Desde que a bomba estourou no último domingo, a pergunta foi imediata: o que será do Gocil Bauru sem Rafael Hettsheimeir? Afinal, despedia-se o cestinha do time, com 19, 9 pontos de média, e também maior reboteiro (7,8 por jogo). E a reação da torcida também cravava o fim do sonho do título do NBB — como se ele estivesse tão realizável assim antes…
Pois bem. Começando pelo caneco, como esta nona edição do Novo Basquete Brasil está maluca (um perde-ganha sem precedentes), o Dragão pode sim continuar sonhando com o título. Seria difícil antes, continuará difícil agora. Pode sonhar, não delirar. Mas quando vemos que o bicho-papão Flamengo mostrou suas fraquezas, que Mogi ainda não se encontrou e até o arretado Vitória, quem diria, já figura no G-4… Portanto, a briga está aberta, mesmo sem Hettsheimeir.
A saída do Canela fora ensaiada outras vezes, agora o leite derramou, vamos em frente. Claro que seria muito melhor com ele aqui, mas é hora de olhar para a metade cheia do copo, como dizem os gurus da autoajuda. E este Canhota 10 colheu otimismo nos números. A defesa melhorou. E defesa é o pilar da vitória no basquete.
Ah, mas você está se baseando em apenas duas partidas? Estou, porque a amostragem ajudou. O então líder (Flamengo) e o penúltimo colocado (Macaé). Um de cada ponta, com o acréscimo de dificuldade de serem embates fora de casa. Aos números:
• Bauru chegou ao Rio de Janeiro com média de 79 pontos marcados e 77 sofridos. A média dos embates contra Flamengo (72 a 63) e Macaé (87 a 67), foi de 79 a 65. Isto é: o time se desdobrou para suprir a artilharia de Hett; a defesa sofreu 15% menos pontos.
• O Flamengo nunca havia feito tão poucos pontos numa partida deste NBB 9. O mínimo rubro-negro havia sido 83! Isso, 20 a mais.
• Mesmo lá no fundão, o cascudo Macaé vende caro suas derrotas. A diferença de 20 pontos foi a maior sofrida numa derrota deles. E a marca de 67 pontos no ataque foi a quarta menor da equipe.
• A média de roubos de bola do Dragão era de 6,2 por jogo. Contra Flamengo e Macaé, foi de 9,5. Talvez esse aumento justifique um número que não cresceu, o de rebotes defensivos. Caiu de 29,5 para 26. Qualquer hora eu me debruço nos escautes dos 16 jogos para achar mais pistas.
O fator Shilton
O camisa 6 bauruense vinha fazendo uma temporada bem discreta, até mesmo questionada pela torcida. Pois deu resposta rápida à responsabilidade que caiu sobre seus ombros, que foi saltar de 12min por jogo para 30min — sempre comparando as médias das 14 primeiras partidas com as das duas últimas.
Ninguém vai cobrar do Shiltão da massa um desempenho ofensivo do nível de Hett, que tinha o jogo externo como diferencial. Mas o fato de ele ter saído de 3,9 pontos por jogo para os dois dígitos (10, cravado) já é animador. Nos rebotes, aí sim sua grande virtude, ele tinha 3,2 e contribuiu com 7,5 por partida na excursão fluminense.
Alex Garcia, em entrevista à repórter Giovanna Terezzino na transmissão web da Liga, pós-jogo contra o Macaé: “Perdemos o cestinha do time, vai fazer muita falta, mas temos que nos adaptar sem ele. Conversamos bastante com o Shilton, pois com mais minutos, vamos precisar mais dele no ataque e está funcionando. Na defessa, ele está fazendo um grande trabalho, até um pouco melhor do que o Rafael”. Palavra do capitão.
Shilton vai render sempre assim? Não. Todo jogador oscila. Por isso Maicão e Jaú precisam ganhar confiança, assim como Jefferson já entendeu — e colocou em prática — que será o protagonista no garrafão, além de ser o homem da bola de três, definitivamente.
O time vai sempre ser impecável na defesa? Claro que não, sobretudo nessa temporada maluca, de altos e baixos. Por isso falamos de médias, de um comportamento de jogo desejável — que o técnico Demétrius certamente cobra no dia a dia. E se Bauru quiser continuar bem, mesmo sem Hettsheimeir, a receita está pronta, com tempero carioca.
Fotos: Caio Casagrande/Bauru Basket