Não vou demorar nessa abertura, porque o papo é longo — mas obrigatório para bauruenses que gostam de esporte. Rodrigo Paschoalotto, presidente da patrocinadora máster do Bauru Basket, conversou com o Canhota 10 por uma hora com sua habitual sinceridade, sem rodeios. Segue crítico da CBB, enquadrou a Federação Paulista e a sede de títulos continua grande. De quebra, tornou pública uma ideia revolucionária para o esporte bauruense e deixou seu lado noroestino falar alto nessa ótima conversa. Leia até o fim, você não vai se arrepender.
Pra começar, você já falou publicamente sobre o assunto, mas acho que ainda vale registro, pois foi algo que o aborreceu muito: a repercussão da saída do Larry, apesar de estar claro que havia sido uma escolha dele.
“Ele quis sair. Eu até achei estranho, pois com Mundial, NBA, sair agora… Eu não sairia. Nem acho que foi a questão financeira, porque eu disse a ele ‘Larry, eu cubro e faço contrato vitalício’. Até guardei as mensagens que troquei com ele, caso alguém duvide. Foi a proposta que eu fiz para o Alex, quando perguntei quanto tempo ele ainda jogaria em alto nível. Ele me respondeu quatro, pelo menos. Então fizemos um contrato de quatro anos. Eu acho normal o Larry querer sair, mudar de time. É saudável. E deveremos ter uma surpresa agradável com o Paulinho Boracini. Era vontade minha e do Vitinho ter trazido antes. Mas o Ricardo veio menino e despontou. E tínhamos o Larry e não íamos dispensá-lo nunca! Mas todo ano lembrávamos do Paulinho, pois ele encaixa no nosso time. Faz infiltração, tem passe bom e arremesso de três melhor do que o do Larry. Perde um pouco na questão defensiva, mas vai surpreender. A outra mudança, o Léo Meindl: é mais completo que o Gui, na minha opinião. Então, o time hoje é mais forte do que o da temporada passada.”
Sem entrar nos méritos da decisão de Mogi, mas Bauru nunca forçaria o Larry a voltar da Seleção, certo? Tanto que o próprio Hettsheimeir fez questão de enfatizar que o time não influenciou no pedido de dispensa dele.
“Isso. Mas eu parto do princípio da igualdade. Se jogador da NBA pede dispensa e a CBB aceita, por que não um clube brasileiro fazer isso, que é quem investe no jogador? A Seleção é uma grande vitrine para o jogador, mas não é uma grande vitrine para o clube. Se a NBA pode fazer, os clubes brasileiros podem! Eu não acho legal, não faria, pois é a grande oportunidade que um jogador tem para aparecer para o mundo inteiro. Então, seria errado da nossa parte dizer ‘não vai’. Foram nesses jogos do Pan que o Hettsheimeir chamou a atenção da NBA. Ele vai acertar a vida dele, se for.”
É o tipo de situação que tem que deixar ir… Se o Rafael entrar num time da NBA, como fica a reposição?
“Até eu, se jogasse basquete, iria. Você, jornalista: o pessoal do The New York Times te faz uma proposta. Você não vai?”
Na hora!
“Claro que você vai! Tem que ir. E pra gente é bom. Vão falar do Bauru Basket no mundo inteiro. É melhor sair de Bauru do que de Franca ou de outro time… ‘Hettsheimeir, ex-jogador de Bauru’. Lógico que eu queria que ele ficasse, gosto demais do Hettsheimeir, mas, para a vida dele, é melhor ir. Quanto a reposição, temos diversas alternativas. Temos planos A e B. Trazer alguém do mesmo nível ou trazer um cara mais jovem para colher o fruto daqui um ou dois anos. Estamos pensando, mas não sofro por antecedência. Se o cara vai morrer daqui um mês, deixa ele morrer primeiro. Vou chorar no enterro, não agora.”
Falamos de CBB… Hoje ela não tem nenhum tipo de influência no calendário, mas acaba atrapalhando…
“Ano passado foi ridículo! Paulista, Sul-Americana, NBB, tudo encavalado, só acontece aqui. Se a gente parte do princípio de que deveremos chegar na reta final de todos os campeonatos… Tanto que este ano começamos com um pensamento diferente. Nós não abrimos mão do Paulista, vamos ser campeões. Apenas abrimos mão de começar full time como na temporada passada, o que foi ruim, pois sobrecarregamos alguns jogadores. Estamos fazendo um planejamento para chegar num primeiro pico depois do Mundial, aí dar uma leve caída e chegarmos muito fortes nos playoffs do NBB.”
Na última entrevista que fizemos, você deu uma declaração forte sobre a CBB. Desanima colocar o basquete de Bauru no patamar que está e ver a CBB mendigando vaga em campeonato e fazendo pouco pela base?
“Vamos dividir o basquete em três partes. Organização estadual do basquete: péssima. CBB, que cuida das seleções: péssima. Liga: muito bem, no caminho certo. Se não fosse a criação da Liga e das pessoas que estão lá, como o Sergio [Domenici, gerente da LNB], o basquete já teria acabado. É um pessoal muito sério, que trabalha demais. A Liga está fazendo o trabalho dela, bonito, trouxe parceria da NBA… Só que entra o lado da CBB e desanima. O Magnano, por exemplo. É um baita treinador, não tenho dúvidas. Mas tem técnico aqui no Brasil. Sou muito bairrista em algumas questões. Tem que fazer intercâmbio, mas de outras formas. A CBB tem um centro de treinamento em São Sebastião do Paraíso! É fora de logística! Onde tem que montar? Ou São Paulo ou Rio. A iniciativa é legal, mas a Seleção principal treina em São Paulo por causa de logística! Esse negócio de implorar vaga, pagar por vaga, não acho legal.”
Os playoffs do Paulista vão bater com os amistosos da NBA. Já existe uma sinalização de que a Federação vai ceder e ajustar a agenda? Estão conversando?
“Eu acredito que o bom senso é mudar as datas. Nossa ida pra lá é importante para o basquete paulista e brasileiro. É o primeiro time paulista. Isso já justifica. E se os caras não mudarem? Vamos abrir mão do Campeonato Paulista. Pensando como produto: todo o mundo vai nos ver. O Paulista mal tem tevê… É um fato histórico. Vamos ter mais mídia do que o Flamengo. Quem sabe no ano que vem não vem um time da NBA jogar aqui no Brasil com a gente? Mas não temos ginásio… Não seria aqui.”
Mas no padrão deles, hoje, só a Arena da Barra…
“Na melhor das intenções, talvez o Ibirapuera. Aliás, no padrão que o time está ficando, logo Bauru não comporta mais. É como o preço do ingresso. Por que vai aumentar? Porque é outro produto. Melhor. A renda ajuda na composição dos custos. Quem quer pagar pouco vai ver um time que não ganha nada. Colocamos o basquete de Bauru num patamar que nenhum esporte coletivo da cidade teve. Destaque mundial!”
O que você poderia fazer pela Arena Bauru, viabilizar o projeto, já fez. O Ministério do Esporte recuou, por causa da crise. Você acha que essa tentativa via iniciativa privada, com isenção fiscal, pode dar certo?
“O momento econômico do país é ruim, fica difícil embarcar num projeto desses. Quando há crise, ninguém ganha, todos perdem. Uns mais, outro menos. A conta que qualquer investidor vai fazer é de viabilidade. Quanto vai investir e quanto vai ter de retorno, com estacionamento, participação na bilheteria… Fazer essa conta pra ver se compensa. Eu acho que compensa. Mas não pode ser uma arena só voltada para esportes. Tem que locar eventos, exposições, shows. Bauru merece, tem que viabilizar.”
Como não há perspectiva próxima de ginásio para decisões, Marília está aprovada?
“Sim, foi muito legal.”
Confesso que fui contra pela rivalidade. Mas me espantei com a receptividade dos marilienses.
“Isso mudou. Há 25 anos, tinha muita rivalidade. Eu ia ver jogo do Noroeste e saía briga pesada. Já entrei em briga. A molecada de hoje não sabe metade do samba da minha vida! Já briguei, tomei pedrada lá em Marília, em Campinas. Outra grande rivalidade era com a torcida da Ponte. Tanto que mudou o lugar de visitante aqui por conta de uma briga. A gente acuou os caras da Ponte, que tiveram que sair.”
Ainda vejo muitas discussões nas redes sociais entre maqueanos e noroestinos, mas, vias de fato, felizmente, não… E a rixa entre as cidades diminuiu, porque tem empresários de lá com negócios aqui e vice-versa.
“Eu tenho negócio grande lá. Não tem mais isso. E o ginásio encheu! Temos que ser práticos. É perto, fácil de ir. É melhor lá. Achei que a torcida de Bauru foi bem recebida, não soube de nenhum incidente.”
Te surpreendeu o ginásio cheio?
“Eu tinha certeza que ia encher. Se tivesse dez mil lugares, lotava. Você não sabe o tanto de gente que me pediu ingressos…”
Com as obras da Arena Bauru, na melhor das hipóteses, começando em 2016, Bauru perde sede de várias finais até 2018…
“Mas é difícil prever se vamos continuar fortes. Bauru continua top este ano e deve continuar forte no seguinte. Depois, é difícil prever. Pois há lesões, atletas que querem sair, alguns estarão mais velhos. Como Paschoalotto, tudo tem um ciclo. Uma hora a Paschoalotto vai sair do basquete. Logicamente, nossa vontade é ficar, mas é saudável virem outros investidores. Quem sabe saímos num momento, retornamos no futuro. Se você perguntar quando vamos sair, posso te dizer que já passamos da metade do tempo que pretendemos ficar. Se tivéssemos mais ajuda, seria melhor, teríamos um time mais qualificado. Crise econômica afeta todo mundo e a Paschoalotto está no meio de todo mundo. Hoje, é um investimento pesado. Logicamente a empresa tem vida financeira saudável e isso não vai mudar: tudo o que assumimos, cumprimos e iremos cumprir nos próximos anos. Mas, se houvesse mais gente, melhor. Tem algumas coisas em Bauru que precisam mudar. Penso que deveríamos unir tudo debaixo do mesmo chapéu: Noroeste, futsal, vôlei e basquete. Isso teria que se chamar ‘Bauru alguma coisa’. Lembrando do BAC: Bauru Atlético Clube. Um comitê gestor para tocar tudo isso, todas as verbas de patrocínio e incentivo fiscal vão para essa organização, mas logicamente pode haver um patrocinador em cada camisa. Ficaria mais fácil. Às vezes, R$ 20 mil não fazem falta ao vôlei, R$ 40 mil não fazem falta ao basquete, mas R$ 60 mil fazem diferença no Noroeste! Aliás, se o Noroeste subir, ferrou… Na A-3 é mais caro, não é mais com molecada, aí vão montar um time que vai cair de novo? Seria muito mais fácil unir esforços, pedir patrocínio para o esporte bauruense. Mas nesse comitê tem que ter empresário com visão de negócio. E Poder Público. Precisa dessa ajuda também, para direcionar verbas públicas corretamente. E ter especialistas em cada área. No esporte de Bauru dá pra fazer muita coisa. Mas tem que ter investimento público e privado. E mudar um pouco as estruturas. Hoje, cada time paga um fisioterapeuta. Poderia ter dois para atender a todos os times. Teria um departamento médico só. É uma coisa para se pensar.”
Dando certo, abrir para outras modalidades. Hoje Bauru é figurante nos Jogos Abertos…
“E aproveitar as entressafras. Fazer contratos mais inteligentes de patrocínio explorando que esporte está mais forte, momentos do calendário. É difícil montar isso? É. Mas eu acho que é o único caminho para perpetuar o esporte coletivo de Bauru. Senão, fica vivendo de momentos de investimento. O Noroeste teve o Damião Garcia, o basquete teve a Tilibra lá atrás, a Itabom, agora a gente. O vôlei tem o Mandaliti, a FIB no futsal. Se esse pessoal sai, acaba? Logicamente, não é possível ter todos os times na elite. Mas todos os esportes coletivos competindo em alto nível. Pra cidade, seria maravilhoso.”
Será que a experiência positiva da Paschoalotto influenciou a Concilig a investir no vôlei? Percebo que vocês têm uma convivência amistosa, sobretudo dividindo a Panela.
“Não… Sou amigo do Reinaldo e do Rodrigo [Mandaliti]. Concorrência só existe na cabeça dos outros. O mercado é pra todo mundo. Ser concorrente é uma coisa, ser inimigo é outra. O pai deles sempre foi ligado a esporte. Já ajudaram o Noroeste. Já bati um papo com o Reinaldo a respeito dessa ideia de colocar todos os esportes debaixo do mesmo chapéu. Ele é apaixonado pelo Noroeste. Ele já me disse ‘Vamos assumir aquele negócio!’. Eu disse que não dá, porque pra administrar tem que encarar, parar o trabalho. Se for pra fazer mais ou menos, melhor não fazer. Quem sabe um dia…”
Existe entre os noroestinos esse lamento de o clube estar esquecido por grandes apoiadores.
“Não está esquecido. Se você tivesse uma empresa, iria investir no Noroeste?”
Não… Apesar de que hoje estão até arrumando a casa, mas a política do clube é arcaica…
“As pessoas que estão lá são todas sérias, não tenho dúvida nenhuma. Conheço o Toninho Gimenez. Mas a estrutura montada inibe investimentos. Não é patrimônio, é massa falida. Eu já teria passado o complexo, estádio e ginásio, há muito tempo para a Prefeitura e sair daquele custo. Os demais espaços, eu pegaria toda aquela área ociosa e faria permuta com uma construtora. Não é vender o patrimônio, é permutar. A troco de apartamentos. Em 400 apartamentos, o Noroeste teria direito a 40. Num aluguel de milão, seria uma receita de R$ 40 mil por mês para o clube. O que gera hoje? Só cobra, escorpião e uma paisagem horrível. E ainda iria povoar mais o estádio. Há quem vai reclamar sobre o patrimônio, mas não é doação, é permuta. Ao invés de mato, vai ter apartamentos. E tem que ter transparência. Em 2006, patrocinamos o calção do Noroeste. Nessa época, até figurei como tesoureiro no estatuto do clube. Uma vez eu falei para o seo Damião: ‘Tem que esclarecer esses milhões que o senhor deu e que constam no balanço, esclarecer onde foi investido’. Não ficou legado no Noroeste, da época do seo Damião, porque usaram mal o dinheiro. Ele estava cercado de pessoas ruins em administração. A gente quer fazer diferente no basquete para que, quando sairmos, continue com vida própria.”
Exatamente para não criar aquele pânico de que, se sair, o time vai acabar!
“Por três vezes estive com o seo Damião. Numa delas, numa estreia contra o Paulista, em Jundiaí. Ele me disse ‘Rodrigo, estou velho, cansado. Eu gosto do Noroeste. Você não quer assumir?’. Eu disse que pra mim não dava. ‘Eu continuo pondo dinheiro e você administra’. Respondi ‘Infelizmente, ainda não dá!’. Não que eu fosse fazer certo ou melhor, posso estar falando bobagem. Não gosto de ser engenheiro de obra feita, o cara que fala que o prédio está construído errado. Por que não falou antes de construir? É a mesma coisa eu, agora, estar analisando o trabalho de outros, posso estar sendo injusto. Mas algumas coisas eu faria diferente. Se ia dar certo ou errado… Mas trabalho num mercado competitivo e nossa empresa é a maior do segmento. Administrar eu sei, a característica de um jogador de futebol, eu não sei. Só que aí posso ter alguém especialista para orientar. Se você me perguntar sobre uma jogada específica de basquete, eu não sei. O Guerrinha está lá pra fazer isso. Mas tratar o esporte como negócio, como marca, eu sei fazer. Hoje, o Dragão tem um valor. Estou pra falar que, hoje, se você pegar o Dragão e o escudo do Noroeste e sair no Brasil perguntando para um público jovem, até 25 anos, que é mais ligado no esporte, talvez o Dragão seja mais conhecido. Não era pra ser. Mas, quem sabe um dia, seja um escudo só.”
Mas nesse arranjo não dá pra mudar o escudo do Noroeste, por conta da tradição…
“Mas dá para reestilizar. Os grandes clubes reestilizaram seus escudos. O Noroeste é maior do que Bauru? Bauru é maior do que o Noroeste. Só existe o Noroeste porque existe Bauru. Mesma coisa com o basquete, o vôlei. Bauru é maior do que tudo. Pode ser Bauru Noroeste. A arte em si é o que menos importa, como vai ser o escudo. Mas a gestão unificada. Isso pode virar um reboliço entre torcedores, mas a gente só colhe resultados diferentes se plantar coisas diferentes. Se o formato da gestão continuar do jeito que está, vai ser isso que está aí. Talvez se fizesse essa unificação, ficaria mais fácil. O empresário não investe porque há muita desorganização administrativa, fiscal… Ninguém vai pôr dinheiro. Por exemplo: quando chegamos no basquete, o Guerrinha não tinha contrato assinado. Era de palavra. Isso não existe, tem que estar preto no branco.”
Essa unificação é uma empreitada que você gostaria de tocar?
“Hoje, eu não posso, não tenho a mínima condição de assumir. No futuro, não sei. Mas que é uma coisa que faz sentido… Talvez a gente tenha um time em todas as segundas divisões, mas em todos os esportes. Eu sou noroestino. Tenho umas vinte camisas do Noroeste em casa. O que mata é não ter competitividade. Se fôssemos disputar Série C do Brasileiro e Série A-2 já seria bacana, se fosse competitivo. Não estou querendo ser campeão todo ano, mas estar na briga, beliscando. Mas e o endividamento do Noroeste, as dívidas? Isso é passado. Ou paga ou deixa pra lá e começa uma vida nova. Enquanto ficar arrastando caixão…”
Você, como investidor no esporte, pode dar um testemunho de que é um excelente negócio?
“Sim. O basquete não trouxe um real a mais para a Paschoalotto. Nenhum banqueiro vai me passar um trabalho a mais porque viu nossa marca na camisa do time. Mas quem trabalha aqui, na maioria, são os bauruenses. Uma das poucas coisas que a Paschoalotto pode fazer pela cidade é dar alegria. Tudo o que pudermos fazer pela comunidade, vamos fazer. Sem os bauruenses a gente não existiria. Muitas vezes a pessoa confunde investimento no esporte com venda. Pensa ‘Patrocinei um time, mas minhas vendas não aumentaram’. Mas e o respeito pela sua marca, pela cidade que mantém a sua empresa? Bauru tem empresas que estão aqui há décadas. Será que elas não têm que fazer alguma coisa pela cidade? Tudo o que eu e a minha família temos, vem de Bauru. Esse patrocínio é uma pequena retribuição do que Bauru já deu pra gente. Dinheiro ninguém leva para o caixão. Que fique aqui bem gasto, então.”
Voltando para o basquete, recordo-me que, no anúncio da renovação até 2016, disseram que a permanência estava condicionada à do Guerrinha. Isso de fato está no papel?
“Não só ao Guerrinha, estava vinculado às pessoas. Talvez tenha me expressado mal na época. É também o Vitinho, o Joaquim, o Beto Fornazari. Com esse pessoal, estamos juntos. Se mudar, eu tenho que ter o direito de pensar se quero continuar. O Guerrinha é meu amigo pessoal. Eu disse a ele ‘Guerra, enquanto você estiver, a gente está’. Se sair, não quer dizer que a gente vai sair, mas temos que nos reservar o direito de pensar. A mesma coisa o Guerrinha. Ele não vai ficar a vida inteira técnico de Bauru. Vai querer ser um gestor, por exemplo.”
Sobre o Rodrigo imerso no Bauru Basket: você negocia contratações pessoalmente, participa do conselho gestor. E já foi ao vestiário cobrar jogadores? Como é sua relação com o time?
“Quando a gente decidiu patrocinar, eu sabia que ia acabar entrando no meio. Eu não consigo fazer um negócio à distância, sem me envolver. Sou muito passional. No nosso primeiro Paulista, a gente foi eliminado por São José no quinto jogo, quando o Jefferson fez 25 pontos, com a Panela bufando de gente. Naquele dia eu prometi que ia ser a última vez que sofreríamos por causa de São José. Aí trouxemos o Murilo, mas não conseguimos trazer outros por questão de verba ou de contratos em vigor. Já na última temporada, escolhemos a dedo. Se não conseguíssemos o jogador desejado, não seria outro, continuaríamos com o que tínhamos. Só não ganhamos o NBB porque o Flamengo, que tinha perdido a Liga das Américas, veio com mais apetite e nós estávamos fisicamente e psicologicamente desgastados. E o Jefferson fez muita falta na rotação. Este ano eu quero ver! Então, acabei me envolvendo. Já teve vezes que fui ao vestiário pra conversar. Umas conversas mais legais, outras mais ásperas, como é normal em qualquer negócio. Mas a minha intenção é ajudar com a minha visão de gestão de pessoas e empresarial, tratando o basquete como negócio. É onde posso colaborar muito. Este ano me afastei um pouco, porque o momento da economia é atribulado, então tenho que cuidar mais dentro de casa. Mas hoje temos o comitê gestor para tomar decisões em colegiado e minimizar erros. Quanto mais gente pensando junto, menos erros. E essa decisão se torna menos pessoal. Se dispensar um jogador, foi o Bauru Basket, não foi o Vitinho, não foi o Guerrinha. Foi a instituição. Você começa a despersonalizar e coloca a pessoa jurídica na frente.”
Voltando ao Flamengo…
“Este ano a gente não perde para o Flamengo!”
Pois é… Você sempre comenta em suas entrevistas, apesar do tom descontraído, que quer ganhar tudo. Mas é muito difícil fazer duas temporadas perfeitas…
“Eu acho que o nosso ápice é nesta temporada. Talvez a de 2016/2017 seja menor do que a de 2014/2015.”
Então a meta é de novo chegar a todas as finais?
“Este ano, se passamos para os playoffs do Paulista, vamos ser campeões. O foco é o NBB. Temos que ser campeões brasileiros. Segundo foco: Liga das Américas, pra ser campeões de novo e continuar no topo, disputar o Mundial de novo.”
No Mundial, dá pra jogar de igual pra igual, mas o Real Madrid é mais forte…
“Eu penso o seguinte: conseguimos vencer os times da NBA? Ano passado, o Flamengo conseguiu levar pau a pau enquanto os caras estavam moles. Depois, deram uma apressadinha e aí a diferença de nível é muito grande. É muito difícil de ganhar, mas vamos jogar pra ganhar. A gente pode se tornar o primeiro time brasileiro a ganhar de uma equipe da NBA em solo americano. Do meu ponto de vista, é mais uma celebração por tudo o que a gente tem feito. Mas do ponto de vista do jogador, eu tenho certeza que os caras vão entrar pra rachar, vão quebrar a perna se for preciso, porque é a vitrine deles. Para consagrar os mais experientes e ser vitrine para os mais jovens. Ganhar vai ser muito bom, mas até comentei com o Guerrinha que serão dois jogos, um para jogar sério e outro pra brincar. Aí pode passear e tomar cerveja. Mas em um tem que chegar firme. Sobre o Intercontinental, o título é o mesmo, mas o de Bauru vai ter muito mais valor do que o do Flamengo. Apesar de o Maccabi ser um time conhecido na Europa, Real Madrid é Real Madrid! Eu sempre sonhei que se a gente ganhasse a Liga das Américas, queria pegar Real Madrid ou Barcelona.”
Na temporada passada, por conta de rivalidade, provocação, lembro-me de ter lido nas redes sociais, de torcedores — sobretudo de Flamengo e Franca — que Bauru só estava nessa fase porque tinha a grana da Paschoalotto. Mas você já falou dessa relação forte com a cidade. Então, tá tudo certo…
“Lógico! O trabalho que a gente faz investindo na base é para tentar perpetuar o basquete. No futuro, teremos jogadores mais baratos. E mesmo se a Paschoalotto sair no futuro, você pode ter um time bacana com pouco dinheiro. Esse vai ser o grande legado. O mais importante é o basquete não acabar, e pra isso tem que ter um time com custo menor. Vai chegar um ano em que vamos ter que fazer uma ruptura, com apenas dois experientes com molecada, num ano em que não vamos ser campeões. Mas é o caminho. A gente tem uma molecada boa. E esse negócio de o pessoal falar… Já ouvi um monte de coisa. Já disseram tantas vezes que a Paschoalotto está quebrando… E, cara, tô aqui. Divulgamos recentemente que hoje temos um grande parceiro, a Gávea Investimentos, com o Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, como um dos principais acionistas. Eu posso te garantir que no nosso segmento, hoje, somos a empresa mais sólida do mercado. E ficam falando de fase no basquete? Estamos indo para o quarto ano. Daqui a pouco a desculpa vai acabar. Não é possível que daqui dez anos, com o time firme, vão continuar falando de fase! Ninguém, na história do esporte coletivo em Bauru, investiu tanto. A gente põe alguns milhões de reais no basquete. E temos outros tantos que nos acompanham por causa do nosso trabalho sério. Claro que não temos a história de Franca, precisaríamos de uns 50 anos pra igualar, mas vamos colocar Bauru na história como uma das maiores equipes que o basquete brasileiro já teve. Ponto.”