É um dos meus jogos preferidos – novidade… deve ser o da maioria dos noroestinos! Aquele domingo ensolarado era dia de festa, com o Noroeste líder do Paulistão e o MAC na zona de rebaixamento. Em campo não estava aquele timaço-base, eram três desfalques: Bonfim (expulso na rodada anterior) e Luciano Santos (terceiro amarelo) suspensos e Paulo Sérgio se recuperando de fratura no braço – Marcelo Santos, canhoto, foi muito bem de lateral-direito por algumas rodadas, deixando o experiente Reginaldo Araújo no banco.
Bom, chega de proza minha. O intuito de relembrar grandes momentos da história noroestina – como já fiz com as finais da Copa FPF 2005 e aquele 7 a 0 sobre o Linense em 1957 – é abrir aspas para textos da época.
A seguir, reproduzo trecho do livro-reportagem De volta aos trilhos: o Esporte Clube Noroeste em busca do orgulho perdido, projeto de conclusão de graduação do jornalista Marcelo Ricciardi (meu colega de redação da Editora Alto Astral).
(…)
O elenco líder do campeonato se concentrava para enfrentar justamente a equipe que ocupava a última colocação até então: o Marília, arquirrival histórico de décadas de disputas regionais. Na equipe branca e celeste, a estréia do novo treinador, Fito Neves.
Se a vexatória campanha do Noroeste em 93 não traz boas lembranças, ao menos seu último jogo contra o Marília, em casa, pela primeira divisão convém ser lembrado. Vitória alvirrubra por 1 a 0, gol de Marquinhos. As duas agremiações, que viriam a ser rebaixadas naquele ano, levaram apenas 1.729 torcedores ao Alfredo de Castilho. E também em Bauru jogaram pela última vez, pelo segundo turno da Série A-3 de 2001, quando o Marília fez 3 a 1, de virada. O público, pior ainda: nada mais que 900 torcedores pagaram ingresso para verem dois times decadentes.
Se o equilíbrio sempre é a marca característica nesses confrontos, não foi o que se viu quando a bola rolou no estádio Alfredão com mais de dez mil torcedores naquela tarde de domingo. Os desfalques de Bonfim e Luciano Santos, suspensos, não foram sentidos e o time dominou o desesperado Marília do começo ao fim. Pressão total alvirrubra, e o gol só parecia uma questão de tempo. Ainda assim, a contagem só foi aberta aos 36 minutos, quando Luciano Bebê foi lançado por Tiuí, e ganhando de dois adversários, tocou de mansinho na saída do goleiro Guto.
No segundo tempo então, o Noroeste deslanchou. O lateral-esquerdo Cláudio chutou forte da intermediária, no ângulo, sem chances para o arqueiro adversário. Eufórica, a torcida noroestina parecia se exaltar mais com os gritos de provocação “ão, ão, ão, segunda divisão” que com os próprios gols. Que também não pararam. Tiuí fez o terceiro aos 37 mintuos, e recebendo de Felipe com o gol aberto anotou mais um aos 43. Goleada incontestável por 4 a 0 na melhor partida do time no torneio, e a liderança mantida.
Se levar às arquibancadas um caixão de papelão para simbolizar o “funeral” de um adversário é a prática comum dos estádios brasileiros, quem estava ali presente no clássico pôde estar frente a um esquife verdadeiro, de madeira, e pintado nas cores do Marília. De certa forma, o torcedor noroestino ia à forra pelas boas campnhas no Paulistão e no Brasileiro da segunda divisão que o time vizinho teve nos últimos cinco anos.
NOROESTE 4 x 0 MARÍLIA
Local: Estádio Alfredo de Castilho. Gols: Luciano Bebê 36′ do 1º tempo; Cláudio 13′, Rodrigo Tiuí 37′ e 43′ do segundo tempo. Árbitro: Luis Marcelo Vicentin Cansian. Assistentes: Danilo Simon Manis e Matheus Camolesi. Cartões amarelos: Gum, Fernando e Davi. Renda: R$ 99.390,00. Público: 7.977 pagantes*.
NOROESTE: Mauro; Marcelo Santos, Fábio, Edmílson e Cláudio; Reginaldo Nascimento, Hernani, Lenílson (Luís Carlos) e Luciano Bebê (Felipe); Rodrigo Tiuí e Leandrinho (Otacílio Neto). Téc: Paulo Comelli.
Marília: Guto; Bruninho (Rafael Mineiro), Gum, Gian e Lino; João Marcos, Fernando, Davi (Danilo) e Éder (Chico Marcelo); Sandro Gaúcho e Wellington Amorim. Téc: Fito Neves.
*Nota: o número oficial de pagantes não contabilizava o carnê vendido a torcedores para todos os jogos.
2 respostas em “Caixão de verdade e baile em campo”
é isto ahi fernando foi o dia mais marcante na vida dos noroestinos, ainda esta viva e presente em nossas memórias, foi a maior “gozação” até hoje exposta em um estadio de futebol, nunca houve um caixão de verdade dentro de um estádio de futebol, já houve de papelão, isopor e etc, agora original de madeira nunca, então entramos para a história dentro do alfredão, inclusive, nos da sangue que organizamos tudo isso sobre meu comando, foi no sabado vespera do grande e tão aguardado jogo depois de varios anos, sem confronto, nos temos o making off, das gravações e breve no novo site da sangue rubro, teremos um espaço e vamos colocar tudo isso para o delirio da galera. quem viu viu ao vivo, quem não viu terá oportunidade breve em rever estes fatos. valeu os “bolacheiros” que vão adorar.
Em primeiro lugar, obrigado aí pela lembrança!!!
Ou melhor, pelas duas lembranças: tanto da goleada sobre o MAC quanto do livro escrito em homenagem àquela marcante participação do Norusca!!!
Valeu aí o esforço da torcida para conseguir um caixão de verdade — será que já tinha sido ocupado por algum defunto antes??? –, colocando um inusitado e divertido capítulo a mais nessa rivalidade.
Valeu!!!