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Bauru Basket: guerreiro por um dia (parte 1)

Agradeço a gentileza de Cristiano Zarnardi (Agência Bom Dia), que registrou essa experiência

A pauta não é inédita, mas a experiência é única. Propus treinar com o elenco principal do Paschoalotto/Bauru para sentir na pele e conhecer mais dos  bastidores do time e o técnico Guerrinha concordou. Combinamos o treino completo, o da tarde, na quarta-feira (11/6). Mas uma mudança de última hora na programação adiou a experiência – eu e outro “novato”(um tal de Josuel!) ficamos só na expectativa.

Mas o dia D que virou véspera já foi muito legal. Vesti o uniforme do time. É uma sensação bacana, quando você vence a barreira do imaginário. De repente, eu era um dos guerreiros. Aquele dragão estampado no peito, as marcas que mantêm o projeto mais vivo do que nunca, o objeto de desejo de todo fã de basquete era meu manto por algumas horas. A molecada do sub-17, recém-chegada de Lins, onde venceram os Jogos Regionais, estava lá batendo bola. Fui lá também, soltar o braço, voltar a arremessar depois de quase seis anos. De repente vem a primeira orientação do professor. Aí chega o segundo momento especial. Guerrinha explica a mecânica do arremesso e chuta umas três bolas. Só chuá. Ver em ação o ex-armador da Seleção, que não é muito de bater bola atualmente, foi uma viagem no tempo.

A ansiedade de estar entre os guerreiros, adentrar sua rotina, seguiu até a manhã de quinta. Novamente vesti o manto do Dragão e fui à quadra. Entre olhares curiosos dos jogadores de ver um baixinho de 1,75m entrando em quadra, Guerrinha avisou o que eu estava fazendo ali e orientou como seria o treinamento. Em resumo:

“Estamos na segunda semana de treinamento, 80% é dedicado à parte física, mas não é só academia, musculação, resistência. Nesse treinamento de uma hora de arremesso direcionado, a parte técnica – arremesso, drible e passe – é desenvolvida para trabalhar a parte física de uma forma bem intensa”, explicou o treinador. De fato, o corpo é exigido. O simples ato de ficar embaixo da cesta para pegar a bola e devolver ao colega que está arremessando não pode ser banal. O comandante exige agilidade e para aproveitar para aprimorar o passe. Comecei fazendo dupla com Fernando Fischer, na reta final de recuperação do tornozelo, que ainda não está arremessando em movimento. O índice de acerto do capitão é gigantesco.

“Já sei se a bola vai cair ou não quando sai da minha mão”, comenta o camisa 14. Ele incentivou o novato, mas também se divertiu com os air balls que cometi no início… Por perto, Pilar já chegou cornetando: “Quero ver como vai sair essa matéria!”, achando interessante o crítico estar ali expondo seu “talento”.

Quando a atividade ficou complexa, Guerrinha me mandou descansar. A pausa rendeu uma boa conversa com o técnico, que resultou numa parada para chamar a atenção do elenco. Ele pegou muitos de surpresa perguntando quantas bolas haviam chutado e quantas acertado – um hábito que ele lembrou ser do astro Oscar. Os irmãos Fischer contabilizam seus acertos.

Papo com o professor (foto de Cristiano Zanardi/Agência Bom Dia)

“Tentei passar para eles uma forma de pensar no arremesso, no erro e no acerto, que envolve uma parte mental. Explicar como lidar com o erro. Não pode pensar emocionalmente com o erro. Tem que ser racionalmente: pensar na mecânica, a altura do arremesso, o spin [movimento que provoca o giro da bola ao sair da mão], a empunhadura, a posição da perna… Contar quantos arremessou, quanto acertou, e o tempo todo estar focado, ocupando a cabeça dele com esses detalhes. Pensando dessa forma, o jogador estará sendo competitivo com ele mesmo”, explicou Jorge Guerra.

Voltei aos chutes, revezando com os meninos do sub-17. Eles estão tendo uma grande oportunidade, treinando com os adultos – o papo de Gui e Ricardo Fischer com eles, ao final do treino, virá em detalhes em outra parte desta “saga”.

No final, o momento mais difícil – e mais divertido. Uma sequência muito dinâmica: dribla aqui, corre ali, recebe passe, arremessa, pega o rebote, volta para a fila, repete, cruza o fundo da quadra, passa para o colega. Virei barata tonta, zoei a rotação do exercício – obrigado pela paciência! – mas meti algumas bolas. A ponto de Guerrinha, a certa altura, provocar os atletas. “Pô, até o repórter tá acertando”. Contei umas sete bolas convertidas, quatro delas em sequência. Uma passo a frente da linha dos três, em posição diagonal à cesta. Saí suado, o joelho direito reclamando, mas uma dor de nada perto da satisfação de fazer parte daquilo.

Clique do assessor de comunicação Caio Casagrande – Guerrinha instruindo meus movimentos

E como era meu dia de atleta, até entrevistado fui! O colega Gustavo Longo, do BOM DIA, queria saber da experiência. Resumindo, além de estardo lado de dentro, o que é o mais importante, pois aprimorou meu ofício de observar e analisar o time, é inegável que ser guerreiro por um dia diminuiu aquela famosa “frustração” que todo jornalista esportivo carrega. Se um dia sonhei se um jogador profissional (de basquete, mesmo baixinho, e também de futebol, claro), posso dizer que fui. Talvez enganasse algum desavisado que adentrasse a Panela naquela manhã – mesmo que por míseros segundos!

O texto ficou longo e há muito mais a contar. Por isso dividi em partes. Na segunda, Pilar, Mosso e Guerrinha comentam a presença de um jornalista entre eles e, obviamente, repercutem meu desempenho… Na terceira, a bacana intervenção de Gui e Ricardo Fischer falando aos jovens. Na quarta, eu faço um apanhado das coisas relevantes que não tiver citado ainda. Espero que tenha gostado até aqui.

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

8 respostas em “Bauru Basket: guerreiro por um dia (parte 1)”

Muito legal, Fernando!!! Com certeza é uma experiência muito rica e rara!! Não se importe com o texto longo, ele ficou ótimo para quem sempre teve essa curiosidade de saber como é estar do outro lado, dentro da quadra! Valeu!

Cara, que orgulho de você! Pra quem curte esporte, pra que tem esse amor inexplicável, é um sonho realizado! Parabéns, amigo! Sou cada vez mais seu fã.

Parabens Beaga, fala serio que privilegio heim, treinar com os guerreiros e com um dos melhores te nicos do pais neh, ele sabe muito de basquete neh.

Fernando, continue investindo, pois dentro do uniforme você leva o maior jeitão.
Frustrações a parte, não se iluda com a atuação, já que o elenco está fechado, ok?? rs.
Sucesso, parabéns pela matéria e quando quiser treinar novamete, aproveite o estado ZEN do professor Jorge Guerra, pois com o Magnano o negócio é mais complicado!! rs.
Abraço.

Caraca! Que demais, BH! Imagino como deve ter sido bacana a experiência, ainda mais pra um repórter esportivo como você! Adorei o texto e vou ficar na espera dos próximos.

Sensacional, BH! Muito orgulho de ser colega de um profissional como você e, mais do que isso, de ser seu amigo. Parabéns pela pauta, pela iniciativa e pela merecida repercussão em outros veículos. Pra não perder o costume, uma cor(n)etada: que linguinha pra fora foi aquela na foto do Bom Dia, minino? Saudade, meu caro. E parabéns por tudo.

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