O menino bateu asas. Digo, o morcego. O Batman voou para Rio Claro. Foi virar protagonista, jogar tantos minutos quanto seu fôlego aguenta — todos, portanto — para escrever um novo capítulo em sua carreira. Caminhada que já é longa, apesar de ter apenas 24 anos de idade, pois ele disputou todas as sete edições do Novo Basquete Brasil.
Esse menino que começou magrelo e hoje exibe musculatura que não tirou sua agilidade é Guilherme Pereira Deodato. Filho de Bauru, do Mary Dota, do seo Clodoaldo e da dona Gislaine. Moleque que migrou das arquibancadas da Panela de Pressão para dentro da quadra. Que abraçou a oportunidade e mudou sua história.
Aplicado nos treinamentos, estilo sangue nos olhos, Gui começou a experimentar protagonismos a partir de 2011. Liderou Bauru na primeira edição da Liga de Desenvolvimento, quando foi vice-campeão. A explosão veio no ano seguinte: vencedor do torneio de enterradas, eleito destaque jovem e jogador que mais evoluiu do NBB4, e convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, quando disputou o Sul-Americano.
O ano de 2012 ainda reservou um registro especial: quando participei de um dia de treinamento dos guerreiros, pude presenciar um recado determinado que o ala passou para a garotada: “Esse ano eu não admito perder de novo!”, referindo-se à Liga de Desenvolvimento, cujo elenco seria completado por alguns dos meninos que participavam daquela atividade. Não deu outra: ele, Ricardo e Andrezão comandaram o Dragãozinho ao inédito título brasileiro sub-22, já em março de 2013, no mesmo final de semana em que o Batman virou Darth Vader e conquistou o bi nas enterradas.
Ainda em 2013, Gui levou mais uma vez o troféu de jogador que mais evoluiu, no NBB5. Foi sua melhor temporada: titular, médias de 30min em quadra e dois dígitos nos pontos (11). Desempenho que valeu reconhecimento com o campeonato ainda em andamento, quando teve seu contrato renovado por três temporadas, um momento de realização profissional e financeira. Para coroar o ano, o título paulista, em que foi o único a disputar todas as 34 partidas da campanha — em sua melhor atuação, destruiu em São José dos Campos.
Desde então, o desempenho do camisa 9 caiu. Curiosamente, no NBB6 ele ainda poderia se firmar, pois o ala Ayarza foi um fiasco e Fernando Fischer, atrapalhado pelo tornozelo, jogou pouco. E para a temporada seguinte, viu chegarem Alex Garcia e Robert Day, o que diminuiria ainda mais seus minutos — o que gerou uma madura declaração ao Canhota 10, quando o Sargento Deodato falou também de sua experiência na Seleção Militar.
Veio a última temporada e, apesar da grande concorrência, Gui teve seus momentos — como quando bateu seu recorde de pontos num jogo, contra a Liga Sorocabana. E foi titular na maioria das partidas dos playoffs do NBB7, devido ao seu potencial defensivo.
Depois de roer o osso desde a retomada do basquete em Bauru, saboreou a avalanche de títulos (bi paulista, Sul-Americana, Liga das Américas) e ainda teve a honra de ser escolhido para erguer o troféu dos Jogos Abertos, em Bauru, evento que também contou com ele acendendo a pira na cerimônia de abertura.
Por fim, a contratação de Léo Meindl foi determinante para a joia bauruense ir respirar novos ares. Vale lembrar que era um namoro antigo contar com a joia francana, que não veio antes, entre outros motivos, exatamente para não tirar o espaço de Gui. Se ficasse — tinha mais um ano de contrato — certamente teria poucos minutos a dividir com Alex, Day e Meindl. Assim, foi aconselhado pela comissão técnica a ir buscar esses minutos e seguir evoluindo, como relatou Guerrinha ao C10 no mês de junho.
E Gui foi voar. Foi levar seu sorrisão pra outra torcida, pra enterrar o estigma de eterna promessa e virar realidade. Tem talento e determinação pra chegar longe. E leva na bagagem as energias positivas de uma cidade inteira. Se a saída de Larry comoveu, a de Gui tem um sentimento diferente. Chegou a hora de deixar o filho crescer. Ele deixou um recado:
“Estou feliz com o novo desafio que eu vou enfrentar. Quero agradecer apenas, a você e a todos os bauruenses por todo o carinho que tiveram por mim todos esses anos, que sempre de alguma forma me empurraram pra cima, com um esporro ou um grito incentivador. Abraços com gratidão. Serão só boas lembranças!”
Nós é que agradecemos, Gui. Um dia você volta. E volta com tudo. Arrebenta, moleque.
Foto do topo: Orlando Bento, Divulgação
OBS: alguns dos posts sugeridos estão com imagens com links perdidos. Mesmo assim, vale o registro. Mostra que este Canhota conseguiu registrar os melhores momentos desse guerreiro.