baptista sair e Cuca transformar os rumos da Raposa numa incógnita. E o Flamengo… Se mesmo com Zico no comando para limpar a ficha do clube, há tempos figurando nas notas policiais. Correa foi boa contratação. Já Val Baiano…

Ceará? Perderá o fôlego. Santos? Só se Neymar e Ganso ficarem.

Volta logo, Brasileirão!

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Sai que é dele!

Galvão Bueno acabou utilizando o bordão com outros goleiros, mas o ‘Sai que é sua, Taffarel!’ está tão eternizado quanto o ‘Ayrton Senna, do Brasil!’. Segundo o próprio narrador, a fala surgiu em um momento de desespero com a zaga brasileira, mas à medida que a Seleção jogava, o camisa 1 interceptava as bolas cruzadas – e pegava pênaltis.

Enquanto foi o principal camisa 1 do Brasil – titular por cerca de dez anos – Taffarel foi muito criticado, rotulado de frangueiro. Ainda bem que o tempo faz justiça. Hoje, todos se referem a ele da maneira correta: um goleiro calmo, seguro, bem-colocado. Tanto que é o mais lembrado em sua posição pela boleirada que elege seus onze na seção ‘Meu time dos sonhos’, da revista Placar.

Com a camisa do Galatasaray: campeão da Copa da Uefa pegando pênalti na final

Como sou fã dos controversos e dos perseguidos – como Rubinho Barrichello – sempre gostei de Taffarel e o defendia nas discussões da molecada. E olha que sua fase mais espetacular e milagrosa, pelo Internacional, eu pouco vi, pois era pequeno. Fiquei triste quando ele falhou contra a Bolívia, na primeira derrota brasileira da história em Eliminatóiras da Copa, em 1993.

O currículo tem poucos troféus, mas significativos: Copa do Mundo de 1994, Copa da Uefa pelo Parma (na reserva, por ser estrangeiro), Estadual e Conmebol pelo Atlético-MG (grande ídolo da Massa do Galo) e, para mim, o mais importante, por ser na curva final de sua vitoriosa carreira, a Copa da Uefa de 1999/2000, pelo Galatasaray-TUR, pegando pênalti na decisão. Fora isso, reconheçamos que bem antes de Julio Cesar, Doni e Gomes, ele foi atuar na Europa.

Ao vivo, eu o vi jogar uma vez, em 1998, pelo Atlético Mineiro, em partida contra o Cruzeiro, no Mineirão. Fez grandes defesas, mas não evitou a derrota alvinegra por 2 a 1 – gol atleticano de Hernani, o famoso ‘Tiozão’ capitão do Noroeste em 2006 e 2007).

Se Gylmar dos Santos Neves me permite, aqui está o camisa 1 da minha Seleção Brasileira de todos os tempos.

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21 depois dos 21

Esta noite nunca vai terminar
Texto publicado na revista Tributo Esportivo Edição Histórica 6 (tema ‘Jogos Inesquecíveis’)

Leonardo não alcança e Maurício vence Zé Carlos. Ufa!

O Botafogo chegou invicto à finalíssima. Mas, curiosamente, sem vencer nenhum clássico. Só empates contra os maiores rivais. Aliás, não vencia Flamengo, Vasco ou Fluminense no Estadual há três anos. Era um sofrimento potencializado, um pão bem amassado pelos antideuses do futebol.

E por mais que o Fogão chegasse forte àquela partida, do outro lado havia um Flamengo cheio de estrelas, nomes de Seleção Brasileira: Jorginho, Aldair, Leonardo, Zico, Bebeto e Zinho, comandados por ninguém menos que Telê Santana. Nada que amedrontasse o raçudo Paulinho Criciúma, ícone de um time vibrante e brioso. Mas, foi um jogo sofrido, bem ao estilo alvinegro.

No primeiro tempo, o Glorioso não chutou a gol. Os rubro-negros chegaram com perigo, principalmente numa cabeçada de Bebeto que Ricardo Cruz foi buscar no ângulo. Veio o intervalo e o técnico Valdir Espinosa pediu raça aos jogadores, a um grupo de poucas estrelas, mas muita experiência, principalmente os selecionáveis Josimar e Mauro Galvão – um elenco montado a dedo pelo cartola Emil Pinheiro. Mais aplicado, o Fogão matou o jogo aos 12 minutos da etapa final. Luisinho deu ótimo passe em profundidade para Mazolinha, que substituíra Gustavo. O cruzamento encobriu Leonardo, que marcava Maurício. O ponta-direita só escorou e partiu alucinado para o afago da torcida. Vestindo a mítica camisa 7 alvinegra, Maurício teve lampejos de Garrincha. A certa altura, chamou Aílton e Zé Carlos II para dançar e centrou para Paulinho Criciúma cabecear no travessão. “Uhhhh!”, ecoou a galera, lamentando o que seria o gol de seu maior ídolo, para sepultar de vez o Urubu. Depois, foi só administrar o nervosismo e aguardar o apito final, já que até o empate servia ao Glorioso.

Na geral, as lentes focavam a jovem Sonja, que ganhara fama em dezembro de 1988, quando, gandula, chorava copiosamente ao ver seu time de coração apanhar de 3 a 0 do Vasco. Aquelas lágrimas motivaram a todos no clube, que não perdeu nenhum jogo desde então até chegar ao título estadual. E como há certas coisas que só acontecem ao Botafogo, vale lembrar como o time chegou à decisão. Graças ao Vasco, algoz do ano anterior. Na última rodada da Taça Rio, bastava uma vitória sobre o Bangu, mas o 0 a 0 frustrou a todos e parecia ser mais um ano de espera, pois se o Flamengo vencesse os cruzmaltinos, ganharia os dois turnos e levaria o título por antecipação. Mas foi um ano tão mágico que o clube notoriamente azarado ganhou uma ajudinha e tanto para chegar àquela noite de 21 de junho e ganhar, com propridade, uma taça que estava escrita para ser sua.

Botafogo 1 x0 Flamengo
Final do Campeonato Carioca de 1989 – Maracanã, Rio de Janeiro-RJ – Árbitro: Walter Senra – Público: 56.412 – Gol: 2ºT: Maurício (12)
Botafogo: Ricardo Cruz; Josimar, Wilson Gottardo, Mauro Galvão e Marquinhos; Carlos Alberto Santos, Luisinho e Vítor; Maurício, Paulinho Criciúma e Gustavo (Mazolinha). Téc: Valdir Espinosa.
Flamengo: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Zé Carlos II e Leonardo; Aílton, Renato Carioca e Zico (Marquinhos); Alcindo (Sérgio Araújo), Bebeto e Zinho). Téc: Telê Santana.

Curiosidade: Criaram-se tramas numerológicas para dar um ar místico ao título do supersticioso Botafogo. Uma delas eternizou, através de matéria do jornalista Renato Machado, da TV Globo, que as camisas de Mazolinha (14), que cruzou, e Maurício (7), o autor do gol, somavam 21 (lembrando o tempo de jejum e o dia da final). Forçação de barra: Mazolinha vestia a 16.
Depoimento: nosso entrevistado, o técnico Valdir Espinosa, revelou que o herói Maurício jogou com o tornozelo inchado durante todo o segundo tempo. Em seu depoimento, disse ainda que sua formação tática com dois pontas e um falso centroavante (Paulinho Criciúma) confundiu os adversários.