Antes do GP da Áustria de 2002, quando abriu passagem ao companheiro Michael Schumacher na reta final, Rubens Barrichello já era piada nacional. Culpa da idolatria órfã de Ayrton Senna, que o piloto ingenuamente comprou e a TV Globo bancou – como se pudesse ganhar corridas com do nível de Jordan ou Stewart. Veio a Ferrari, a esperança de um novo título brasileiro na Fórmula 1 seria real, não fosse Schumacher o companheiro de Rubinho. O torcedor brasileiro até hoje não entende que o atual piloto da Williams é apenas um bom profissional, muito bom, aliás. Poderia ter sido campeão do mundo ano passado, mas os problemas com os freios na primeira metade da temporada o impediram de acompanhar o ótimo ritmo do colega Jenson Button – na segunda parte do campeonato, colocou o britânico no bolso. Enfim, eu gastaria outras tantas linhas para defender Rubinho, mas sei que prego no deserto. A maioria prefere a piada barata do pé-de-chinelo, o pessimismo infundado.
Por que, então, essa introdução para falar do episódio deste domingo (25/7), envolvendo a Ferrari? Porque a partir de hoje Rubinho está livre do rótulo de perdedor, banana ou o adjetivo que desejar. Felipe Massa seguiu como cordeirinho o recado da equipe e, assim como Barrichello, fez uma manobra para deixar clara a ordem: tirou o pé bruscamente para deixar o companheiro passar. A diferença é que ele terminou o fim de semana afirmando que permitiu a ultrapassagem porque quis e bateu no peito dizendo que não corre para ser segundo piloto. Conversa fiada. Estava de cara feia no pódio e, na coletiva oficial, ensaiou indignação ao responder “Acho que não preciso dizer nada…”. Mais calmo, enfiou o rabinho entre as pernas, mesmo pressionado pelos atônitos repórteres brasileiros, mais tarde. Rubinho, na mesma coletiva pós-GP em 2002, pelo menos soltou os cachorros, disse que era o vencedor moral. Patético idem, mas mostrou a bronca, sem esse papo de “fiz pelo bem da equipe”.
Depois de mais essa, fica difícil argumentar que a Fórmula 1 é um esporte, quando alguém contesta. Eu acho que é porque é preciso ter condicionamento físico de atleta profissional para suportar duas horas de GP; porque onde há competição e interesse público, há esporte. Mas, o que se viu na sequência de conversas via rádio não foi esporte, foi um teatro de quinta categoria. Alonso perguntar ao final “O que houve com Felipe, o câmbio?” foi de uma cara de pau… Aliás, o espanhol é especialista em episódios sombrios, como a espionagem envolvendo McLaren (sua equipe, à época) e Ferrari, em 2007, e o GP de Cingapura de 2008, quando Nelsinho bateu de propósito e o espanhol disse não saber de nada.
Se a cabeça de Felipe Massa vai pesar ou não no travesseiro, problema dele. Assim como Rubinho, está milionário exatamente porque a equipe, por quem ele fez o que fez, paga muito bem. Porque Fórmula 1, antes de ser esporte, é negócio. E por falar em grana, a Ferrari foi punida em multa de US$ 100 mil pela presepada e ainda será investigada pela FIA.
3 respostas em “Entregada de Massa liberta Barrichello”
Pena que essa multa não faz nem cócegas na Ferrari. Queria que Massa, Alonso e a Ferrari perdessem os pontos pra aprender a ter vergonha na cara. Fiquei p… vendo as conversar de rádio durante a corrida. Uma grande palhaçada mesmo, do Grande Circo Ferrari.
Frase do ano:
“Eu sei bem o que é isso” – Rubens “O Injustiçado” Barrichello
Bem, imagino que, quando Rubinho permitiu a vitória de Schumacher em 2002 de maneira escandalosa, praticamente na linha de chegada, queria mostrar ao mundo todo o incômodo que sentia pelas ordens da equipe. Quis evidenciar que havia algo combinado, artificial…
No entanto, é bem possível que contasse com um apoio maciço à sua causa. Imprensa, fãs e dirigentes indignados pedindo a impugnação da corrida e uma pesada punição da Ferrari. Rubinho sonhou que assim teria a opinião pública a seu favor — de certa forma, isso aconteceu também –, de uma forma bem mais entusiasmada que se a ultrapassagem fosse feita na surdina.
Porém, não foi o que se viu, não? Se já tinha uma imagem de “banana” por sambadinhas ridículas e vários carros quebrados, adicionou à ela a subserviência ao alemão. Numa atividade (ou esporte, como queiram definir) onde dinheiro e contratos têm um peso considerável, Barrichello terminou num mato sem cachorro. Refém da influência da maior marca do automobilismo, não ganhou respaldo oficial e perdeu o pouco que tinha do telespectador.